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Na última edição da coluna, expliquei que não gosto de indicar dois filmes do mesmo gênero consecutivamente, mas me via obrigado a fazê-lo naquele momento. Bom, agora são três. Mas era impossível evitar, já que o título de hoje provavelmente será o vencedor do Oscar de Melhor Documentário em 2017.
Por que digo isso? Porque 13th, dirigido por Ava DuVernay (Selma), é uma destas obras que, além de excelentes por si só, acabam se tornando mais relevantes ainda graças ao contexto histórico no qual foram lançadas. Partindo da análise de uma frase incluída na 13a. emenda à Constituição dos EUA, o filme aponta que o mesmo texto que aboliu a escravidão no país acabou por criar uma lacuna que resultou em um encarceramento em massa da população negra, que, mesmo respondendo por pouco mais de 6% dos habitantes dos Estados Unidos, respondem por mais de 40% de seus presidiários.
Discutindo até mesmo o papel do clássico O Nascimento de uma Nação na sedimentação da ideia do homem negro como ameaça natural ao branco, 13th pode até abordar elementos específicos da História de seu país de origem, mas certamente suas questões encontram reflexo evidente no que ocorre no restante do mundo - e os paralelos com o Brasil são impossíveis de se negar.
Enriquecido por entrevistas com acadêmicos, ativistas e políticos, o trabalho de DuVernay deixa claro, por exemplo, como as grandes corporações concebem legislações que são apenas assinadas por parlamentares e que estabelecem leis que beneficiam imensamente as empresas, desde aquelas que controlam o sistema carcerário privado até as que são responsáveis pelas refeições, pelo atendimento médico e pela cobrança de telefonemas nas prisões. Além disso, a pesquisa feita pela equipe da cineasta traz uma série de casos específicos que ilustram de forma didática os problemas discutidos, evidenciando, por exemplo, como a palavra "criminoso" passou a servir como substituta racista disfarçada de "preto" ou como os negros e latinos, que compõem a maior parte do segmento mais pobre da sociedade, são muitas vezes mantidos presos - mesmo sem qualquer condenação - apenas por não terem dinheiro suficiente para a fiança.
Aliás, se visto ao lado de Réquiem para o Sonho Americano e Kids for Cash (ambos disponíveis na Netflix), este 13th (que também será indicado a Melhor Canção Original) servirá como um alerta fundamental contra erros que o Brasil comete ou está prestes a cometer (como a privatização do sistema penitenciário).
Ou, no mínimo, como um aprendizado importante para quem ainda acredita que a influência das corporações na política é benéfica.
Clique na imagem abaixo para assistir.
Um grande abraço e bons filmes!
Outras edições da coluna:
Episódio #26: Amanda Knox
Episódio #25: Audrie & Daisy
Episódio #24: A Ponta de um Crime
Episódio #23: Cartel Land
Episódio #22: ARQ
Episódio #21: Sete Homens e um Destino
Episódio #20: Alan Partridge: Alpha Papa
Episódio #19: Stranger Things
Episódio #18: Em Nome de Deus
Episódio #17: The Invitation
Episódio #16: A Mulher Faz o Homem
Episódio #15: Branco Sai Preto Fica
Episódio #14: O Rei da Comédia
Episódio #13: Jesus Camp
Episódio #12: O Barco: Inferno no Mar
Episódio #11: A Fortuna de Ned
Episódio #10: Amy
Episódio #09: In the Loop
Episódio #08: Life Itself
Episódio #07: À Procura de Elly
Episódio #06: O Guarda
Episódio #05: Triângulo do Medo
Episódio #04: Tempo de Despertar
Episódio #03: A Trapaça
Episódio #02: Tyke: Elephant Outlaw
Episódio Piloto: 21 longas para começar.