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MAGNÓLIA Cineclipado

Divulgação.

Esta edição um pouco diferente do Cineclipado funciona como uma espécie de complemento ao PODCAST #135: Grandes Filmes: MAGNÓLIA em que você poderá descobrir curiosidades sobre a fantástica trilha sonora, mais um diferencial da obra do diretor Paul Thomas Anderson que certamente merece uma tempestade de aplausos.

AVISO: esta coluna contém spoilers.

Ao som dos discos de sua amiga Aimee Mann, Paul Thomas Anderson escreveu a maior parte do roteiro de Magnólia (1999) durante as duas semanas que ficou confinado na cabana de William H. Macy por medo de uma cobra que viu nos arredores. Macy mais tarde viveria no filme o atormentado Donnie Smith, em cujo carro só toca a música pop motivacional "Dreams".

Magnólia se inicia com uma série de casos policiais que se revelam muito além de simples coincidências, seguida pela dinâmica apresentação dos personagens tão sugados por seus problemas, mesmo interligados uns aos outros pela envolvente trama. Nada melhor que o cover de "One" (“is the loneliness number”…), de Harry Nilsson, cantado por Aimee Mann, para transmitir desde a abertura essa solidão compartilhada.

Somos então apresentados ao policial Jim Kurring, interpretado por John C. Reilly. Em uma de suas missões para cumprir a lei, Jim faz uma visita a Claudia (Melora Walters), que se droga freneticamente enquanto "Momentum" explode no volume mais alto do som. A música mais hiperativa da cantora pode ser conferida no teaser trailer editado pelo diretor.

Por "Save me", uma das canções escritas especialmente para Magnólia e ouvida pouco antes dos créditos finais, Aimee recebeu seis nomeações, entre elas para o Oscar, o Globo de Ouro e o Grammy. Anderson dirigiu o clipe, no qual a cantora conforta com sua voz, como um anjo invisível, os piores momentos dos nossos heróis. Já as primeiras frases de "Deathly" coincidem com uma fala de Claudia para Jim: “Agora que te encontrei, você se importaria se não nos víssemos mais?”. E "Wise Up" – também trilha de Jerry Maguire: A Grande Virada (1996) – cria o momento em que o filme se torna quase um musical e todos os personagens supostamente cantam, emulando um pensamento conjunto.

Outras canções de Aimee Mann presentes oficialmente na trilha de Magnólia são "Build That Wall", "Driving Sideways", "You Do" e a versão instrumental de "Nothing Is Good Enough". As três últimas, além de "Save Me", tornaram-se parte do álbum Bachelor No. 2 (2000), de Mann, sendo a faixa "Red Vines" dedicada ao diretor. A relação profissional dos dois datava de Jogada de Risco (1996), em que é possível ouvir "Christmastime", e Boogie Nights: Prazer Sem Limites (1997), que apresenta "Voices Carry".

Podemos conferir seu trabalho também nas séries Buffy: A Caça-Vampiros ("Pavlov's Bell"), Girls ("How Am I Different") e em outras produções como Segundas Intenções ("You Could Make a Killing"). Aimee atuou ainda como uma niilista em O Grande Lebowski (1998), dos irmãos Coen, e ajudou um roqueiro em crise em Pleased to Meet Me (2013).

Divulgação.

Estamos de volta para o segundo round da trilha, com duas sensacionais músicas do Supertramp, usadas em momentos-chave: "Goodbye Stranger" (mais tarde retomada na série Supernatural) e "The Logical Song", que com cuidadosas repetições e adjetivos rimados constrói um verdadeiro deboche ao insensível e pragmático sistema educacional.

Além de produtor de Aimee Mann e responsável pela trilha de Embriagado de Amor (2002), Jon Brion deixou uma belíssima composição para Magnólia. A base instrumental complementa outras escolhas sonoras clássicas que só adicionam ao clima do filme: o famoso "Bolero" de Ravel, Brahms, a vintage "Whispering", além do trecho da ópera "Carmen" cantada por Stanley no bizarro quiz televisivo What Do Kids Know?.

"Also Sprach Zarathustra", de Strauss, traz grandiosamente ao palco Frank, o personagem machista de Tom Cruise, em referência sonora a 2001: Uma Odisseia no Espaço (1968), do mestre Stanley Kubrick, que no mesmo ano encerrou sua trajetória com Cruise em De olhos bem Fechados (1999).

Faixas bônus:

Paul Thomas Anderson dirigiu, além dos filmes citados nesta coluna, Sangue Negro (2007), O Mestre (2012) e – finalmente nos cinemas brasileiros – Vício Inerente (2014). Nenhuma das trilhas deixa barato, com nomes de peso como Jonny Greenwood (do Radiohead) e Supergrass.

- O quadro que aparece na casa de Claudia com a frase "but it did happen" foi pintado pela inspirada e prodígio cantora Fiona Apple, namorada de PTA na época, e de quem ele dirigiu vários videoclipes.

- Durante as gravações de Boogie Nights, PTA dirigiu o metalinguístico clipe de “Try”, de Michael Penn, marido de Aimee. Philip Seymour Hoffman pode ser visto em uma participação especial.

A banda de metal progressivo Dream Theather utilizou as falas carregadas de arrependimento ("The goddamn regret!") de Earl Partridge (derradeiro suspiro de Jason Robards nas telas) – além de alguns gritos de ódio de seu filho Frank – na música “Honor thy Father”. Escrita pelo baterista Mike Portnoy, essa agressiva “homenagem” ao padrasto do compositor utiliza durante o solo (por volta dos cinco minutos de duração) trechos de diálogos dos filmes Caminhos Violentos (1986), Gente Como a Gente (1980) e Os Excêntricos Tenenbaums (2001). A mais marcante entre essas referências cinematográficas remete a uma recorrência de Magnólia, a herança de sofrimento inevitavelmente deixada para os filhos, além da constatação dos impiedosos ciclos naturais e dolorosas repetições da vida.

Sobre o autor:

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