O Curta em Cena desta semana traz o lançamento virtual de um curta-metragem nacional produzido e dirigido pelo cineasta mineiro Cesar Raphael. Pedaço de Papel teve sua premiere no Palácio das Artes, em Belo Horizonte, no ano de 2009. Desde então venceu diversos prêmios, como o Melhor Curta-Metragem (na escolha do público) no Festival Internacional de Cinema de Itu, em 2009; Melhor Curta-Metragem no Gasparilla International Film Festival, em 2010; e Melhor Curta-Metragem no Los Angeles Brazilian Film Festival, em 2011.
Misturando drama e ação, e sendo conduzido pela pergunta "Até onde você iria por um pedaço de papel?", o curta-metragem narra o trajeto de uma cédula de dinheiro da sua impressão até o seu destino final, passando pelas mãos dos mais variados personagens. O projeto independente foi realizado em uma parceria da Lumiart com a produtora Carla Onodera, que conseguiu viabilizar a produção com cerca de 20% do orçamento inicial, estimado em R$ 400 mil.
O sucesso de Pedaço de Papel inspirou o começo de um longa-metragem chamado The Traveler, que já está sendo produzido em Los Angeles, Estados Unidos. A expectativa é contar com pelo menos dois grandes nomes do cinema brasileiro, de acordo com Thiago Bento, produtor-executivo do longa. The Traveler começa a ser filmado no primeiro semestre de 2012.
Assista a Pedaço de Papel:
O Cinema em Cena entrevistou Cesar Raphael, diretor do curta-metragem, e ele contou um pouquinho mais sobre como foram as etapas de produção do filme. Confira:
Quais são as facilidades que um autor independente tem de trabalhar ao lado de uma produtora, como a Lumiart, em comparação com aqueles que tem que fazer o trabalho sozinho e sem contar com a ajuda de poucos ou nenhum profissional?
A Lumiart foi fundada por mim mesmo juntamente com meu primo e sócio Thiago Bento justamente com o objetivo de viabilizar nossos projetos cinematográficos. No início éramos somente eu e ele, sem a ajuda de nenhum profissional, montando nossos projetos e trabalhando duro no "escritório" que montamos na lavanderia da casa da minha mãe. Portanto não existem facilidades, pois a Lumiart não foi uma produtora que me descobriu, me abriu as portas e estabeleceu uma parceria. Ela foi uma produtora que eu mesmo criei e dei tudo de mim construindo uma estrutura e organização para possibilitar a realização dos tipos de projetos que eu queria, segundo as minhas determinações e o mais importante: mantendo o controle criativo.
A sua presença no elenco do filme se deve a alguma das influências em trabalhos de outros diretores que também atuam? Aproveitando: quais cineastas serviram como referência?
Eu venho atuando nos meus filminhos amadores desde os 7 anos. Atuei também no meu primeiro curta metragem, lançado em 2006. Portanto foi algo natural o meu desejo de estar no elenco de Pedaço de Papel e continuar evoluindo como ator. O cineasta que mais me influencia é o Charles Chaplin. E na verdade após assistir O Grande Ditador pela primeira vez foi quando eu soube que era isso que eu queria fazer para o resto da minha vida. Outros cineastas que eu admiro e me inspiro são Richard Linklater e Darren Aronofsky.
Quanto à produção do longa-metragem The Traveler, ele será uma expansão das tramas apresentadas em Pedaço de Papel?
Não exatamente. O Pedaço de Papel é uma inspiração para o longa. Nós demos um grande passo a frente do curta em todos os sentidos. A pergunta levantada no curta "até onde você iria por um pedaço de papel?" se torna agora "até onde você iria pelos seus sonhos?". Vários personagens presentes no Pedaço de Papel foram adaptados e utilizados, a temática de "o momento em que o ser humano se torna corrompido" vem a tona novamente e várias cenas são evoluções naturais de cenas do curta. Contudo, dito isso, temos uma história e trama totalmente diferentes.
Qual sequência foi a mais complicada de filmar? Algumas das cenas chegaram a ser repetidas quantas vezes para se chegar ao resultado desejado?
Certas cenas chegaram a ser repetidas até 25 vezes para atingir o resultado que eu desejava. Acredito que a mais complicada foi a cena do estupro, pois além da carga emocional forte, era uma cena noturna, externa, em um plano sequência e com um movimento de câmera bem específico. Foi complicado, mas no fim fiquei feliz com a cena e orgulhoso da equipe e do elenco.
De onde veio a inspiração para criar esse roteiro em que vários personagens são conectados pelo objeto que "domina" o mundo?
É muito difícil dizer de onde vem a inspiração. Eu acredito que no caso deste filme, veio da observação do mundo. Da minha reação a uma notícia no jornal ou a algo que está acontecendo logo ali na esquina da sua casa. Eu acho que todo artista externaliza a sua visão de mundo através da arte. Seja pintura, música, dança, escultura ou filmes.
Quais foram as referências de Daniel Barros para a composição da trilha sonora?
O Daniel Barros é um gênio criativo! A criação da musica foi toda baseada em sentimentos e no fato de que como o curta não tem diálogos, “a música é a fala do filme”. Esta era a nossa filosofia. Qual é o sentimento real da cena? Este sentimento deve ser traduzido para forma musical e sincronizado perfeitamente com as ações da mesma forma que a voz é sincronizada com o movimento labial. E o Daniel não somente é um gênio musical, mas também é aberto para colaboração. Nossas referências musicais foram desde música clássica até Hans Zimmer, Clint Mansell e James Horner. A conexão criativa estabelecida entre nós é algo raro e eu estou feliz de dizer a parceria vai se repetir no longa The Traveler.
Para mais informações, acesse o hotsite do filme.