É incompreensível que este filme não seja citado com mais frequência quando se discute a obra de Woody Allen, já que, obra-prima inquestionável, é um de seus melhores trabalhos. Aliás, é uma pena que haja tão poucos filmes adultos (sobre e para) como este: é admirável sua complexidade ao discutir desejo, arrependimentos, a consciência do envelhecimento e da finitude e nossa capacidade de auto-ilusão. Além disso, mesmo para os padrões de Allen este é um elenco único: não só Gena Rowlands evoca de maneira magnífica o autocontrole que tanto prejudica a protagonista, mas cada membro secundário surge perfeito, de Philip Bosco a John Houseman (em seu último papel), passando por Martha Plimpton, Ian Holm e, claro, Mia Farrow. Mas é mesmo Gene Hackman quem me destrói em cada uma de suas aparições: quanta frustração por um amor que não se concretiza. Ao rever a amada anos depois (mesmo que num sonho desta), ele teme ouvi-la dizer que se arrependeu por não ficar com ele. Imaginem que coisa linda e triste: ouvi-la dizer que deveria ter ficado com ele provocaria dor em vez de júbilo. Só um artista maduro seria capaz de perceber isso. E Woody Allen, claro, percebeu. 5/5