A indicação ao Oscar de melhor animação “O Menino e o Mundo", do diretor paulista Alê Abreu, fez com que a atenção se voltasse novamente para o mercado de animação digital no Brasil.
Durante anos essa indústria mostra crescimento no país, bem como os cursos de animação, efeitos visuais e games.
A indústria criativa cresceu 90% entre 2004 e 2013, segundo a Firjan e de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o setor possui atualmente 239 mil empresas ativas e emprega 1,7 milhão de profissionais nas áreas de design, publicidade, cinema, tecnologia, animação, games, entre outras.
Pensando no mercado, profissionais, tendências e outros assuntos, conversamos com o coordenador de ensino da escola de arte digital SAGA, Raul Sales, para nos dar um panorama do atual cenário no Brasil.
1- Qual a sua percepção para esse mercado de histórias que migram de uma mídia para a outra, explorando universos expandidos, spin off, etc, dentro das diversas ramificações da indústria criativa?
Raul Sales: Os spin-off se tornaram uma tendência extremamente lucrativa. Com o sucesso obtido em determinados segmentos obtém-se também em outros, como é o caso dos quadrinhos levados ao cinema, dos filmes levados aos games e vice-versa. A utilização de elementos secundários de obras e títulos também se tornou uma constante no mercado atual, e acredito que seja uma tendência que se fortalecerá ainda mais.
2- Quem deseja iniciar na indústria criativa - games, animação e efeitos visuais - qual é a sua recomendação dos primeiros passos para se tornar um profissional?
Raul: O primeiro passo é a capacitação técnica. Preferencialmente, de forma multidisciplinar, buscando o máximo de informações correlacionadas, permitindo assim, ter uma visão mais ampla do mercado e uma variedade de possibilidades de atuação.
3- Quanto tempo em média o indivíduo irá se dedicar para se tornar um profissional desejado pelo mercado?
Raul: Depende de fatores como afinidade natural com a atividade, acesso diferenciado ao conteúdo, entre outros. Podemos dizer que não existe um cálculo que defina o parâmetro no mercado de economia criativa. Assim como em toda e qualquer profissão, requer dedicação contínua e aprimoramento das técnicas dentro da atividade escolhida.
4- Qual é sua recomendação para quem já produz algum material criativo e deseja se inserir na indústria?
Raul: É essencial a criação de um portfólio com suas principais produções e divulgá-las nas redes sociais e sites de exibição de portfólio.
5- Qual a principal característica que difere um profissional brasileiro de outros?
Raul: Os profissionais estrangeiros costumam dizer que o brasileiro é versátil, pois consegue obter bons resultados com recursos limitados.
6- Dentro deste mercado criativo, quais serão as "profissões do futuro/tendência"?
Raul: O mercado atual carece de bons animadores, tantos 2D quanto 3D. Percebemos um aumento no número de modeladores 3D, impulsionado pelo mercado de games, mas ainda é difícil encontrar profissionais especializados em animação.
Por outro lado, um mercado que vem crescendo bastante no mundo todo é o de impressões 3D, abrindo um importante caminho para profissionais com capacitação em modelagem tridimensional.
7- Muitos indivíduos apresentam interesse ou talento nato para a indústria criativa. Como você tem percebido a recepção dos pais de alguns alunos em relação à essas novas escolhas?
Raul: Com o crescimento da economia criativa percebemos que os pais começaram a enxergar uma possibilidade viável de futuro profissional para os filhos, tanto como atividade direta como forma auxiliar em alguma atividade da economia tradicional.
8- Para você há algum reflexo da crise neste mercado?
Raul: Indiscutivelmente sim, e de forma muito positiva. Uma das características mais marcantes da economia criativa é sua curva crescente contrária a da economia tradicional. Tal fato se dá pelo formato “aberto” que atividades da economia criativa apresentam, onde o valor de um serviço possui características adaptáveis às mais diferentes variáveis, como criatividade e inovação.
9- Quais os cursos relacionados ao mercado criativo há maior procura na SAGA?
Raul: Todos os cursos da SAGA são relacionados a segmentos diferentes da economia criativa, como o curso PlayGame, que é voltado a produção de jogos digitais tridimensionais; o curso Marquise, que capacita o aluno à criação de maquetes virtuais, e o curso START, que é sem dúvida o mais procurado por sua característica abrangente, ofertando aos alunos acessos às artes gráficas, game 2D, modelagem e animação 3D, composição de vídeo e efeitos.
10- Qual a perspectiva que os brasileiros poderão esperar vinda dessa indústria?
Raul: A indústria criativa vem se consolidando no Brasil e ao redor do mundo, criando novas oportunidades por meio de uma forma diferenciada de enxergar soluções para diferentes tipos de demanda. Estamos bem otimistas com o setor, apesar da crise que o país vive.
A SAGA é uma escola focada em cursos de desenvolvimento de jogos, computação gráfica e arte digital. Foi fundada em 2003, a escola é pioneira no ensino de desenvolvimento de jogos e referência em cursos de arte digital e animação, com mais de 12 mil alunos em 8 escolas.
O “Menino e o Mundo” é uma animação de 2014, do diretor Alê Abreu e o personagem principal é um menino que deixa a aldeia onde vive em busca do seu pai. Nessa jornada encontra seres estranhos e descobre a desigualdade social e outros males devido ao processo de automação das cidades.
Toda a criação dos cenários e personagens foi feita com lápis de cor, giz de cera,colagem e pinturas.
Além da indicação para o Oscar, o filme já ganhou os prêmios Cristal e Grande Prêmio do Público da Annecy, Melhor filme de Animação, Melhor filme infantil e Roteiro original pelo Grande Prêmio Brasileiro de Cinema e Melhor Animação independente pelo Annie Awards.