Vamos a dicas nos streamings de mais uma categoria de prêmios da Academia, com alguns comentários. Lembrando que o ano do Oscar sempre me refiro ao de produção dos filmes e não da cerimônia (que é sempre no início do ano seguinte).
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Os indicados ao Oscar 2021 de Melhor Som são:
Belfast (idem): ainda não disponível
Duna (Dune): HBO Max, aluguel/compra na Apple TV, compra no Google Play e Microsoft (em todos inclusive em 4k)
Sem Tempo Para Morrer (No Time to Die): aluguel no NOW, aluguel/compra na Apple TV (inclusive 4k), Google Play (inclusive em 4k) e Microsoft
Ataque dos Cães (The Power of The Dog): Netflix (inclusive em 4k)
Amor, Sublime Amor (West Side Story): ainda não disponível
Este é o segundo ano em que a Academia unificou dois trabalhos técnicos em apenas uma categoria. Sempre quando chegava a época do Oscar, a diferença entre Mixagem e Edição de Som virava um tópico recorrente nas discussões, a sério ou como piada, deixando a dúvida se os votantes de fato saberiam ser justos ao escolher o que consideravam ser o melhor (lembrando que as indicações em todas as categorias são feitas pelos profissionais da área em questão, e os vencedores são votados pela Academia como um todo).
O prêmio de Melhor Som existe desde quase o início, a partir do terceiro ano quando começaram a ser produzidos os primeiros filmes sonoros, e até meados dos anos 40 a categoria poderia ter entre 8 a 12 indicados. Este é o prêmio que identificávamos até 2019 como “Mixagem de Som”, termo usado a partir de 2003. O termo “Edição de Som” foi utilizado a partir de 2000, e antes disso foi conhecido como “Efeitos Sonoros” quando a categoria surgiu em 1963 (antes disso, qualquer trabalho expressivo do tipo estaria ligado a categoria de efeitos especiais, que se referia a efeitos visuais e sonoros), sumiu por um bom período nos anos 70, retornando como um prêmio especial de reconhecimento para alguma obra do ano, passou a ser “Edição de Efeitos Sonoros” nos anos 80 e, apesar de um ou outro ano sem disputa ou com 2 indicados, a norma logo se tornou 3 indicados, algo que permaneceu mesmo após a retirada da palavra “Efeitos”, e passou a ter 5 indicados somente a partir de 2006.
Falar em efeitos sonoros talvez ajude a diferenciar as categorias, embora a mudança para Edição de Som possa ser relacionada a um reconhecimento mais adequado do que o profissional da área faz, e sem passar a ideia de que se trata apenas de algo presente nas superproduções de grandes efeitos, explosões e destruições. Então de forma bem resumida, podemos dizer que a edição de som diz respeito a criação, captação e a “ilusão” de que o som que ouvimos corresponde ao que vemos (ou não vemos, mas compreendemos).
Já a Mixagem se refere ao balanceamento de todos esses sons, inclusive trilha sonora, dentro da obra. Daí que, além das superproduções, aparecem aqui os principais indicados a Melhor Filme (e musicais, quando ainda tem). Talvez a melhor forma de entender a mixagem seja pensar num “palco sonoro”: as entradas e saídas dos sons de cena, onde e quando aparecem, quais se destacam em quais momentos, se protagonizam ou não uma cena, em relação a outros sons. Na cerimônia do Oscar 2015, a Academia mostrou um vídeo muito bom para anunciar os indicados e vencedores e não entendo porque não se tornou referência para os anos seguintes.
Mas a junção numa única categoria é justificável: primeiro que decidiram por reconhecer os profissionais das duas áreas na indicação do filme. É verdade que acaba com a oportunidade de mais pessoas levando o prêmio, mas desde a ampliação para cinco vagas em Edição de Som, mais da metade dos filmes vencedores levou ambas as categorias, e quase metade de todos os profissionais indicados concorreu nas duas. A ideia, portanto, seria valorizar ainda mais a distinção dada com o Oscar.
O segundo motivo parece de ordem prática, diretamente relacionado aos comentários maldosos de que os membros da Academia não saberiam mesmo diferenciar uma coisa de outra. E que talvez não sejam tão maldosos assim, mas que dá pra estendê-los a maioria das pessoas. Pois na teoria é até fácil explicar, mas seria tão simples assim reconhecer em um filme o que é trabalho da edição e o que é da mixagem? Apesar dos dois prêmios terem sido dados pela última vez no Oscar 2019 (Ford vs Ferrari ficando com o prêmio de Edição e 1917 com o de Mixagem), a decisão por uma única categoria se deu após a cerimônia anterior, quando Bohemian Rhapsody (2018) levou ambos. Isso reforçou a sensação de ninguém saber votar nesses prêmios, pois embora se pudesse argumentar pelo Oscar de Mixagem de Som (pelo perfil do filme que caiu nas graças da Academia), como explicar um prêmio de Edição de Som? A resposta veio logo depois em matérias que relatavam o complexo trabalho dos profissionais no filme que, dentre outras coisas, trabalharam na EDIÇÃO da voz de Freddie Mercury: ao contrário do que se poderia imaginar, com o ator tentando imitar e se basear em gravações do cantor, na verdade Rami Malek cantou (“a plenos pulmões”, dizem) por vários dias e a voz de Mercury foi ajustada de acordo com as respirações, pausas, inflexões do ator, para passar a ilusão de que o som de fato sai das suas cordas vocais. Há outros procedimentos complicados que envolvem diversas cenas, mas o que fica aqui é que as novas tecnologias dificultam ainda mais a diferenciação por parte de quem vê (e ouve) os filmes e que muitos elementos de destaque sonoro numa obra acabam sendo resultado do trabalho em conjunto da edição e mixagem.
E como fica agora que há apenas uma categoria? Ano passado, o vencedor foi O Som do Silêncio, que por motivos óbvios acabou se tornando uma escolha fácil para os votantes. Este ano, Duna seria uma escolha certeira pelos “efeitos sonoros”, enquanto Amor, Sublime Amor um candidato provável pela mixagem. Pelo menos por enquanto me parece que o Oscar ficará entre esses dois.
Vencedores do Oscar de Melhor Som (aqui valendo tanto em mixagem quanto edição) que destaco e disponíveis nos streamings do Brasil:
Amor, Sublime Amor (West Side Story, 1961): Telecine Play, aluguel/compra na Apple TV e Google Play (inclusive em 4k)
Deu a Louca no Mundo (It’s a Mad, Mad, Mad, Mad World, 1963): aluguel/compra na Apple TV
007 – Contra Goldfinger (Goldfinger, 1964): aluguel na Microsoft, aluguel/compra na Apple TV (inclusive em 4k), compra na Google Play
A Noviça Rebelde (The Sound of Music, 1965): Disney Plus
Os Doze Condenados (Dirty Dozen, 1967): HBO Max, aluguel/compra na Apple TV e Microsoft
O Exorcista (The Exorcist, 1973): HBO Max, aluguel/compra na Apple TV
Contatos Imediatos do 3º Grau (Close Encounters of the Third Kind, 1977): aluguel/compra na Apple TV, Google Play, Microsoft e NOW
O Franco-Atirador (The Deer Hunter, 1978): aluguel/compra na Apple TV, Google Play e Microsoft
Aliens: O Resgate (Aliens, 1986): Star Plus
Bird (idem, 1988): aluguel/compra na Apple TV e Microsoft
Velocidade Máxima (Speed, 1994): Star Plus (inclusive em 4k)
A Sombra e a Escuridão (The Ghost and the Darkness, 1996): Telecine Play, aluguel/compra na Microsoft
O Ultimato Bourne (The Bourne Ultimatum, 2007): Netflix, Amazon Prime, Star Plus, NOW, aluguel/compra na Apple TV e Google Play
Guerra ao Terror (The Hurt Locker, 2008): Netflix, NOW, aluguel/compra na Apple TV
Mad Max: Estrada da Fúria (Mad Max: Fury Road, 2015): HBO Max, aluguel no NOW e Looke, aluguel/compra na Apple TV (inclusive 4k), Microsoft (inclusive 4k) e Google Play
O Som do Silêncio (Sound of Metal, 2020): Amazon Prime (inclusive 4k), aluguel no NOW, aluguel/compra no Looke, compra na Apple TV e Google Play
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