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O Som do Oscar 2012 - parte 4: CAVALO DE GUERRA Frame Sonoro

Divulgação

Gary Rydstrom. Esse é o cara que sabe apertar os botões certos numa mesa de mixagem. Ele é referência na indústria quando se fala em pós-produção de som e em sua invejável carreira nos brindou com trabalhos de concepção sonora simplesmente inesquecíveis. Só para citar alguns: O Resgate do Soldado Ryan, Titanic, O Exterminador do Futuro 2 e o primeiro Jurassic Park. Todos esses vencedores do Oscar nas categorias de som. Ele também deixou sua assinatura em vários títulos bastante populares como Procurando Nemo, Minority Report, Star Wars - Episódio I, além de muitos outros.

Cavalo de Guerra é um dos filmes que marca o seu retorno como sound designer e mixador após uma pausa de cinco anos. Neste período, ele se dedicou a outras funções como consultor da Pixar e até mesmo como diretor de alguns curtas de animação.

Neste drama-de-guerra-para-toda-a-família do diretor Steven Spielberg, a primeira coisa que chama a atenção no trabalho sonoro é a quantidade, qualidade e variedade dos sons dos cavalos. Desde as respirações (leves e rápidas quando estão alegres, pesadas quando estão tensos e assustados) passando por vários tipos de relinchos e até mesmo pelos sons dos cascos, onde às vezes é utilizado o canal de sons graves para acompanhar o "humor" dos animais. Mas o complexo desenho de som revela um trabalho bastante minucioso e perfeccionista, típicos de Rydstrom.
 
Vamos a algumas sequências que merecem destaque:

- Quando a cavalaria inglesa ataca de surpresa um acampamento alemão, os soldados ingleses gritam a plenos pulmões como forma de intimidar o inimigo. Vários planos enfatizam a formação avançando a pleno galope, com os cavaleiros berrando e brandindo suas espadas. Os alemães, pegos desprevenidos, saem correndo desordenadamente, sem saber o que fazer. Mas assim que eles alcançam suas metralhadoras e começam a disparar, os gritos dos cavaleiros britânicos simplesmente cessam. Continuamos a ver a cavalaria avançando, mas já sem os sons entusiasmados dos ingleses. Neste caso, a edição de som foi utilizada de maneira bem sutil para indicar essa mudança narrativa: os alemães conseguiram inverter o jogo.


Veja a cena completa aqui.

- Numa outra cena que acontece no interior de um moinho de vento, dois irmãos alemães estão escondidos. Em certo momento ouvimos caminhões cheios de soldados se aproximando. Detalhe: a câmera não sai de dentro do moinho. O som vai surgindo no canal traseiro direito, se desloca para o canal traseiro esquerdo e vai "passeando" em volta do público até "estacionar" no canal frontal esquerdo. É na verdade algo muito simples, mas o efeito é fantástico. A partir de um ponto de vista de um personagem que está num ambiente interno, diversas informações do ambiente externo são passadas ao público sem necessidade de inserção de novos planos.

- Imagine a cena em que Joey se prende aos arames farpados sem o devido acompanhamento sonoro (ou que este esteja mal executado). A cena perderia metade do seu impacto, tanto por causa dos sons dos arames em si quanto pelos relinchos agonizantes do animal.

- Mais para frente, quando os ingleses invadem uma trincheira alemã, podemos ouvir um eerie. Geralmente, eeries são utilizados como ambiências de fundo em "filmes de casa mal assombrada". Neste caso foi uma sacada genial de Gary Rydstrom incluir esse som baixo e contínuo, que em conjunto com as explosões distantes aumenta a sensação de devastação e morte que ronda todo aquele lugar. 

Mas o melhor Rydstrom reservou para as cenas de batalhas.

Para começar, os sons das armas são mais crus, mais secos e sem a sofisticação do sons de armas utilizadas, por exemplo, em filmes retratando a Segunda Guerra Mundial. Em entrevistas, Rydstrom revela que o próprio Spielberg deu como referência sonora as cenas de batalhas de Glória Feita de Sangue, filme de 1957 do diretor Stanley Kubrick. E, de fato, ouvimos muito o sibilar dos tiros de morteiros sobrevoando as trincheiras em conjunto com as explosões constantes e cada vez mais próximas (e pelo jeito Glória Feita de Sangue foi também muito referenciado não só na parte sonora, mas também na concepção fotográfica do filme, pelo menos nas cenas nas trincheiras).

O desenho de som do fogo cruzado, tanto dos ingleses quanto dos alemães, é talvez um dos mais bem feitos em se tratando de batalhas campais da Primeira Guerra Mundial: os tiros, explosões, veículos, os gritos dos soldados, o som da terra caindo sobre suas cabeças... É tudo muito bem concebido e mixado. É uma experiência cinematográfica em tanto desfrutar essas cenas numa tela grande e com um sistema 7.1.

Se é para citar alguns pontos negativos na edição de som, tem um detalhe que às vezes incomoda: os ruídos das roupas e tecidos (clothes) em alguns trechos soam um pouco altos e fora de sincronismo. E a música de John Willians é descritiva demais, além de estar presente praticamente o filme todo (mas este é outro departamento: hierarquicamente, John Willians responde ao diretor e não ao departamento de som).

Em suma, Cavalo de Guerra é um trabalho rigoroso, rico em detalhes e perfeccionista, onde Gary Rydstrom e sua equipe podem exercitar seu incrível talento de criar universos sonoros que apoiem a narrativa. É mais um trabalho digno de nota que pode ser incluído à sua invejável galeria de filmes.

Vamos aguardar ansiosos por Valente, a próxima animação da Pixar (com previsão de estréia em julho no Brasil) que também terá Mr. Rydstrom apertando os botões certos.
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LEIA TAMBÉM sobre os demais indicados ao Oscar nas categorias de som: A Invenção de Hugo CabretDrive, Millennium: Os Homens que Não Amavam as Mulheres Transformers: O Lado Oculto da Lua. 

Sobre o autor:

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