Na primeira parte da série dedicada aos indicados ao Oscar nas categorias de Som, eu analisei A Invenção de Hugo Cabret e Drive. Na segunda, foi a vez de Millennium - Os Homens que Não Amavam as Mulheres. Agora é a vez de...
Transformers: o Lado Oculto da Lua
Nada mais irônico do que, logo após escrever sobre Millennium, falar sobre um filme tão diferente de em sua proposta sonora. Neste Transformers não temos nada de sutilezas, nada de ambiências ricas em texturas ou nuanças. Aqui estamos pisando na área dos efeitos sonoros (SFXs e Hard SFXs) em sua forma quase pura. O que temos no cardápio são diálogos, música onipresente e os já citados efeitos sonoros em seu estado mais bruto. E não há espaço para mais nada, infelizmente.
Não existe um filme dessa série que não tenha sido indicado ao Oscar em alguma categoria de Som e, de fato, o trabalho de Ethan Van der Ryn e Greg P. Russell, respectivamente supervisor de som e mixador, é simplesmente impecável dentro desta área em específico de efeitos sonoros. As misturas que eles conseguem dos sons dos robôs se tansformando em carros (e vice-versa) são por si só uma aula de sound design. E a cada filme eles estão mais aprimorados. Por meio de utilização das mais diferentes fontes sonoras a dupla consegue criar texturas que soam ao mesmo tempo mecânicas e sintetizadas, muito eficientes para o propósito do filme.
Um aspecto a merecer destaque são as vozes dos robôs, repletas de efeitos, mas que ao mesmo tempo soam personalizadas e distintas. Interessante também é a forma como a mixagem distribui essas vozes dentro dos três canais centrais (L, C e R). Algo incomum mesmo para filmes deste gênero, mas nos dá a dica de que esse trabalho foi pensado em ser projetado em telas extremamentes grandes. Infelizmente, esse efeito soa exagerado numa tela de cinema convencional (como nos cinemas aqui no Brasil) e mais ainda numa TV de LCD (ou LED, ou plasma) convencional.
Outros pontos relevantes são o intenso uso dos canais surround. Se tem um filme que pode se dar ao luxo de ter seus canais traseiros explorados à exaustão, esse filme é qualquer um da série Transformers. É também curiosa a forma de utilização do canal de frequências graves em todas as vozes dos robôs.
Aliás, este é um outro aspecto que merece ser comentado. Acho que nunca filmes dependeram tanto do seu canal de frequências graves (LFE) como os da franquia Transformers. São tantas as cenas de explosões e tiros, que praticamente o canal dos graves é usado o tempo todo. Isso traz uma tremenda desvantagem para quem assiste ao filme sem esse recurso, perdendo praticamente uns 90% do impacto sonoro do que foi planejado pelos realizadores.
Embora esteja presente praticamente no filme inteiro, a música de Steve Jablonsky é muito eficiente e ele consegue criar um score que pega bastante no emocional (apesar da mesma fórmula vir se repetindo em toda a franquia). Com exceção dos temas militares-ufanísticos, onde a coisa descamba para o quase constrangimento.
Não por culpa dos responsáveis pelo departamento de som, mas pelo filme em si, esse trabalho do diretor Michael Bay soa desagradavelmente barulhento e cansativo, às raias do insuportável. Não há respiros ou pausas, mas uma sucessão de cenas de perseguição, tiros, explosões e lutas que já deixam qualquer um atordoado antes da metade. Tem lá seus admiradores e, não por acaso, muito em breve teremos Transformers 4 a martelar nossos ouvidos e mentes.
Confira o vídeo do site SoundWorks Collection sobre o trabalho da equipe de Som de Transformers: O Lado Oculto da Lua.