Apesar de eu gostar de indicar e escrever algo sobre um filme visto ou revisto recentemente, vou ter que aceitar que nem sempre vai ser possível. É o caso da recomendação de hoje, visto apenas quando foi lançado, mas me peguei pensando nele e achei que mais pessoas poderiam ter o encantamento que tive, e que talvez bata ainda mais forte em tempos de pandemia e emergência de fascismo, pois se trata de um filme sobre morte e a dor da perda, mas também da celebração da vida, que só é possível seguir com algum senso de pertencimento a uma comunidade.
Ler a sinopse do francês Coração e Alma (no original Réparer les vivants, 2016) é suspeitar que se trata de um drama feito para arrancar lágrimas, não muito diferente do que qualquer bom episódio de uma série médica é capaz de fazer, e em menos tempo. E isso, de fato, não está muito longe da verdade. A diferença é que a cineasta Katell Quillévéré tem enorme habilidade em orquestrar o drama, e uso este verbo porque o que temos se parece muito com uma sinfonia, um ritmo narrativo quase musical. E não me refiro apenas a bela trilha de Alexandre Desplat em algumas das principais sequências, mas a fluidez da câmera e da montagem ao transitar pelos diversos personagens da trama e como se organizam dos maiores aos menores dramas, dos mais simples gestos às mais intensas emoções. O filme vibra como um organismo vivo, em que cada peça é um órgão vital para o funcionamento do todo, em que desespero, alegria, paixão fulminante, perda, solidariedade, esperança, convivem junto. Ou, para usar uma metáfora óbvia e mais simples, o filme pulsa como um coração.
Coração e Alma está disponível na Amazon Prime.
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