A magia dos contos de fadas sempre fascinou crianças e adultos ao redor do mundo. Os alemães Jacob e Wilhelm Grimm e o francês Charles Perrault estão entre os principais autores que registraram a tradição oral em histórias que continuam sendo transmitidas para as novas gerações no cinema e na música. Após o podcast sobre Branca de Neve e os 7 Anões, reunimos alguns videoclipes influenciados por essas narrativas que povoam nossa imaginação desde a infância.
Os alemães do Rammstein já emplacaram “Heirate Mich” na trilha de Estrada Perdida (1997), de David Lynch, e “Führe Mich” em Ninfomaníaca (2013), de Lars von Trier. No clipe de “Sonne” (2001), os membros da banda aparecem trabalhando nas minas como os seis anões bajuladores de uma sádica e junky Branca de Neve, sedenta por diamantes cada vez maiores. A partir dessa ousada versão sem lugar para um príncipe, os leitores funkeiros do Cinema em Cena devem lembrar da cômica “Teoria da Branca de Neve”, de Mc Mayara, que defende: “Por que só ter um [homem], se eu posso ter sete?”
“Three Little Pigs” (1992), do Green Jelly, traz Os Três Porquinhos em uma das animações de Fred Stuhr (1967–1997), que nos deixou de herança ainda “Sober”, do Tool, e “Ratamahatta”, da banda brazuca Sepultura.
O lobo mau é outra figura importante, temida e cultuada no mundo pop, especialmente pela apavorada garota em “Strange Little Girl” (2001), de Tori Amos. O clipe foi dirigido por David Slade, de Menina Má.Com (2005), 30 Dias de Noite (2007), A Saga Crepúsculo: Eclipse (2010) e alguns episódios da série Hannibal. Ele também criou o fantasioso “Sour Girl”, que conta com a atriz Sarah Michelle Gellar e coelhinhos parecidos com Teletubbies abraçando os integrantes do Stone Temple Pilots.
Como contraponto, uma destemida Chapeuzinho Vermelho em “Lollipop” (2007), do cantor Mika, tem a habilidade de colorir com sua alegria infantil até mesmo o interior do lobo. Um som tão feliz e açucarado que dá vontade de caminhar sobre um arco-íris. Amy Lee também não deixa barato e seduz lobos em “Call Me When You're Sober” (2006), de Marc Webb, diretor de (500) Dias com Ela (2009) e dos filmes da franquia O Espetacular Homem-Aranha.
“Steppin' Out” (1982), de Joe Jackson, tem intenções de modernizar a história da Cinderela, assim como o contemporâneo “Prince Charming”, do Adam & The Ants, em que o vocalista tem uma fada madrinha e reina a corte mais trash e kitsch dos anos 80! Ao final, Adam quebra um espelho e se fantasia de Clint Eastwood em Três Homens em Conflito (1966), além de fazer um cosplay dândi de Lawrence da Arábia.
Inspirado por A Bela e a Fera, “I Would Do Anything For Love (But I Won't Do That)" (1993), de Meat Loaf, foi feito pelo nosso querido Michael Bay, o que explica os excessos e a divertida breguice. É curioso notar também que o diretor de Pearl Harbor e Transformers foi mais bem sucedido no clipe do hit “I Touch Myself”, do Divinyls, do que em vários títulos de sua filmografia!
Embora não seja um conto de fadas, a obra Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll, aproxima-se do imaginário das fábulas e histórias fantásticas e rendeu, além da animação de 1951 produzida por Walt Disney, muitas ricas manifestações artísticas. O clipe mais completo e surreal nesse sentido é certamente o premiado “Don't Come Around Here No More” (1985), de Tom Petty and the Heartbreakers, em que Alice aparece em forma de bolo e é fatiada e comida pelo Chapeleiro Maluco, entre outras referências clássicas retrabalhadas. O diretor do clipe, Jeff Stein, foi responsável por um episódio engraçado na carreira de Bruce Springstein (leia mais aqui).
Entediada e sem inspiração para compor, Gwen Stefani vira o jogo em “What You Waiting For?” (2004) quando encontra um relógio e é atraída por um coelhinho para um universo paralelo onde se torna a Rainha Vermelha. O clipe foi realizado por Francis Lawrence, diretor de Eu Sou a Lenda (2007) e responsável por assumir a franquia Jogos Vorazes a partir do segundo filme.
Para divulgar Alice no País das Maravilhas (2010), de Tim Burton, Avril Lavigne encarnou a personagem em “Alice” (2010), de Dave Meyers, diretor de Foolish (1999) e A Morte Pede Carona (2007). Outros clipes derivados da famosa história são “Tea Party” (2010), de Kerli, “Do Me More”, da cantora pop japonesa Namie Amuro, e o clássico “White Rabbit”, do Jefferson Airplane.
Dentro dessa atmosfera fantástica, Katy Perry confronta seu lado negro no espelho em “Wide Awake” (2012), morde um morango suspeito e, acompanhada por sua criança interior, adentra labirintos saídos de O Iluminado (1980). Katy passa de bruxa à princesa até dispensar o príncipe encantado (de cavalo e tudo!) e ficar ponta pra arrasar nos palcos novamente.
Em “There There” (2003), de Chris Hopewell, diretor de Um Fantástico Medo de Tudo (2012), Thom Yorke se perde na floresta em uma aventura com um clima entre João e o Pé de Feijão e Gato de Botas. Enquanto Natalia Kills inverte a ilusão pueril das histórias infantis na letra e nas imagens fortes de “Wonderland” (2011), Steve Perry (do Journey) é coroado em “Oh Sherry” (1984) e Ric Ocasek consegue ressuscitar a princesa em “Emotion In Motion”.
No clipe de “Mono” (2004), que marcou a estreia de seu trabalho solo, Courtney Love retorna para o showbizz em um caixão de vidro, resgatada por fadinhas de cinta-liga. A princesa do rock é perseguida por fotógrafos e é salva mais uma vez após uma ameaça de um massacre da serra elétrica por pequenas Courtneys. O clipe é assinado por Chris Milk, dono de alguns curtas como Choose You (2013), ao lado de Spike Jonze, e o elogiado Evolution of Verse (2015).
Muitas outras músicas fazem alusões aos contos de fadas. Entre as mais recentes está “Once Upon a Dream”, trilha de Malévola (2014) na qual Lana Del Rey relembra a canção original da animação A Bela Adormecida (1959). Já “Breath of Life”, de Florence and the Machine, foi composta para Branca de Neve e o Caçador (2012) e traz alguns trechos do filme. E para fechar a coluna, “Storytime”, do Nightwish, é uma das faixas do álbum cujas letras foram a base para o roteiro do filme finlandês homônimo Imaginaerum (2012).
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