Com Ninfomaníaca - Parte 1 em cartaz nos cinemas brasileiros, nossa redação escolheu para este Clube dos Cinco outros filmes que têm personagens viciados em sexo na trama, cada um em uma década. Deixe o seu favorito (citado ou não nesta coluna) nos comentários no fim da página.
O IMPÉRIO DOS SENTIDOS
Ai no korîda, 1976
Japão, França
dir.: Nagisa Ôshima
Poucos filmes exploram cenas de sexo reais de forma tão eficiente como o drama erótico O Império dos Sentidos, do diretor Nagisa Ôshima (Furyo, Em Nome da Honra). Apresentando muito mais do que uma história de paixão, o longa trata da obsessão quase doentia entre duas pessoas e das consequências de se explorar os desejos ao máximo.
Na trama ambientada no Japão de 1936 e protagonizada pelos atores Tatsuya Fuji (O Império da Paixão, também de Ôshima) e Eiko Matsuda, Kichizo é o chefe de uma propriedade que contrata uma criada com o sugestivo nome de Sada. O que começa como um envolvimento ardente de dois amantes desenvolve gradualmente para uma relação possessiva de um homem e uma mulher que não conseguem parar de fazer sexo.
Com cenas oníricas e sinceras, a produção contém sequências fortes, mas que em nenhum momento são gratuitas. O clímax da história, que foi inspirada em um caso real, acontece nos últimos minutos e é difícil não se surpreender com a brutalidade do desfecho.
Na época de seu lançamento no Festival de Cannes, O Império dos Sentidos precisou ser exibido em 13 sessões especiais devido à grande demanda do público que queria assistir ao filme. Além disso, o longa foi censurado em países como Inglaterra, Alemanha e o próprio Japão, mas acabou tendo sua versão sem cortes liberada pouco tempo depois de sua estreia. (Antônio Tinôco)
O HOMEM QUE AMAVA AS MULHERES
L'homme qui aimait les femmes, 1977
França
dir.: François Truffaut
Charles Denner se tornou um dos mais famosos atores dirigidos por François Truffaut (Os Incompreedidos, Jules e Jim - Uma Mulher para Dois) por causa de dois filmes: A Noiva Estava de Preto (1968) e O Homem que Amava as Mulheres. Neste último, uma comédia dramática, ele interpreta Bertrand Morane, um homem que decide escrever um livro sobre sua vida amorosa repleta de conquistas. Obcecado por belas pernas desde a juventude, quando perdeu a virgindade em um bordel, ele não descansa enquanto não descobre informações sobre as mulheres por quem se sente atraído (Brigitte Fossey, Nelly Borgeaud, Geneviève Fontanel e Leslie Caron vivem algumas delas), mesmo que não consiga consumar a relação. E é justamente a intensidade de sua vida sexual que acaba por vitimá-lo.
Um dos filmes mais elogiados da última fase da carreira de Truffaut, O Homem que Amavas as Mulheres concorreu ao Urso de Ouro no Festival de Berlim e ganhou uma refilmagem homônima em Hollywood, em 1983, sob a apropriada direção de Blake Edwards (Bonequinha de Luxo, A Pantera Cor-de-Rosa, Mulher Nota 10). Burt Reynolds assumiu o papel principal, com Julie Andrews, Kim Basinger e Marilu Henne vivendo suas paixões. (Renato Silveira)
ATRAÇÃO FATAL
Fatal Attraction, 1987
Estados Unidos
dir.: Adrian Lyne
Como bem disse Tom Hanks em Sintonia de Amor (1993), Atração Fatal “assustou todos os homens da América”. Não é pra menos.
Michael Douglas, que na vida real se submeteu a tratamentos para lidar com sua compulsão por sexo, interpreta um advogado que, quando a esposa e filha saem de férias, tem um breve caso com uma mulher interpretada por Glenn Close. O que ele não sabia é que tal indiscrição renderia uma psicopata completamente obcecada pelo amante ao ponto de perseguir sua família e cozinhar o coelho de sua filha como um aviso de que ela não seria ignorada.
Mas ei! Isso é Hollywood! Por que o homem seria punido por seus erros se é mais fácil fazer da mulher uma maluca completa? (Heitor Valadão)
ENTRE AS PERNAS
Entre las Piernas, 1999
Espanha/França
dir.: Manuel Gómez Pereira
O vício em sexo, assim como outros tipos de vícios, pode ser tratado através de terapia em grupos de apoio, como aqueles que vimos em Clube da Luta (1999). Aliás, Chuck Palahniuk, autor do livro que inspirou o filme de David Fincher, escreveu também Choke, que foi levado para o cinema em 2008 por Clark Gregg (ele mesmo, o Agente Coulson de Os Vingadores), com Sam Rockwell no papel principal de um homem viciado em sexo. Mas não é deste filme que queremos falar, embora mereça a menção.
A protagonista de Entre as Pernas é Miranda, uma radialista, mãe e casada com um policial, que também é viciada em sexo. Sem conseguir parar com seus breves encontros sexuais com desconhecidos, ela decide buscar tratamento e se inscreve num grupo de terapia para pessoas como ela. Mas o que seria uma solução se transforma em problema quando ela se aproxima de Javier, um colega viciado que tem obsessão por sexo por telefone. Nada mais apropriado para quem trabalha com a voz.
Dirigido por Manuel Gómez Pereira (Boca a Boca), Entre as Pernas toma contornos de thriller quando a relação de Miranda e Javier se intensifica. Victoria Abril e Javier Bardem garantem as cenas quentes, enquanto a trama se dilui em subtramas improváveis. O filme tem seu quê de Hitchcock e de Almodóvar, mas por se inspirar nesses dois mestres, Pereira mostra que não é dos alunos mais aplicados, infelizmente. (Renato Silveira)
SHAME
2011
Reino Unido
dir.: Steve McQueen
Em sua breve carreira na direção, Steve McQueen já se mostrou um obcecado pelas patologias humanas. Em Fome, o cineasta expõe, através do personagem de Michael Fassbender, os limites do corpo de um militante ao passar por uma greve de fome. Em 2011, o diretor voltou a se reunir com Fassbender para acompanhar o cotidiano de um viciado em sexo no aclamado Shame.
No longa, Brandon (Fassbender) cultiva uma discreta vida particular em que se dispõe a situações extremas para conseguir sua droga: o sexo. Quando sua irmã Sissy (Carey Mulligan) chega à cidade, Brandon se vê no conflito de suprir seu vício, assumir a doença e se mostrar um bom exemplo.
Acompanhar a jornada deste aparente burocrata conservador em uma vida dupla revela a faceta interessante de um vício. Brandon não percebia mais seus parceiros sexuais como seres humanos e, sim, como os traficantes da droga. O sexo para o personagem perde o sentido de prazer e assume a função de hábito. Em uma atuação fantástica de Fassbender, assistimos à transformação da carne e osso em brinquedos eróticos. (Luísa Gomes)
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