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Jovens Clássicos Assinantes

Amigos do Cinema em Cena,

o filme que dará retorno à série Jovens Clássicos e que foi escolhido pelos assinantes foi, como devem saber, Se7en - Os Sete Crimes Capitais. Como se trata de um texto mais extenso e no qual estou trabalhando há já algum tempo, decidi ir publicando aqui alguns trechos que já estão prontos. Quando estiver concluído, publicarei o texto na íntegra para todos os leitores do Cinema em Cena, assinantes ou não.

Por enquanto, porém, ele é só para vocês. Espero que curtam.

Jovens Clássicos #07: Se7en - Os Sete Crimes Capitais (primeira parte)

Dirigido por David Fincher. Roteiro de Andrew Kevin Walker. Com: Morgan Freeman, Brad Pitt, Gwyneth Paltrow, R. Lee Ermey, Hawthorne James, Richard Roundtree, Reg E. Cathey, John C. McGinley, Richard Portnow, Mark Boone Junior, Leland Orser, Michael Massee, Richard Schiff e Kevin Spacey.

What’s in the box?!?”, grita o jovem detetive Mills, em desespero. Até segundos atrás, ele se julgava completamente no controle da situação enquanto acompanhava o serial killer John Doe até o local no qual este supostamente escondera os dois últimos cadáveres resultantes de seu impiedoso e enlouquecido plano, mas, com a inesperada chegada de uma caixa aberta por seu companheiro, o veterano detetive Somerset, tudo parecia subitamente ter saído dos eixos. “John Doe está no comando!”, anunciara seu parceiro aterrorizado ao ver o conteúdo do pacote. E Somerset não costumava ficar aterrorizado.

O que há na caixa?

A esta altura de Se7en – Os Sete Crimes Capitais, o espectador, inclinado na ponta de seu assento em tensão absoluta, já tem plena consciência de que John Doe é capaz de tudo – e mesmo que Somerset houvesse alertado Mills (e o público) para não se espantar nem mesmo se “a cabeça (do assassino) se abrisse e dali saísse um disco voador”, o fato é que o filme, através de uma construção narrativa impecável, já nos conduzira à pavorosa conclusão de que não havia limites para as ações do vilão. E, comprovando nossos temores, o conteúdo da caixa comprovaria isso.

Escrito por Andrew Kevin Walker (que surge em cena rapidamente como o primeiro cadáver que vemos no longa), Se7en se passa em um mundo opressivo, cinza e angustiante que parece determinado a constantemente lembrar seus ocupantes de que a vida é cruel, injusta e sem sentido. É neste contexto que somos apresentados ao detetive Somerset (Freeman), que, a uma semana da aposentadoria, encara mais uma cena de assassinato com resignação e exaustão, conduzindo seu dia com melancolia até poder voltar à solidão de seu apartamento vazio à noite, quando, para conseguir dormir, aciona um metrônomo cujo tique oscilante aos poucos afoga o caos dos ruídos urbanos que invadiam o quarto do policial.

Quando ele adormece, porém, o som de um trovão toma conta da narrativa e cede lugar ao pesadelo representado pelos créditos iniciais criados por Kyle Cooper e que – tornando-se incrivelmente influentes nos anos seguintes – oferecem ao espectador um breve olhar sobre o mundo assustador de John Doe (Spacey). Através de recortes, flashes e imagens quase subliminares (que, por sinal, já estabelecem uma rima com outro plano fundamental que piscará quase ao fim da projeção), esta sequência ilustra parte da preparação do vilão, revelando seu hábito de cortar as pontas dos dedos para ocultar as digitais, a composição de seus diários (cujas margens são costuradas à mão), algumas de suas visões fundamentalistas preconceituosas (em certo instante, ele grifa as palavras “relações sexuais”, “homossexuais”, entre outras) e, claro, o fato de suas ações terem motivações religiosas (podemos vê-lo recortando a palavra “Deus” de uma cédula de dinheiro).

Obviamente trazendo o ponto de vista de Doe, os créditos são importantes também ao fortalecerem a estrutura da narrativa, já que introduzem um personagem fundamental que só será de fato apresentado ao fim do segundo ato – além, claro, de já criarem no público a forte sensação de que acompanharemos os planos de alguém seriamente perturbado. Além disso, a sequência fornece algumas pistas sobre a própria trama ao trazer, por exemplo, um texto que inclui a palavra “grávida” em destaque, um plano que mostra que Doe revelava suas próprias fotos e, claro, ao se encerrar com gráficos que remetem ao próprio fazer cinematográfico, como perfurações laterais e as palavras “Reel No. – Color – Picture” ao contrário, como se o rolo estivesse invertido (o que, mais uma vez, criará uma rima estrutural elegante, já que os créditos finais descerão a tela).

Mas, ainda mais curiosamente, esta introdução exibe – também quase subliminarmente – códigos como “D-35” e “C-24”. O que significariam? Pois bem, aqui, confesso, parti para uma extrapolação inspirada pelo fato de que um dos primeiros planos de Se7en traz um tabuleiro de xadrez sobre a mesa do apartamento de Somerset – e uma rápida pesquisa envolvendo estes códigos e “chess” revelou que, segundo a “Encyclopedia of Chess Openings”, eles equivalem respectivamente ao Gambito da Rainha e à Abertura do Bispo. Ora, se o segundo já traz uma patente conotação religiosa, o primeiro envolve o sacrifício do peão da rainha para que o jogador possa dominar o centro do tabuleiro. (E considerando que Se7en só conta realmente com uma personagem feminina, não é difícil compreender como isto poderia se relacionar à estratégia de John Doe.)

(continua...)

(Como de hábito, peço, claro, que não compartilhem este texto com outros leitores. É um conteúdo que, por enquanto, é exclusivo para os assinantes.)

Um grande abraço e bons filmes!

(E se quiserem deixar comentários aí abaixo... melhor ainda!)

Sobre o autor:

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.
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