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SINFONIA DE PARIS: "o maior entretenimento de dança do cinema" Cinemateca

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Leslie Caron e Gene Kelly estrelaram o musical Sinfonia de Paris (1951).

O musical é um dos gêneros mais antigos e tradicionais do cinema hollywoodiano. Assim que o cinema começou a falar, ele começou também a cantar e a dançar. Não por acaso, o anúncio publicitário de Melodia da Broadway (1929), primeiro filme americano integralmente falado, dizia: "All Talking! All Singing! All Dancing!" (Todo Falado! Todo Cantado! Todo Dançado!). Dentre os musicais mais célebres da Hollywood Clássica estão Cantando na Chuva (1952), A Noviça Rebelde (1965), Amor Sublime Amor (1961), Mary Poppins (1964), O Mágico de Oz (1939), dentre outros. Falaremos nesta edição sobre Sinfonia de Paris (1951), importante musical de Vincent Minelli, premiado com o Oscar de Melhor Filme em 1952.

O clássico de 1951 foi inspirado em An American in Paris,  composição orquestral de George Gershwim, criada em 1928. À melodia de Gershwim foram acrescentadas letras de Ira Gershwin (irmão do compositor) e contribuições adicionais de Saul Chaplin, o diretor musical do filme. O roteiro ficou sob a responsabilidade de Alan Jay Lerner, que tem no currículo outros musicais, como o premiadíssimo Minha Bela Dama (1964) e Camelot (1967). A direção do longa-metragem caiu nas mãos de Vicent Minelli, um dos diretores que mais contribuíram para o gênero musical, tendo dirigido obras-primas como Agora Seremos Felizes (1944), O Pirata (1948) e A Roda da Fortuna (1953).

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I Got Rhythm - assista - clique aqui

Sinfonia de Paris conta a história de Jerry Mulligan (Gene Kelly), veterano americano da Segunda Guerra Mundial que tenta ganhar a vida em Paris como pintor. Sob a aura romântica da cidade das luzes, Jerry se apaixona por Lise (Leslie Caron), uma jovem francesa já comprometida com Henri (Georges Guétary). Ainda que corresponda aos sentimentos de Jerry, Lise sente que tem uma dívida de gratidão com Henri, que a havia protegido durante a guerra, o que a impede de ficar com o seu verdadeiro amor. O musical conta uma singela história de amor sob o formato de um grande espetáculo e ao som de belas canções como  "I Got Rhythm", "I'll Build A Stairway to Paradise", " 'S Wonderful”  e "Our Love is Here to Stay".

Apesar de se passar na capital francesa, Sinfonia de Paris foi filmado quase inteiramente nos estúdios da MGM, na Califórnia. Cerca de 44 cenários foram construídos para o longa-metragem. Estima-se que os custos da produção ultrapassaram os 2 milhões de dólares. Não foi fácil convencer os chefões da MGM a investir em uma produção dessa grandeza. Diz-se que Gene Kelly, astro do filme, teve que exibir o belíssimo clássico britânico Os Sapatinhos Vermelhos (1948) para convencê-los a bancar um filme de dança.

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'S Wonderful - assista - clique aqui 

Gene Kelly é, por sinal, o grande nome deste clássico. Além de estar diretamente envolvido na produção do musical, o galã atuou, coreografou os números musicais e ainda dirigiu algumas cenas do filme. Na época, Vincent Minelli (pai de Liza Minelli) estava se separando de sua mulher, a atriz Judy Garland, o que exigia muito do tempo e da atenção do diretor. No mesmo ano em que Sinfonia de Paris foi escolhido como o Melhor Filme no Oscar, Gene Kelly ganhou uma estatueta honorária da Academia (seu único Oscar) “pela sua versatilidade como ator, cantor, diretor e dançarino e, principalmente, pelas suas brilhantes realizações na arte da coreografia no cinema”. Em 1952, um ano após o lançamento de Sinfonia de Paris, Gene Kelly dirigiu, ao lado de Stanley Donen, aquele que é considerado o maior musical de todos os tempos, Cantando na Chuva (1952). Gene Kelly dirigiu, ao todo, dez longas-metragens de ficção e um documentário para o cinema.

Como se atuar, cantar, dirigir e coreografar não fossem o bastante, Gene Kelly foi o responsável pela descoberta da protagonista de Sinfonia de Paris, lançando a atriz francesa Leslie Caron ao estrelato. A princípio, o filme seria protagonizado pela bela Cyd Charisse (uma das parceiras habituais de Kelly em cena), mas a atriz/dançarina acabou por descobrir que estava grávida. Kelly, então, passou a insistir que o principal papel feminino do filme fosse dado a uma legítima francesa. Ele se lembrou de uma promissora bailarina que muito o havia impressionado no ano anterior em um espetáculo de balé em Paris. Kelly foi então à procura da jovem Leslie Caron, que tinha apenas 19 anos na época. Sinfonia de Paris foi a grande estreia da atriz nas telonas. Caron estrelou diversas produções americanas, tendo sido indicada duas vezes ao Oscar, por Lili (1953) e por A Mulher que Pecou (1962). Por seu último trabalho, em 2006, a atriz, que hoje tem 81 anos, foi premiada com um Emmy, maior prêmio da televisão americana.

DivulgaçãoOur Love is Here to Stay - assista 

Sinfonia de Paris foi um imenso sucesso de público e de crítica. Um dos maiores trunfos do clássico é sua aclamada sequência final de balé, que conta com aproximadamente 17 minutos de dança. Esta sequência custou meio milhão de dólares e levou um mês para ser filmada, tendo quase sido cortada devido ao atraso que ela gerou na produção. Gene Kelly e Vincent Minelli insistiram para que a sequência fosse mantida, defendendo a ideia de que o filme não seria eficiente sem ela. Eles estavam certos. O número musical continua a impressionar ainda hoje. Para a sequência, a renomada figurinista Irene Sharaff idealizou diferentes cenários baseados nas obras de famosos pintores impressionistas, como Raoul DufyMaurice Utrillo, Henri RousseauVan Gogh e Toulouse-Lautrec. As gigantescas telas levaram seis semanas para serem terminadas, com o auxílio de 30 pintores. Cada ato do número final de dança foi realizado com palheta de cores, figurinos e coreografias diferentes.

Na época do lançamento de Sinfonia de Paris, a MGM promoveu o filme, dizendo que esse se tratava do “maior entretenimento de dança jamais visto na tela do cinema”. Ainda que pareça exagerada, a declaração provavelmente não está longe de ser verdade. Sinfonia de Paris é acima de tudo um grande espetáculo. Não é de todo incompreensível que alguns críticos contemporâneos torçam o nariz para esse clássico ou mesmo o considerem superestimado. O conteúdo do filme pode, sim, parecer insípido ou cheio de clichês. Afinal, até mesmo a história de amor do filme está a serviço do espetáculo. Sinfonia de Paris provavelmente não é o melhor filme de Minelli e talvez não tenha envelhecido tão bem como Cantando na Chuva, mas é, ainda assim, uma obra-prima vibrante de criatividade, onde tudo é cor, som e movimento. O filme foi ganhador de seis Oscars (Melhor Filme, Melhor Direção de Arte, Melhor Fotografia à Cores, Melhor Roteiro, Melhor Trilha Sonora e Melhor Figurino).

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Ballet – An American in Paris - assista

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