Hoje é dia de colocar pressão ou facilitar a escolha do que assistir na próxima semana. É no fim do mês que mais saem filmes de algumas plataformas, então eis o que podem dar prioridade para os próximos dias:
– O mais urgente é mesmo O Silêncio do Céu (2016), co-produção entre Brasil e Chile que só dá pra ver até AMANHÃ na Netflix. Não sou um entusiasta do filme, que parte do estupro de uma mulher como motor dramático para retratar a deterioração de um relacionamento, fragilidade masculina e desejo de vingança, mas o elenco (o argentino Leonardo Sbaraglia e a brasileira Carolina Dieckmann, além de Chino Darín, filho do Ricardo) e a condução do diretor Marco Dutra (já hábil no cinema de gênero após Trabalhar Cansa e Quando Eu Era Vivo) muito próxima ao thriller e suspense de produções argentinas recentes de sucesso, conquistou boa parte da crítica e público;
– Dentre vários outros filmes que só estarão na Netflix até 31/01, talvez o menos conhecido e que vale a pena conhecer é O Oposto do Sexo (1998), um desses indies americanos que fazem sucesso restrito na época, aparecendo aqui e ali em listas de melhores do ano ou premiações (ganhou Filme de Estreia e Roteiro no Spirit Awards), em que a Christina Ricci seduz o namorado do seu irmão e este é só o começo de uma intriga muito ávida em fugir do politicamente correto, algo bem em voga na época. Confesso que lembro pouco do filme, visto apenas quando lançado, e até seria interessante revisitá-lo para ver como sobreviveu, em especial no retrato que faz da homossexualidade e do fato de a protagonista ser uma adolescente de 16 anos que narra tudo da forma mais cínica possível. Foi um ano incrível de escolhas ousadas este 1998 para Ricci, que esteve também no Bufallo 66, do Vincent Gallo, O Preço da Fama, do John Waters, Medo e Delírio, do Terry Gilliam, e ainda dublou personagem de Pequenos Soldados, do Joe Dante.
– Ainda saindo da Netflix: Aterrorizados (2020), um terror argentino com alguns bons sustos; o divertido terror/ação com zumbis e nazistas na segunda guerra Operação Overlord (2018); o drama Desobediência (2017), em que Rachel Weisz e Rachel McAdams sofrem por um amor proibido pelos dogmas de sua religião; o suspense Rua Cloverfield,10 (2016), sustentado pelas atuações de Mary Elizabeth Winstead e John Goodman; e o simpático romance O Espelho Tem Duas Faces (1996), terceiro e último longa (até o momento) dirigido por Barbra Streisand, que quase deu o primeiro e único Oscar para Lauren Bacall – numa dessas surpresas constrangedoras de acompanhar, perdeu para Juliette Binoche no Paciente Inglês.
– A MUBI tem a melhor maneira de acompanhar o que está saindo, em uma página que marca quantos dias restam para cada filme. Último dia do mês costuma ser um massacre, e no dia 31/01 saem obras preciosas, e preciso destacar: o último filme de Sidney Lumet, o tenso e dramático thriller Antes Que o Diabo Saiba Que Você Está Morto (2007), o "filme maldito" de Paul Verhoeven Showgirls (1995), um dos grandes filmes de Spike Lee e Denzel Washington Malcolm X (1992) e o muito incrível e desconcertante Ata-me! (1989), de Pedro Almodóvar - meu predileto do espanhol, Tudo Sobre Minha Mãe (1999) também sairá do catálogo, mas caso você tenha cometido o crime de ainda não tê-lo visto, continuará disponível na Amazon Prime. Para os que gostam de acompanhar o que é feito atualmente, por cineastas que vêm se destacando com narrativas pouco usuais/padronizadas, três novidades de peso saindo: o curioso experimento do romeno Radu Jude, Uppercase Print (2020), o ucraniano pós-apocalíptico Atlantis (2019) e a fantasia expressionista cômica The Twentieth Century (2019).
– A maior perda na MUBI, no entanto, é de Boudu, Salvo das Águas (1932), fascinante filme do mestre Jean Renoir, em que um mendigo vai morar com uma rica família burguesa e não se comporta como se esperaria (por ter sido “salvo”) ou deveria (por adaptação às novas regras de convivência), sendo uma das muitas obras do diretor que mostram como sátira social pode ser feita com elegância e muita humanidade.
– Falando em grandes obras francesas, o primeiro e maravilhoso longa da grandiosa Agnès Varda, Cléo das 5 às 7 (1962) fica na plataforma do Sesc Digital também até o dia 31/01. Lembrando que lá é tudo GRATUITO, é só chegar e dar play.
– Por fim, a HBO Max ainda está devendo informação de data para o que consta na aba Últimos Dias, então para não correr o risco, a prioridade certamente é O Mundo Perfeito (1993), um dos mais queridos filmes de Clint Eastwood, que também tem o seu (bem menos querido mas cheio de coisas de interesse) Meia Noite no Jardim do Bem e do Mal (1997) deixando a plataforma. Para quem gosta de curiosidades narrativas, também com os dias contados: Pleasantville, A Vida em Preto e Branco (1998), simpático filme com os ainda jovenzinhos Reese Witherspoon e Tobey Maguire transportados para um programa de tv dos anos 50 e suas ações começam a trazer cores para aquele mundo; e Locke (2014), um filme todo com o Tom Hardy dirigindo, ao telefone com alguém ameaçador.
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