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O PERFUME DA MULHER DE PRETO Cinema em Streaming

Os fãs dos filmes de terror sofrem com as plataformas de streaming no Brasil. Há toda uma rica história do gênero no cinema que fica meio perdida numa espécie de limbo: os serviços mais populares não têm um grande catálogo de filmes de muitas décadas atrás, e os que oferecem obras de todas as épocas costumam se ater aos “grandes clássicos”, os filmes de “prestígio” de gêneros mais “respeitáveis” – muitas aspas, pois sabemos o quanto esses termos podem ser deturpados e como, à exceção do que foi elevado a cânone (determinados filmes e cineastas), o Horror é subvalorizado e não se enquadra nessas categorias. Curiosamente, é sempre um dos gêneros mais vistos, mas é como se as produções do momento fossem o bastante para atender as demandas do público e logo ficam para trás.

No Brasil, a Darkflix é uma plataforma que tenta corrigir um tanto dessa ausência do terror e do fantástico nos demais streamings. É um catálogo cheio de pérolas, filmes a descobrir e que pretendo explorar e recomendar aqui sempre que possível. Não tem uma ferramenta de busca muito boa e a navegação tem alguns problemas, mas o catálogo compensa essas falhas. A dica de hoje é uma dessas descobertas, de um subgênero muito fértil, o giallo, que tem seus cânones (e mesmo eles, como filmes do Dario Argento e Mario Bava, não são encontrados com facilidade) mas também uma vasta filmografia apreciada apenas pelos mais aficionados. Caso deste O Perfume da Mulher de Preto (1974), de Francesco Barilli.

Não vou me arriscar a fazer um resumo do giallo, como fiz com o film noir, mas há este paralelo curioso entre os dois: ambos surgem a partir de um tipo de literatura muito específica, envolvendo crimes e violência, mas enquanto o cinema americano trabalhava com o preto & branco quase como uma imposição que exigia a criatividade e o talento dos envolvidos, os italianos usaram e abusaram das cores mais de 20 anos depois, onde tudo era mais explícito e excessivo.

O Perfume da Mulher de Preto, no entanto, nem é um giallo mais tradicional e quem já é um pouco “escolado” nos filmes do Argento, Bava, e também Sergio Martino e Lucio Fulci, vai se surpreender com o que Barilli faz aqui. Vale notar que é o seu longa de estreia e que após isto fez muito pouco como diretor. A obra é como se Roman Polanski fosse passar uma temporada em Roma e decidisse refilmar O Bebê de Rosemary (1968) e Repulsa ao Sexo (1965) num filme só, com toda a exuberância visual, de cores e espelhos, que o horror italiano estava se especializando naquele momento.

A protagonista de Mimsy Farmer é movida a base de repressão de trauma de infância, talvez de esquizofrenia, talvez de sobrenatural e (ao contrário do suspense que guia a Rosemary de Mia Farrow) com certeza há uma trama maior por trás das ações de alguns personagens. Tudo isso não se sustenta num roteiro bem trabalhado, pois parece que estamos diante de uns três roteiros mastigados; é todo o trabalho de iluminação e de cores que nos deixa vidrados o tempo todo, com ocasional momento mais chocante aqui e ali. Até que vem a reta final do filme que, embora não amarre todas as pontas soltas, ganha pela violência e selvageria inesperada, até mesmo para os padrões do gênero.

O Perfume da Mulher de Preto está disponível na Darkflix, assim como O Bebê de Rosemary (também no Telecine Play e aluguel/compra na Microsoft) e Repulsa ao Sexo (também no Belas Artes à La Carte, Looke e NetMovies).

 

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Sobre o autor:

Gosta de cinema pra valer desde os 14 anos, já teve videolocadora e agora vê uns filmes nos streamings que mataram seu negócio. Twitter: @helioflores
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