Em entrevista recente, o cineasta Gaspar Noé, que acaba de lançar nos cinemas o melodrama sexual Love, não pareceu muito animado com a ideia de fazer filmes nos Estados Unidos: “Estúdios de Hollywood provavelmente teriam medo de mim e eu acho que ficaria com medo deles”. Um dos receios de muitos diretores que arriscam sair de seus países de origem para trabalhar nos EUA é comprometer suas visões artísticas e perder liberdade criativa.
A Mão (1965), último curta-metragem do tcheco Jiří Trnka, é uma animação stop motion que aborda justamente essas questões, mas de forma mais profunda, já que Trnka realizou uma crítica ao totalitário regime em que vivia. Na história, um oleiro mora em uma casa simples e passa os dias produzindo vasos para sua planta até que uma simbólica mão invade sua casa e, em uma demonstração de narcisismo, tenta convencer o artista de que ele deve fazer somente esculturas dela mesma – a persuasão acontece até com a ajuda da televisão, uma referência à manipulação midiática.
No início, a relação dos dois consegue ser pacífica, mas logo se torna violenta quando a mão não consegue comprar o oleiro com presentes e quantias de dinheiro. Assim como os vasos que se quebram durante o processo, a integridade artística é frágil e pode ser facilmente corrompida pelo sistema, que geralmente se interessa mais pela padronização dos gostos. As consequências do embate são trágicas e inevitáveis: o medo acaba consumindo a alma do artista.
Após a morte de Trnka em 69, cópias de A Mão foram confiscadas e banidas da Tchecoslováquia por duas décadas. Confira o trabalho abaixo:
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