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Quem escolhe o seu filme? Que Cinema é Esse?

A qual filme você assistirá hoje?

Para o espectador responder essa pergunta é relativamente fácil. Mas para saber como a escolha é possível, é preciso entender como os filmes são distribuídos, como se dá a divisão das cópias, a definição entre legendado ou dublado, a quantidade de salas e a definição de horários. E isso não é nada simples. Trata-se de um processo complexo, um jogo em que os interesses das distribuidoras, dos exibidores e do público precisam ser levados em conta.

Para entender um pouco mais, conversamos com os responsáveis pelos departamentos de programação de duas das maiores redes exibidoras do Brasil: Rosa Vicente, da Cinépolis, e Lúcio Otoni, da Cineart.

Quem escolhe?

Quantas vezes você já foi a um cinema e percebeu que não tinha lá muita opção, pois mais da metade das salas exibiam apenas um filme? Aquela sensação de que as nossas escolhas são, na verdade, impostas pela programação. Segundo Rosa, a definição do número de salas está direcionada ao atendimento da demanda de público diante da perspectiva de sucesso de determinado lançamento. Relação simples: maior expectativa de público = necessidade de mais lugares disponíveis = mais salas.

Isso também define o tempo de permanência: “Um filme que é muito procurado pelo público ficará por semanas em cartaz. O filme pouco prestigiado pelo público sairá de cartaz em uma ou duas semanas”, afirma Rosa. Ou seja, segundo os departamentos de programação, é o público quem manda. “Os resultados do público dos cinemas no fim de semana são o que define se o filme permanece ou não na programação”, explica a gerente de programação da Cinépolis.

Mas Otoni também chama atenção ao fato de que nesta conta não entra só a análise de frequência média de público. A negociação do prazo de permanência de exibição de determinado título junto aos distribuidores também é fundamental. Ele explica que “os filmes são escolhidos por nosso departamento de programação e as condições e prazos de exibição são negociadas com as distribuidoras/estúdios”. Cada filme, uma negociação diferente. “No geral os filmes são locados pelo exibidor junto ao distribuidor”, explica.

Segundo Rosa, “as distribuidoras enviam um line-up, com os filmes e datas de estreia. Na semana antes do lançamento enviam as condições dos filmes e uma solicitação de circuito. O filme é escolhido seguindo os seguintes critérios: perfil do filme x perfil do cinema ou circuito solicitado, expectativa de resultado/performance do filme, se tem ou não campanha de divulgação e marketing, se as condições estão dentro da expectativa de resultados”.

OK. Mas e a divisão financeira? Quem fica com o dinheiro do nosso ingresso? “A bilheteria é dividida entre exibidor e distribuidor, conforme as condições do filme enviadas pelo distribuidor. São negociados percentuais, que variam de filme para filme”, esclarece a gerente.

Quer dizer que não adianta reclamar com o gerente sobre os filmes que estão sendo exibidos naquele cinema que gostamos de frequentar? Segundo os responsáveis pela programação dos dois complexos exibidores, o gerente, apesar de não definir diretamente quais filmes serão exibidos, atua junto ao departamento de programação fornecendo informações quanto ao retorno de público e preferência de horários.

Dublado ou legendado?

É igualmente importante saber que cada cinema recebe os filmes conforme o perfil daquele complexo de acordo com o histórico montado a partir das escolhas do público frequentador. Nessa conta entra, por exemplo, como cada rede prioriza o envio de cópias legendadas ou dubladas.

Segundo a gerente de programação da Cinépolis, há cinemas com 100% dos filmes legendados (exceção a filmes infantis) e outros em que 70 a 80% das cópias são dubladas. Isso não se dá, segundo os entrevistados, pela imposição da distribuidora, mas, sim, pela própria demanda, histórico e perfil do público, condicionada, obviamente, à disponibilidade dessa opção: “O distribuidor define se vai lançar um filme com cópias somente legendadas ou se vai ter a versão dublada, e oferece aos exibidores para que o programador defina as versões que serão exibidas em cada cinema”, explica Rosa. Otoni concorda: “Priorizamos a versão que nosso público solicita em sua maioria”.

Em outras palavras, isso significa que, sim, adianta boicotar o filme dublado, caso você não goste desta versão.

Mas é verdade que o número de dublados aumentou?

Segundo Vicente, sim, é verdade: “Realmente houve um aumento do público das cópias dubladas no Brasil, devido principalmente ao aumento do poder de compra das classes C e D. Em contrapartida, também estão sendo construídos mais shoppings, e consequentemente cinemas, nas áreas mais populares. Nada mais natural que a demanda de cópias dubladas aumente. Este aumento é medido com os números/resultados dos cinemas, que apontam cada vez mais um aumento de demanda para as cópias dubladas”.

Sendo assim, uma vez decidido o envio da uma cópia dublada ou legendada, essa opção permanecerá por toda a semana, visto que a película permite apenas uma opção. Mas e quanto à nova tecnologia que vem invadindo as salas de cinema através de projetores digitais? Muda alguma coisa?

“Alguns HDs dos filmes digitais vêm com as duas versões, dublada e legendada. Outras vezes, só está disponível a versão legendada. Quando estão disponíveis as duas versões, o programador define qual delas tem mais o perfil do público do cinema. Às vezes podem ser exibidas as duas versões, caso o público do cinema seja mais variado. A definição de dublado ou legendado leva em conta o público do cinema e a sugestão do gerente. Ela é definida durante a preparação da grade de programação”, diz Vicente.

Ou seja, caso você queira, como cliente consumidor, cinéfilo e amante da sétima arte, influenciar de alguma forma o quê e como será exibido os filmes em seu cinema preferido, procure o gerente da unidade em questão. Ajude a definir o perfil e o gosto do público através de uma análise mais complexa, qualitativa, não apenas numérica como a que se dá a partir da venda de ingressos.
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