Enquanto aguardamos a já adiada estreia de Mapas para as Estrelas (2014) nos cinemas brasileiros, vamos descobrir por onde anda e relembrar os feitos e as interações entre o elenco de Crash – Estranhos Prazeres (1996), um dos mais controversos momentos da filmografia do diretor David Cronenberg.
James Spader
Entre os muitos “bicos” que “Jimmy” Spader fazia para se virar na adolescência – de motorista a instrutor de yoga – ele era zelador de um estúdio na Times Square quando conseguiu uma ponta em Amor Sem Fim (1981), de Franco Zeffirelli. O ator ficou um tempo na TV até Juventude Perdida (1985) e continuou em papéis ainda limitados em Abaixo de Zero (1987), A Garota de Rosa-Shocking (1986), Presente de Grego (1987), Wall Street - Poder e Cobiça (1987) e A Volta de Jack o Estripador (1988). A modesta carreira de Spader ficou para trás a partir de Sexo, Mentiras e Videotape (1989), de Steven Soderbergh, que lhe garantiu o prêmio de Melhor Ator em Cannes. Após isso, Spader apareceu em Loucos de Paixão (1990), com Susan Sarandon, A Um Passo do Poder (1991), com John Cusack, A Mulher dos Meus Sonhos (1993), de Nicholas Kazan, e Lobo (1994), de Mike Nichols.
Spader adora interpretar anti-heróis, despreza produções que se levam muito a sério e nunca teve problemas em admitir que aceitou fazer alguns filmes por dinheiro, como o sci-fi Stargate - A Chave para o Futuro da Humanidade (1994). Ao contrário, orgulha-se de Crash: “Eu tenho minhas sensibilidades artísticas e Crash as complementa. É um filme desafiador, provocativo e perturbador feito para adultos. Não o considero um esqueleto no armário”.
Spader rodou Acerto de Contas (1997) com a colega de Crash Deborah Kara Unger e trabalhou com grandes nomes como o diretor Sidney Lumet e a atriz Anne Bancroft em O Impaciente (1997), mesmo ano em que participou de um episódio de Seinfeld. Seu próximo ponto alto foi Secretária (2002), com Maggie Gyllenhaal, em que fez Mr. Grey (sadomasoquista muito mais interessante e autêntico do que, convenhamos, outro famoso Grey...). Em Perseguição Implacável (2002) e Contato Alienígena (2003), Spader contracenou com Leslie Stefanson, atual parceira e mãe de seu terceiro filho.
Desde então, Spader migrou para uma confortável carreira televisiva, principalmente com o personagem Alan Shore nas séries O Desafio e Justiça Sem Limites, atuação dupla que lhe garantiu um prêmio no Emmy Awards. Esteve também em The Office e atualmente protagoniza The Blacklist, sendo nomeado para o Globo de Ouro 2015. Nesse meio tempo, participou de Lincoln (2012), de Steven Spielberg, e será visto em breve em Dívida de Honra (2014), faroeste escrito, dirigido e atuado por Tommy Lee Jones. Neste ano podemos esperar ainda ouvir a voz de Spader no vilão de Vingadores: Era de Ultron (2015).
Holly Hunter
Holly Hunter estreou no cinema com apenas uma fala no terror Chamas da Morte (1981), antes de atuar na peça “Crimes do Coração” da dramaturga Beth Henley – as duas se conheceram no elevador quando Holly chegou a Nova York, recém-formada em atuação, trabalharam juntas em Armas e Amores (1984) e mais tarde, Holly faria Tudo por Uma Ilusão (1989), roteirizado por Beth. Os irmãos Coen a assistiram em cartaz e a convidaram para Gosto de Sangue (1984), porém ela sugeriu a colega de quarto Frances McDormand em seu lugar. Sua voz pode ser ouvida no filme em uma mensagem gravada na secretária eletrônica. Alguns anos depois, os cineastas lhe deram o papel principal em Arizona Nunca Mais (1987), com Nicolas Cage e McDormand, então casada com Joel Coen.
Depois do premiado Nos Bastidores da Notícia (1987), Holly atuou com Richard Dreyfuss em Além da Eternidade (1989), de Spielberg – despedida da diva Audrey Hepburn, que doou o salário milionário para a UNICEF – e na comédia romântica Meu Querido Intruso (1991). O Oscar de Melhor Atriz em O Piano (1993) ficou com ela e Jane Campion ganhou pelo Melhor Roteiro Original. No mesmo ano, em proeza restrita a um pequeno grupo de atores, Hunter foi indicada ainda como atriz coadjuvante por A Firma (1993), mas o prêmio foi entregue a sua filha em O Piano, Anna Paquin, estreante nas telas – até o momento a garotinha de 9 anos só havia dublado a animação O Castelo no Céu (1986), de Miyazaki.
Hunter foi dirigida por Jodie Foster – já havia atuado com ela em Nasce uma Cantora, Morre um Sonho (1983) – em Feriados em Família (1995), com Anne Bancroft e Robert Downey Jr. Em 1996, realizou o desejo de trabalhar com Cronenberg em Crash e em seguida fez Por uma Vida Menos Ordinária (1997). Foi considerada para Pulp Fiction (1994), Beleza Americana (1999) e recusou o papel de Deus em Dogma (1999) no ano em que rodou Jesus' Son (1999), com Billy Crudup, e foi jurada em Cannes. Ela reencontrou os Coen em E Aí, Meu Irmão, Cadê Você? (2000) – o nome parece familiar? – com George Clooney.
Holly Hunter foi outra vez nomeada como atriz coadjuvante por Aos Treze (2003), fez A Agenda Secreta do Meu Namorado (2004), dublou a animação Os Incríveis (2004) e contracenou com Robin Williams em Quem é Morto Sempre Aparece (2005). Divorciada, namora o ator Gordon MacDonald, pai de seus gêmeos nascidos em 2006. Em 2008, enquanto protagonizava a série Saving Grace, ganhou uma estrela na Calçada da Fama em Hollywood. Mais recentemente, rodou Won't Back Down (2012), com Maggie Gyllenhaal, Paradise (2013), de Diablo Cody, e Manglehorn (2014), com Al Pacino. Ela pode ser vista nas minisséries Top of the Lake (2013) e Bonnie and Clyde (2013), fará Batman e Superman: Alvorecer da Justiça (2016) e pode estar em um projeto ainda sem título de Terrence Malick.
Elias Koteas
Entre os primeiros filmes estrelados por Koteas, geralmente em posição de coadjuvante, estão dois do Coppola: Jardins de Pedra (1987) e Tucker - Um Homem E Seu Sonho (1988). Antes de trabalhar com o grande diretor ele realizou um papel não creditado no indicado ao Oscar Atlantic City (1980) e teve maior destaque em Alguém Muito Especial (1987). No início dos anos 90, Koteas viveu o justiceiro Casey Jones no primeiro e no terceiro filmes da franquia As Tartarugas Ninjas e trabalhou com o diretor Michael Cimino em Horas de Desespero (1990). Conseguiu um papel alto em Quase Um Anjo (1990) e seu segundo protagonista – o primeiro foi em Malarek (1988) – em O Corretor (1991), filme de Atom Egoyan que deu início a outras parcerias com o diretor canadense em Exótica (1994), Ararat (2002) e o recente Sem Evidências (2013). Mais tarde, Koteas protagonizou o segundo filme estrelado por Angelina Jolie, o sci-fi Cyborg 2: Glass Shadow (1993), um dos projetos de que se arrependeu. Fez ainda Anjos Rebeldes (1995), horror com Christopher Walken, Gattaca - Experiência Genética (1997) e Além da Linha Vermelha (1998).
Koteas contracenou com Al Pacino em Simone (2002) antes de passar a fazer pontas ou papéis maiores em séries conceituadas como Família Soprano, Traffic, Dr. House, CSI: NY, Saving Grace com a colega de Crash Holly Hunter, Combat Hospital (2011) com Deborah Kara Unger, The Killing (2013) e a atual Chicago P.D., além de ter dublado American Dad!. Ele trabalhou ainda com David Fincher em Zodíaco (2007) e O Curioso Caso de Benjamin Button (2008) e com Martin Scorsese em Ilha do Medo (2010). Outros títulos em sua filmografia são os filmes de terror Deixe-me Entrar (2010) e A Casa dos Sonhos (2011), além de Atirador (2007), O Assassino em Mim (2010), Truque de Mestre (2013) e a comédia – sem estreia por aqui – Jake Squared (2013), em que foi protagonista.
Deborah Kara Unger
Mesmo sem atingir efetivamente um grande sucesso, não podemos negar que Deborah Kara Unger teve uma carreira diversificada. Depois das minisséries Bangkok Hilton (1989), com Nicole Kidman, e Hotel Room (1993), dirigida pelo monstro (no bom sentido) David Lynch, fez Highlander 3 - O Feiticeiro (1994). Em Acerto de Contas (1997), trabalhou novamente com James Spader, seu colega em Crash. Ela fraturou um osso do pé ao pular em uma caçamba de lixo com ratos de verdade em Vidas em Jogo (1997), de David Fincher, fez Ava Gardner em The Rat Pack (1998) e participou de Aos Treze (2003) ao lado de outra colega de Crash, Holly Hunter. No mesmo ano, esteve no suspense Medo X (2003), com John Turturro, e em seguida com Scarlett Johansson e John Travolta no drama Uma Canção de Amor para Bobby Long (2004). Em 2005, fez Vozes do Além com Michael Keaton e uma mãe em clipe do Green Day.
Além disso, contracenou com Al Pacino em 88 Minutos (2007); esteve em O Caminho (2010), de Emilio Estevez (leia mais sobre ele aqui); no suspense Messages Deleted (2010); no húngaro A halálba táncoltatott leány (2011); no curta alemão Revertigo (2011); em Jogos do Crime (2012), com Samuel L. Jackson; em Busca Pela Verdade (2012), ação com Andy Garcia; e no peruano 186 Dollars to Freedom (2012). Nesse meio tempo Deborah participou da série de guerra Combat Hospital (2011), com Elias Koteas, de Crash. Nos últimos anos, repetiu a personagem de Terror em Silent Hill (2006) em Silent Hill: Revelação 3D (2012), dublou jogos do Star Wars e integra novas produções obscuras como o filme para a TV Overdue (2015).
Rosana Arquette
Rosana Arquette passou os primeiros anos de sua carreira em séries e filmes para a TV, com exceção de pequenos papéis em comédias até o grande sucesso Procura-se Susan Desesperadamente (1985), que também marcou o início da fama de Madonna. No mesmo ano fez um papel menor em Silverado (1985), seguido pelo destaque em Depois de Horas (1985), de Martin Scorsese. Ela trabalharia com o diretor novamente no ótimo seguimento de Contos de Nova York (1989): "Life Lessons", com Nick Nolte. Antes disso, atuou com Jeff Bridges em um dos últimos filmes do Hal Ashby, Morrer Mil Vezes (1986), e fez Imensidão Azul (1988), de Luc Besson.
Nos anos 90, Rosana protagonizou Doce Vingança (1990), o romance As Loucuras de Wendy (1990) e dividiu a tela com o camaleão David Bowie em Romance por Interesse (1991). Fez também a ação com Jean-Claude Van Damme Vencer ou Morrer (1993), o policial Risco de Vida (1993) e uma junkie em Pulp Fiction: Tempo de Violência (1994), de Tarantino. Ela filmou ao mesmo tempo Crash e Pescando Confusão (1997), comédia com Joe Pesci.
Arquette foi requisitada em produções como Meu Vizinho Mafioso (2000), Sensual Demais (2000), em que ficou ineditamente morena, a aventura Joe Sujo (2001), a comédia com Charlie Sheen O Segredo do Sucesso (2001), entre outras pouco conhecidas por aqui. Os anos seguintes remetem ao início da carreira na televisão, quando fez pontas em várias séries como Will & Grace, Lei e Ordem, Grey's Anatomy e Girls, com uma participação mais massiva em The L Word, What About Brian e na recente Ray Donovan.
Rosana Arquette dublou a animação Batalha por T.E.R.A (2007) e apareceu ainda em American Pie Apresenta: O Livro do Amor (2009), Tráfico de Órgãos (2010), no sci-fi O Abrigo (2011), A Grande Escolha (2014), com Kevin Costner, e no interessante Asthma (2014), com Krysten Ritter, narrado por Nick Nolte. Ela promete ter relativa importância nas produções Kill Your Friend, Lovesong, Frank & Lola e no suspense Falsely Accused. Além de atriz, Rosana já dirigiu dois documentários e está trabalhando em um projeto sem título anunciado para este ano. Recentemente, foi vista na cerimônia do Oscar 2015 com a irmã Patricia Arquette, premiada como melhor atriz coadjuvante por Boyhood: Da Infância à Juventude (2014).