Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
20/04/2000 | 17/03/2000 | 4 / 5 | 4 / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
131 minuto(s) |
Dirigido por Steven Soderbergh. Com: Julia Roberts, Albert Finney, Aaron Eckhart, Peter Coyote, Marg Helgenberger e Cherry Jones.
É impressionante a capacidade que Meryl Streep tem de se transformar completamente a cada novo papel que interpreta. Do sotaque à cor do cabelo, ela cria personagens absolutamente reais e complexas, sempre surpreendendo o espectador com seus trabalhos impecáveis. Em contrapartida, Julia Roberts geralmente aparece como si mesma em seus filmes, raramente se dedicando à criações mais profundas (duas exceções podem ser vistas em Flores de Aço e O Segredo de Mary Reilly). Não que seja má atriz, já que geralmente desempenha bem suas funções. Ela apenas não consegue deixar de ser... Julia Roberts.
Pois em Erin Brockovich a atriz atinge um novo patamar em sua carreira ao personificar com extrema competência uma mulher determinada, vulgar, inteligente e - acima de tudo - comum. Sim, comum: apesar das roupas provocantes, Brockovich é uma mulher pobre e desempregada que luta para manter seus três filhos pequenos. E o incrível é que Roberts realmente consegue nos fazer esquecer de sua aura de `estrela de cinema` e acreditar que seja, de fato, alguém com sérias dificuldades financeiras.
Baseado em uma história real, o filme gira em torno de uma jovem e bela mulher, Erin Brockovich, que, depois de perder um processo na justiça contra um médico que bateu em seu carro, acaba indo trabalhar para Ed Masry (Finney), o advogado que a representou. Já em seu novo emprego, ela acaba encontrando fichas médicas arquivadas na pasta referente a um litígio imobiliário e, curiosa, convence Masry a deixá-la investigar o caso - o que a leva a descobrir uma surpreendente conspiração, comandada por uma poderosa companhia, para ocultar a contaminação de um lençol d`água que abastecia uma pequena comunidade americana.
Dirigido por Steven Soderbergh (sexo, mentiras e videotape), Erin Brockovich já começa com uma impressionante seqüência onde vemos Julia Roberts entrar e partir em um carro que se acidentará poucos metros depois. Aparentemente sem cortes (na verdade, duas tomadas diferentes foram combinadas na sala de edição), a cena surpreende pela simplicidade e eficiência - dois adjetivos comuns na carreira de Soderbergh, um destes cineastas que procuram contar suas histórias sem invencionismos baratos, permitindo sempre que a trama flua sem grandes interferências por parte da direção. Enquanto isso, os cenários planejados por Christa Munro transmitem de forma eficaz a realidade vivida pelos habitantes da pequena Hinkley, além de estabelecerem corretamente o contraste existente entre o humilde escritório de Ed Masry e as suntuosas instalações de Kurt Potter (Coyote) - algo fundamental para que possamos compreender a intimidação que este exerce sobre aquele.
Mas não há como escapar do fato de que este filme pertence mesmo a Julia Roberts: sua atuação vibrante e convincente acaba levando o espectador a acreditar que realmente conhece a verdadeira Erin Brockovich (que, aliás, faz uma ponta como a garçonete que aparece no início da história). Além disso, a atriz ainda protagoniza alguns momentos comoventes, como aquele em que ouve pelo telefone a notícia de que sua filha caçula aprendeu a falar sua primeira palavra. Para completar, a química entre sua personagem e o advogado vivido por Albert Finney (sempre soberbo) é perfeita, acentuando o dinamismo da trama. Cabe dizer, também, que os figurinos criados por Jeffrey Kurland transmitem de forma inequívoca o estilo adotado pela vivaz Brockovich (e que, devo dizer, realçam sensualmente o belo corpo de Roberts).
No entanto, Erin Brockovich não é isento de falhas: em vários momentos, o roteiro de Susannah Grant resvala perigosamente em velhos clichês, como aquele que afirma que o herói (ou, no caso, heroína) deve sempre ser perseguido pelos vilões a fim de salientar seu despojamento. Aqui, a personagem de Roberts recebe uma ligação anônima sem o menor propósito - e que, aliás, acaba não levando a nada, sendo simplesmente esquecida pela trama. Além disso, Erin acaba se tornando relativamente antipática ao longo da história, algo perigoso para um filme que pretende justamente estabelecê-la como uma mulher digna de nossa admiração. Em certo momento, por exemplo, seu crescente distanciamento causa uma crise em seu relacionamento com o namorado (um bom desempenho de Eckhart), que ela logo esquece ao descobrir que ganhou um carro novo. Momentos depois, a moça chega a usar seus próprios filhos como forma de se aproximar de uma habitante de Hinkley a quem pretende convencer a participar do processo movido por seu escritório. Inspirador, não?
Seja como for, o fato é que Julia Roberts oferece, aqui, um de seus melhores desempenhos. Na verdade, se o filme fosse lançado no último trimestre do ano, ela provavelmente seria uma das mais cotadas para uma indicação ao Oscar - algo que agora é bastante improvável, já que os membros da Academia possuem memória curta. Esperemos, porém, que Erin Brockovich marque o início de uma nova era na vida profissional desta bela, talentosa e - até agora - mal aproveitada atriz.
19 de Abril de 2000