Você certamente já assistiu a algum vídeo musical e pensou: "Nossa, esse clipe daria um belo filme!" Portanto, nada mais justo que dedicar um especial apenas para tentar curar de alguma maneira as frustrações de assistir a videoclipes que muitas vezes conseguem ser mais interessantes que um filme inteiro. Para a nossa homenagem, esse especial da coluna Cineclipado terá mais de uma parte, e a primeira, que você irá ler a seguir, inclui as preferências de leitores e colegas de profissão, entre eles a equipe de redação do Cinema em Cena.
Eddie Vedder, vocalista do Pearl Jam, buscou inspiração em uma tragédia para escrever a letra de uma de suas músicas mais populares. Um jornal havia publicado uma matéria sobre um garoto de 15 anos que se matou na frente de seus colegas e o fato ganhou uma versão musical em “Jeremy”, sugestão da jornalista e crítica de cinema Thais Vieira.
O vídeo dirigido por Mark Pellington apresenta um jovem estudante que é perseguido por seus colegas de escola enquanto surgem palavras e citações da bíblia. Vedder surge como uma espécie de narrador do drama vivido por Jeremy, que não tem paz e sossego nem mesmo quando está na companhia dos pais. Em tempos em que o bullying é um assunto recorrente e que atentados semelhantes se tornaram comuns, uma adaptação de “Jeremy” seria bem vinda. Quem sabe pelas mãos de Gus Van Sant, um cineasta acostumado a trabalhar com os dramas adolescentes?
Rodolfo Viana, editor da Abril e do site Dois Parágrafos, indicou dois clipes: “Born Free”, da cantora M.I.A., e o clássico “Sabotage”, dos Beastie Boys. O primeiro vídeo é dirigido pelo promissor Romain Gavras, filho do cineasta Costa Gavras, e que está concorrendo ao VMA 2012 por uma nova parceria com a cantora em “Bad Girls”. Se os videoclipes do diretor chegam a arrepiar em pouco menos de 10 minutos, imaginem como seria caso ele levasse algum de seus trabalhos para as telas de cinema.
A outra indicação é nada mais que uma das grandes obras-primas musicais televisionadas na MTV. Com a direção eficiente de Spike Jonze (Onde Vivem os Monstros) e o humor afiado do roteiro cheio de referências aos filmes e seriados policiais da década de 70, um filme inspirado em “Sabotage” teria uma recepção bem mais calorosa que a recente refilmagem de Starsky & Hutch – Justiça em Dobro, de 2004.
Heitor Valadão, redator e colunista do Cinema em Cena, demorou menos que dois segundos para sugerir "Wrong", do Depeche Mode. O vídeo do diretor Patrick Daughters foi indicado ao Grammy Award de Melhor Vídeo em Formato de Curta, além de ser considerado por diversas publicações especializadas como um dos melhores clipes do ano. A história é angustiante: um homem acorda dentro de um carro em movimento e tenta se esforçar para escapar com vida de uma desenfreada série de acidentes causadas pelo veículo desgovernado. Detalhe é para a máscara de Halloween usada pelo personagem principal, que só consegue observar o rastro de destruição e revolta das vítimas. Será que funcionaria em um formato de longa-metragem semelhante ao trabalho claustrofóbico de Joel Schumacher em Por Um Fio ou Rodrigo Cortés em Enterrado Vivo?
Para quem estiver curioso sobre o paradeiro da banda atualmente, o Depeche Mode não lançou mais nada desde Sounds of Silence, de 2009, (exceto uma participação em um disco tributo aos 20 anos de lançamento de Achtung Baby, do U2) e está preparando o lançamento de um novo disco de estúdio para abril.
O leitor Guilherme Fernandes deixou várias sugestões interessantes, mas o vídeo escolhido acabou sendo o melodramático "She Will Be Loved", do Maroon 5. A experiente Sophie Muller foi contratada para repetir mais uma parceria com a banda de Adam Levine após o sucesso de "This Love", também de 2004. Não seria um absurdo afirmar que o clipe tem influências de A Primeira Noite de um Homem, de Mike Nicholls, já que Levine vive o namorado da filha que se apaixona perdidamente pela mãe e protagoniza cenas calientes sem medo de ser feliz. Um longa-metragem inspirado no videoclipe seria, no mínimo, provocante.
O vocalista e guitarrista Daniel Johns tinha menos de 20 anos quando escreveu a sua obra-prima "Emotion Sickness", faixa de abertura de Neon Ballroom, terceiro e mais conhecido disco dos australianos do Silverchair. O clipe do diretor Cate Anderson foi uma sugestão dos leitores Isabelle Brasil e Yuri D’avila. Será que um diretor como Darren Aronofsky (Réquiem Para Um Sonho) faria um bom trabalho em adaptar a esquizofrenia visual e sentimental da canção?
O vídeo de “Ela Disse Adeus”, do Paralamas do Sucesso, é praticamente um curta-metragem “mudo”. Fernanda Torres protagoniza o vídeo, cuja trama gira em torno do sofrimento de três donas de casa (todas vividas por Torres) que passam por verdadeiros perrengues ao lado de seus respectivos maridos, interpretados pelos integrantes da banda.
A sugestão partiu de Larissa Padron, parceira de redação aqui no Cinema em Cena: “Gosto do 'Ela Disse Adeus' pela ironia de trabalhar a imagem de uma mulher forte, que decide se vingar dos maus-tratos dos homens de sua vida, utilizando a estética dos filmes mudos, nos quais geralmente as mulheres eram retratadas como frágeis e donzelas. A atuação da Fernanda Torres também faz com que o humor-negro do clipe seja muito eficiente”. Ou seja, o vídeo já teria todos os elementos necessários para se tornar um divertido longa-metragem. Quem sabe até mesmo com o retorno de Fernanda Torres no papel principal?
Certos diretores de videoclipes não têm medo de se arriscarem em projetos ambiciosos e que certamente dariam belos exemplares de filmes de ação. Este é o caso do clipe “Full of Regret”, da banda de rock canadense Danko Jones. Estrelado pelos atores Elijah Wood (O Senhor dos Anéis) e Selma Blair (Segundas Intenções), que interpretam um casal de perigosos assassinos, o clipe ainda conta com uma participação especial de Lemmy Kilmister, da banda Motorhead. De todos os clipes mencionados nesta edição, a sugestão do leitor Danilo Carvalho é a única que renderia um filme de ação eletrizante e que poderia colocar o gigante Dwayne “The Rock” Johnson no papel do vocalista.
Inspirado e com um verdadeiro espírito rock n’roll, Danilo também sugeriu “Howlin’ For You”, da banda Black Keys, como um clipe que merecia ganhar um longa-metragem. Será que ele concordaria em imaginar Robert Rodriguez na direção? Afinal, o vídeo tem referências claras aos filmes exploitation que inspiraram Rodriguez e Quentin Tarantino durante a produção de Grindhouse.
Renato Silveira, nosso querido editor-chefe, sugeriu os clipes da banda Aerosmith. O problema é escolher apenas um dos vários vídeos que poderiam dar origem a um longa-metragem, especialmente quando diretores como Michael Bay e David Fincher foram os responsáveis por alguns dos grandes hits da banda na MTV. Inclusive, clique aqui para ler a edição especial do Cineclipado dedicada para a banda de Steven Tyler e Joe Perry.
Estrelado por Liv Tyler e Alicia Silverstone, o vídeo de “Crazy” merecia uma versão para o cinema. Quem sabe algo como Thelma e Louise, de Ridley Scott, em uma versão censura mais ou menos livre e com Chloë Moretz e Dakota Fanning matando um dia de aula de uma maneira que deixaria Ferris Bueller orgulhoso.
Agradecimento especial a todos os leitores que participaram sugerindo vídeos, dentre eles "Knights of Cydonia", do Muse, que só não entrou na lista porque havia aparecido em uma edição recente do Cineclipado. As outras sugestões estão devidamente anotadas para marcarem presença na “continuação” do especial de clipes que deveriam virar filmes. Para quem quiser participar da próxima edição, basta deixar um comentário abaixo com a sua sugestão.
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