Eu não tenho ideia do motivo que me levou a assistir ao japonês 37 Segundos (2019), de uma cineasta chamada apenas de Hikari, em seu primeiro longa. Mas foi uma bela e inesperada surpresa na ocasião que aparentemente continua sem chamar a atenção de muita gente, e me parece uma obra bem sensível, que teria uma aceitação positiva, no mínimo, em algumas bolhas de redes sociais que repercutem filmes de temáticas mais sérias assim que estes chegam nos principais streamings.
A protagonista é uma moça de 23 anos que nasceu com paralisia cerebral e, por isso, não anda e tem movimentos das mãos um pouco limitados, além de uma voz fraca, como se fosse incapaz de elevar o tom. Vive com a mãe super protetora e tem um grande talento pra desenhar mangás, talento este explorado pela prima, que faz sucesso às custas dela. E aí descobre uma editora de mangás adultos (em outras palavras, quadrinhos com muito sexo) que gosta do traço dela, mas que deixa claro que de sexo ela não entende nada. "Perca sua virgindade, depois a gente conversa" é mais ou menos o recado. E isso a leva a experimentar a vida fora das asas da mãe.
Mais eu não conto, mas é um filme de muita sensibilidade e adorável, com coragem de ir a lugares pouco explorados no que diz respeito a intimidade e desejos de uma mulher que, por ter limitações físicas, é vista equivocadamente como alguém desprovida desses desejos. Um filme assim corre o risco de cair na condescendência, e as pessoas em volta da personagem são bastante acolhedoras e empáticas de modo geral, mas é uma obra de coração grande e que acredita na autonomia e capacidades de sua protagonista. E, claro, busca as lágrimas de quem assiste. Ajuda que a atriz principal é puro carisma.
37 Segundos está disponível na Netflix.
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