Dois filmes recentes que se destacaram pra mim por trabalharem outros gêneros na chave do humor e que, em outros tempos, até poderiam ganhar algumas salas de cinema, são esses Um Caso de Detetive e Círculo Vicioso.
O primeiro, mais interessante, é uma trama de investigação em que o protagonista (um excelente Adam Brody) é o típico “loser”, sem grandes perspectivas na vida, fonte eterna de preocupação dos pais. Visto e apreciado por todos em sua cidadezinha como um gênio mirim que investigava pequenos e bobos delitos, tudo muda com o desaparecimento de uma amiga, um caso que nunca será resolvido pela polícia, e que está muito além das capacidades de uma criança detetive. Isso não impede a frustração e estagnação da vida desse menino prodígio que agora, aos 30 e poucos anos, persiste com o emprego de detetive particular, embora obviamente nada de interessante acontece. É quando uma adolescente (a também ótima Sophie Nélisse, um dos destaques da série Yellowjackets) o contrata para um caso sério e tudo muda.
A grande sacada do filme de Evan Morgan é o equilíbrio entre o cômico e o dramático, a ponto de darmos boas risadas com a inadequação deste adulto desencantado com a vida em uma investigação que é às vezes tola, às vezes infantil, mas bastante reverente com a ambientação de uma legítima história de detetive, e que consegue transitar perfeitamente para o drama quando a trama exige. No fim, trata-se da boa e velha jornada de superação via acerto com o passado, com um ou dois twists realmente inesperados.
Superação também podemos dizer, de certa forma, de Círculo Vicioso, um filme tão abobalhado quanto seu protagonista, mas que traz uma premissa irresistível: ao tentar investigar o novo paquera de sua colega de apartamento (por quem é apaixonado), Joel acaba caindo sem querer num grupo de auto-ajuda para serial killers, e tem que fingir que também é um. O fato de se passar nos anos 80 e que o protagonista é um crítico de cinema de uma revista de horror seria um dado bastante importante pra vender o filme pra muitos, exceto que infelizmente tudo que diz respeito a isso me pareceu bobo e subaproveitado. Por outro lado, o filme de Cody Calahan (que dirigiu no mesmo ano o interessante – e ainda inédito no Brasil - The Oak Room, igualmente inusitado mas em tom completamente distinto) me pareceu fazer o movimento inverso do que costuma ocorrer em obras de premissas espertinhas, que se esgotam logo e não têm fôlego para se manter até o fim: Círculo Vicioso fica mais divertido na sua segunda metade, quanto mais absurdo se torna, com direito a justificar uma possível sequência. O alerta fica que, apesar do humor, há muito gore (cenas sanguinolentas para a alegria dos fãs de horror), o que faz parte da diversão, embora não seja para todos.
Um Caso de Detetive e Círculo Vicioso estão disponíveis na HBO Max.
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