Em homenagem ao podcast que gravamos nesta semana sobre Os Bons Companheiros (1990), a coluna Curta em Cena apresenta O Grande Roubo do Trem (1903), de Edwin S. Porter, já que uma de suas memoráveis cenas foi homenageada pelo diretor e cinéfilo Martin Scorsese em seu longa-metragem – estou me referindo, claro, à sequência em que o personagem de Joe Pesci atira em direção à câmera.
Considerado um dos primeiros faroestes da história da sétima arte, o curta traz vários elementos marcantes desse gênero que se tornou um dos mais populares do cinema norte-americano: os chapéus de cowboy, as pistolas, os cavalos, o saloon, a perseguição dos bandidos, etc. Além disso, foi pioneiro em diversos outros aspectos: apresentou um tímido, mas notável movimento de câmera; foi rodado em locação, e não apenas em estúdio; e utilizou montagem paralela, quando ações simultâneas acontecem em diferentes espaços (no caso, uma jovem encontra o telegrafista amarrado enquanto os criminosos da trama celebram o bem-sucedido assalto).
O filme composto por 14 planos também impressiona por seu potencial narrativo, principalmente se levarmos em conta o ano em que foi feito. O começo, meio e fim da história são bem delimitados e conectados; há ritmo e suspense. Logo no início, já é estabelecida a crueldade dos bandidos, que matam inocentes de maneira fria e cruel, chegando a arremessar um dos condutores para fora do trem em movimento. Porém, assim como os mafiosos de Scorsese, os ladrões de Porter também são fascinantes pela vida perigosa que levam e pela quase onipotência que têm. Suas ações são atraentes demais para que nós, espectadores, desviemos o olhar, mesmo estando na mira de uma arma que atira várias vezes em nossa direção.
A quebra da quarta parede (que assustou o público do período) e todas as inovações de O Grande Roubo do Trem reafirmam o poder de imersão do cinema e sua força como linguagem. Confira:
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