O longa-metragem único da italiana Floria Sigismondi é, até o momento, The Runaways - Garotas do Rock (2010), também roteirizado por ela a partir da biografia de Cherie Currie (Dakota Fanning), colega de Joan Jett (Kristen Stewart) na banda só de mulheres. Mas a marca da diretora está mesmo em sua enorme e impressionante videografia, cujos momentos de destaque serão relembrados nesta edição.
Criada por sua família no Canadá, Sigismondi estudou arte, foi fotógrafa de moda e aos vinte e poucos anos passou a dirigir vários videoclipes para a produtora The Revolver Film Company, principalmente de músicos canadenses. O primeiro deles foi o sépia "This Is My Life" (1992), canção do disco de estreia da cantora de blues Rita Chiarellim, seguido por "Save Me", "The River" e "A Certain Slant of Light", do The Tea Party. Com nítidas influências do cinema mudo, o clipe monocromático de "Blue" (1995), do Harem Scarem, conta com trechos da letra inseridos como intertítulos.
Em seguida, Sigismondi saiu um pouco do circuito alternativo ao produzir algo que certamente continua apavorando muita gente: "The Beautiful People". E o pesadelo continuou em 1996 com “Tourniquet”, outra faixa do segundo disco de Marilyn Manson, Antichrist Superstar.
Inspirado pelo estilo bizarro de Sigismondi, em 1997 David Bowie encomendou "Dead Man Walking" e "Little Wonder". Em 2013, os artistas se reencontraram no semi-biográfico "The Stars (Are Out Tonight)" e no polêmico "The Next Day".
Versão perturbadora da diretora para "I've Seen It All" (2000), composta por Björk e parte da trilha sonora de Dançando no Escuro, longa de Lars von Trier que foi indicado ao Oscar por essa música
Sigismondi realizou "In My Secret Life" (2001) para a lenda viva Leonard Cohen. Qualquer semelhança com a filmografia de David Lynch não passa de mera alucinação
Para os islandeses do Sigur Rós, Floria fez "Untitled #1" (2003) e "Leaning Towards Solace" (2012), com Elle Fanning e John Hawkes. Em 2003, "Obstacle 1", do Interpol.
Sigismondi trouxe um toque de caos para o pop a partir do sombrio "Fighter" (2003), de Christina Aguilera, para quem ela voltou a criar em 2006 o circense "Hurt". Outras incursões no cenário foram "The One That Got Away" (2011) e "E.T." (2011), de Katy Perry, "Anything Could Happen" (2012), de Ellie Goulding, "Try" (2012), da P!nk, e "Mirrors" (2013), de Justin Timberlake – como não lembrar de A Dama de Shanghai (1947), de Orson Welles?
Porém, a estética peculiar da diretora sem dúvida se encaixa melhor em trabalhos como "Megalomaniac" (2004) e "Talk Shows on Mute" (2004), do Incubus, "The End of The World" (2004), um dos retornos do The Cure, "O' Sailor" (2005), da Fiona Apple, e "Supermassive Black Hole" (2006), do Muse. O estilo de Sigismondi também combina bem com três músicas das bandas de Jack White: "Blue Orchid" (2005) - White Stripes, "Broken Boy Soldier" (2006) - The Raconteurs e "Die by the Drop" (2010) - The Dead Weather.
A diretora é responsável ainda pelo curta Postmortem Bliss (2006) - uma adaptação do livro do marido Lillian Berlin, da banda Living Things - e participou de 42 One Dream Rush (2009), projeto que conta com curtas de vários cineastas como David Lynch e Harmony Korine. Ela também realizou The Take (2012) e um episódio da série de terror Hemlock Grove (2014). Por falar em Living Things, Sigismondi fez as duas versões de "Bombs Below" (2003), "I Owe..." (2004), "Bom Bom Bom" (2005), "Let It Rain" (2009), "Pollen Path" (2011), “Har Megiddo” (2011) e "Fake it Baby, Fake it" (2012), em clara alusão a Viver a Vida (1962), de Jean-Luc Godard.
Seus clipes mais recentes foram lançados em 2013 para o compositor Lawrence Rothman: "Montauk Fling", "All time Low" e "Fatal Attraction". A sempre talentosa Floria Sigismondi segue divulgando suas pinturas no Twitter e esperamos mais surpresas de sua criatividade única que ilustra o mundo da música. No cinema, ela está preparando dois projetos: The Delivery Man (2015), drama ambientado nos subúrbios surreais e artificiais de Las Vegas, e Bouncer, adaptação do faroeste em quadrinhos de Alejandro Jodorowsky e François Boucq.