O Abismo Prateado, que acaba de chegar aos cinemas, é inspirado na música "Olhos nos Olhos", de Chico Buarque. Em breve, nós teremos a estreia de Faroeste Caboclo, filme adaptado do clássico das rodas de violão gravado pela Legião Urbana. O tema deste Clube dos Cinco vem desses dois lançamentos e relembra outras produções que também surgiram a partir de canções.
Veludo Azul (Blue Velvet, 1986, EUA, dir.: David Lynch) - por Luísa Gomes
Em 1950, Bernie Wayne e Lee Morris compuseram uma música sobre o tecido vívido azul e os olhos ternos de uma mulher amada, que foi imortalizada pelo carismático cantor de jazz Toni Bennett. Trinta e seis anos depois, o diretor David Lynch (Cidade dos Sonhos) criou um filme mostrando que atrás de toda a cor alegre do mundo, existe a frieza e o egoísmo do ser humano. A letra da canção "Blue Velvet" forneceu a Lynch o terreno para dar sua profundidade sufocante, vertiginosa e chocante.
Quando descobre uma orelha humana nos fundos de sua casa, Jeff Beaumout (Kyle MacLachlan) percebe que em uma cidade pacata no interior dos EUA, com cercas brancas e sorrisos amarelos, existe um mundo sombrio. Os responsáveis por esse lado negro são Dennis Hopper, que vive o sádico psicopata Frank Booth, sempre acompanhado de seu icônico e bizarro inalador, e a melancólica e possessiva cantora interpretada por Isabella Rossellini. Lynch consegue prender a nossa atenção, do começo ao fim, dispondo de seus tradicionais elementos sensoriais, e nos obriga a sair da zona de conforto ao criticar o american way of life de uma forma brutal.
A canção de Tony Bennett foi regravada na voz de Bobby Vinton para a trilha sonora do filme. Ouça:
Comboio (Convoy, 1978, EUA/Reino Unido, dir.: Sam Peckinpah) - por Heitor Valadão
Mesmo não agradando aos mais puritanos, Sam Peckinpah foi um dos grandes autores do cinema americano na década de 70. É verdade que seu filme mais cultuado, Meu Ódio Será Sua Herança, foi lançado em 1969, mas foi na década seguinte que o diretor concentrou seu trabalho na telona. Um dos últimos foi Comboio, de 1978. Baseado em uma canção de Bill Fries, também conhecido como C.W. McCall, o filme tem Kris Kristofferson como Rubber Duck, um caminhoneiro que, junto a outros companheiros de volante, acaba enfrentando um xerife mau caráter vivido pelo saudoso Ernest Borgnine. Em fuga para o Novo México, os caminhoneiros acabam conquistando os corações de outros viajantes e formam um gigantesco comboio de uma milha de comprimento. Presente na música e no filme está a locução de rádio que acompanha e guia os motoristas.
Uma curiosidade: o pato que enfeita o capô do carro do Stuntman Mike de À Prova de Morte, de Quentin Tarantino, é o mesmo que está no caminhão de Kris Kristofferson em Comboio.
Unidos Pelo Sangue (The Indian Runner, 1991, EUA/Japão, dir.: Sean Penn) - por Larissa Padron
Sean Penn provou ao mundo o seu bom gosto musical com a bela trilha de Na Natureza Selvagem, em 2007, mas o diretor já tinha uma forte conexão com a música muito antes disso. Quando decidiu estrear na direção, 16 anos antes, com Unidos Pelo Sangue, Penn decidiu se inspirar em uma música de ninguém menos do que Bruce Springsteen.
Assim como na canção “Highway Patrolman”, o filme é protagonizado por Joe Roberts (David Morse), que vive em certo conflito com seu problemático irmão Frank (Viggo Mortensen), mas, “um homem que vira as costas para a família não é uma boa pessoa”.
Jolene (2008, EUA, dir.: Dan Ireland) – por Renato Silveira
“Jolene” é um dos maiores sucesso da carreira de Dolly Parton. Lançada em 1973, a canção foi o primeiro single do álbum homônimo da cantora country e liderou a parada da Bilboard do gênero musical naquele ano, além de constar entre as 500 melhores músicas de todos os tempos selecionadas pela revista Rolling Stone. Sua influência levou vários artistas a gravarem covers, sendo que a versão mais famosa provavelmente é a da banda The White Stripes.
No cinema, “Jolene” surge como inspiração do filme de mesmo nome, dirigido por Dan Ireland (Um Amor do Tamanho do Mundo) e lançado em 2008, que marcou a estreia no cinema de uma até então desconhecida Jessica Chastain, hoje uma atriz duas vezes indicada ao Oscar. O roteiro, na verdade, é uma adaptação do conto Jolene: A Life, de E.L. Doctorow, que por sua vez é baseado na música de Parton.
Enquanto a canção é narrada por uma dona de casa que vê seu casamento ameaçado pela beleza da jovem e sedutora Jolene, o filme e o conto retratam a jornada trágica dessa mulher, que se envolve com o tio de seu marido (papel de Dermot Mulroney).
Infelizmente, Jolene nunca foi lançado no Brasil. Mas com todo o sucesso que Chastain vem fazendo, quem sabe algum distribuidor não se anima em trazer o filme para cá em DVD?
O Menino da Porteira (1976 e 2009, Brasil, dir.: Jeremias Moreira Filho) – por Renato Silveira
Após o sucesso de 2 Filhos de Francisco, o cinema brasileiro ensaiou a volta dos “filmes de sertão”. Um desses, que já havia levado 4,5 milhões de pessoas aos cinemas em 1976, foi refilmado pelo mesmo diretor, Jeremias Moreira Filho, trocando Sérgio Reis por Daniel no papel principal do peão de boiadeiro Diogo, que, ao pretexto de conduzir uma grande boiada até a famosa Fazenda Ouro Fino que marca o verso inicial da música, testemunha diversas injustiças ocorridas na região, dominada pelo Major Batista (Jofre Soares no original; José de Abreu na versão mais recente).
O filme de 1976 foi idealizado a partir da famosa canção composta por Teddy Vieira e Luizinho (da dupla Luizinho e Limeira), gravada pela primeira vez em 1955. O “Cururu”, que é o nome dado a esse estilo da música sertaneja, ganhou várias versões ao longo dos anos, sendo que a de Sérgio Reis embala a trilha do filme original, enquanto Daniel, claro, regravou para a refilmagem.
Ficamos com a primeira, que é imbatível.
MENÇÃO HONROSA
Yellow Submarine (1968, Reino Unido/EUA, dir.: George Dunning) - por Larissa Padron
Daria para fazer um Clube dos Cinco só com filmes que os Beatles inspiraram, desde aqueles protagonizados por eles, como A Hard Day's Night, aos que vieram depois, como Across the Universe. Sendo assim, seria injusto se a banda não ganhasse ao menos uma menção honrosa em nossa lista.
A banda já tinha alguns curtas animados baseados em seu trabalho quando a empresa King Features decidiu fazer um longa. No entanto, após a morte de Brian Epstein, os Beatles não quiseram se envolver com roteiro e dublagem e liberaram apenas seis músicas para o filme. Uma delas foi “Yellow Submarine”, que deu margem não apenas para a história da produção, mas também para o seu título.
O longa foi um sucesso e é considerado um dos marcos da animação. Já o disco com a trilha sonora lançado em seguida é considerado um dos piores da banda, além de ser o único a nunca ter alcançado o número 1 nas paradas americana e britânica.
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