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4o. Olhar de Cinema - Festival Internacional de Curitiba Assinantes

Há festivais que nascem surpreendentemente maduros.  Embora esteja apenas em sua quarta edição, o Olhar de Cinema, que ocorre em Curitiba, tem jeito e aparência de festival adulto: a organização é invejável, o cuidado com os críticos visitantes é melhor do que aquele exibido por muito evento veterano e – o mais importante – a programação de filmes traz uma coesão admirável.

Quem acompanha minhas coberturas através do Cinema em Cena, do Twitter e, recentemente, pelo Submarino, sabe que é muito difícil que as mostras contidas em festivais tragam apenas trabalhos fortes. Sempre há títulos que inspiram um “Como puderam selecionar este bagulho?” e que trazem aquela sensação de termos perdido tempo vendo uma bomba quando poderíamos ter investido em uma outra produção.

Assim, foi com agradável surpresa que, depois de assistir aos dez longas da Mostra Competitiva, percebi que todos mereciam aplausos. Sim, um ou outro se mostravam claramente inferiores aos demais, mas numa lista com tamanha qualidade, inferioridade é algo bem diferente de fracasso. Basta dizer que, na reunião que tive com meus colegas da ABRACCINE para definirmos o vencedor do prêmio da Associação, nada menos do que seis dos dez filmes figuraram na lista de possíveis vencedores (cada um fez uma relação inicial de quatro favoritos). Ao final, optamos pelo fantástico Koza, co-produção da Eslováquia e da República Tcheca, mas poderíamos ter incluído uma menção honrosa para diversos outros.

E quando você comparece a um festival com tantos filmes louváveis, a paixão é inevitável.

O melhor: além da seleção impecável da Competitiva, o Olhar de Cinema também promoveu uma retrospectiva de Jacques Tati e ofereceu também a oportunidade de revisitarmos outros clássicos na telona – e assistir na mesma noite a Playtime – Tempo de Diversão e a Sindicato de Ladrões é um daqueles prazeres cinéfilos que beiram o orgásmico. (Aliás, que sensação deliciosa ver Tati despertando gargalhadas em um cinema cheio em 2015 ou testemunhar o silêncio respeitoso e tocado da plateia diante da dolorosa conversa entre Brando e Steiger no banco de trás do táxi.)

Como se tudo isso já não fosse o suficiente, o festival ainda serviu de palco para a estreia mundial de um documentário lindíssimo que, espero, ganhará logo as telas do mundo: A Loucura Entre Nós, de Fernanda Vareille. Ao sair da sessão profundamente comovido com o que havia visto, comentei no Twitter que o filme era complexo a ponto de permitir o riso diante de seus personagens ao mesmo tempo em que nos levava a lamentar suas dores. E, de fato, além de servir como reflexão importante sobre o sistema manicomial brasileiro (dialogando, neste ponto, com o clássico Em Nome da Razão, de Helvécio Ratton), o documentário de Vareille questiona o próprio conceito de “loucura” ao apontar acertadamente que muito de nosso tratamento desumano com relação aos que rotulamos como “insanos” tem a ver com nossos próprios medos diante deste mesmo rótulo.

Só por ter me apresentado a A Loucura Entre Nós o Olhar de Cinema já merecia um beijo (e nunca lamentei tanto que festival não tivesse bochecha).

Sim, ainda acho que o sistema de distribuição de ingressos para a crítica merece ser repensado (ir até um shopping para ter o crachá perfurado e receber vouchers para então ter que ir aos cinemas é algo pouco prático), mas este é um pecado menor diante de todos os demais acertos, já que o evento ainda promove debates sobre os mais diversos temas (e tive o privilégio de participar de uma delas, “Os filmes clássicos na formação do olhar”, que gerou uma discussão interessante que se tornou ainda melhor graças à participação do público que encheu o auditório).

É uma pena, portanto, que um compromisso (o curso que dei em BH) tenha me impedido de acompanhar o Olhar de Cinema desde o começo. Em quatro dias de festival, vi 17 filmes geralmente tão bons que criaram em mim apenas a frustração por não ter podido ver mais.

Mas 2016 já está aí, não é mesmo?

Um grande abraço e bons filmes!

(P.S.: Incluo, abaixo, a relação dos vencedores do 4º. Olhar de Cinema conforme encaminhados pela excepcional assessoria de imprensa encabeçada por Carolina Bressane e Celso Sabadin:

 

Mostra Competitiva

Longa-Metragem
Prêmio Olhar de Melhor Filme (prêmio financeiro no valor de R$12.000,00); KOZA, de Ivan Ostrochovsky

Prêmio Especial do Júri: MERCURIALES, de Virgil Vernier

Prêmio de Contribuição Artística:  A PROLETARIAN WINTER’S TALE (Ein proletarisches wintermärchen), de Julian Radlmaier

Prêmio do Público: I AM THE PEOPLE (Je suis le peuple), de Anna Roussillon

Menção Honrosa: A MISTERIOSA MORTE DE PÉROLA, de Guto Parente

 

Curta-Metragem

Prêmio Olhar de Melhor Filme (prêmio financeiro no valor de R$4.000,00): A FESTA E OS CÃES, de Leonardo Mouramateus


Prêmio do Público: A FESTA E OS CÃES, de Leonardo Mouramateus

 

 

Outros Prêmios Oficiais

Longa-Metragem
Prêmio Olhares Brasil – Melhor Longa-Metragem Brasileiro da Mostra Competitiva, Outros Olhares e Novos Olhares (prêmio financeiro no valor de R$10.000,00): ELA VOLTA NA QUINTA, de André Novais Oliveira

 

Prêmio Novo Olhar – Melhor Filme da Mostra Novos Olhares: NOVA DUBAI, de Gustavo Vinagre

  

Curta Metragem
Prêmio Olhares Brasil – Melhor Curta-Metragem Brasileiro da Mostra Competitiva e Outros Olhares (prêmio financeiro no valor de R$ 3.000,00): TORÉ, de Joao Vieira Torres e Tanawi Xucuru Kariri

 

Prêmios de Parceiros

Abraccine

Criada após reuniões realizadas em 2010 nos Festivais de Cinema de Paulínia, Gramado e Brasília, a Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine) é resultado de uma iniciativa histórica, pois trata-se da primeira entidade nacional a reunir os críticos de cinema do Brasil. Oferece um prêmio ao melhor filme da mostra Competitiva | Longa.

 

Prêmio da Crítica / Abraccine:  “Koza”, de Ivan Ostrochovský.

Hors Pistes

É um evento do Centro Pompidou de curadoria de filmes de arte e de uma exposição. Seu interesse está em artistas que experimentam com narração, criam formas inovadoras e cuja obra fílmica investe em performance, arte contemporânea ou novas mídias. O júri irá premiar o melhor longa-metragem das mostras Outros Olhares e Novos Olhares, que será exibido na próxima edição do Hors Pistes, Centre Pompidou de Paris, no início do ano de 2016.

Prêmio Hors Pistes: BURN THE SEA (Brûle la mer), de Nambot Nathalie e Maki Berchache

 

Os filmes foram escolhidos pelos seguintes júris:

 Mostra Competitiva: Eva Sangiorgi,Rodrigo Grota e Ariel Schweitzer.

Mostra Novos Olhares: Inge de Leeuw, Mads Mikkelsen e Amaranta Cesar.

Prêmio Olhares Brasil: Francesco Giai Via, Nicolas Azalbert e Isabel Orellana Guarello.

Prêmio Abraccine: João Nunes, Paulo Camargo, Carlos Eduardo, Pablo Villaça e Renato Hermdorff.

Prêmio Hors Pistes: Charlene Dinhut e Geraldine Gomez.)

Sobre o autor:

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.
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