Michael Cimino começou sua carreira na sétima arte coescrevendo Corrida Silenciosa (1972), sci-fi de Douglas Trumbull, com Bruce Dern, e Magnum 44 (1973), com Clint Eastwood. Ao lado de Jeff Bridges, Clint trabalhou novamente em O Último Golpe (1974), estreia de Cimino no combo roteiro-direção.

A seguir, seu trabalho ainda iniciante logo passaria por uma reviravolta, com surpreendente ascensão. Escrito, dirigido e produzido por Cimino, O Franco Atirador (1978) conquistou muitos troféus e nomeações. Além das estatuetas de Melhor Filme e Melhor Som pela Academia, Cimino levou o Oscar (e o Globo de Ouro) como Melhor Diretor em 1979. Christopher Walken foi o Melhor Ator Coadjuvante, sendo Robert De Niro e Meryl Streep também indicados para o prêmio como protagonistas.

O estrondoso sucesso de O Franco Atirador permitiu a Cimino o domínio sobre O Portal do Paraíso (1980), que, conforme analisamos em nosso podcast, se transformou em um enorme fiasco de crítica e público no lançamento, contrário a todas as expectativas durante o obsessivo processo de montagem, os inúmeros takes rodados por cena e o absurdo orçamento que extrapolou todos os limites daquela e de muitas épocas. O documentário Final Cut: The Making and Unmaking of Heaven's Gate (2004) ilustra esse episódio, responsável pela falência da United Artists. Cimino alegou que o livro de Steven Bach, anterior ao documentário, não passa de “pura ficção”. Conquering Horse, adaptação do romance de Frederick Manfred, foi cogitado como continuação para o western.

Cimino abandonou um roteiro intitulado Perfect Strangers devido à morte de seu pai. Com James Toback, escreveu uma cinebiografia para o chefe da máfia Frank Costello, mas os estúdios Fox declinaram a obra, problemática devido à quantidade de informações e potenciais cenas a serem minuciosamente filmadas (o cenário parece familiar?).

O diretor chegou a ser considerado para realizar O Rei da Comédia (1982), que acabou sendo feito por Martin Scorsese, recusou The Pope of Greenwich Village (1984) e em seguida a Paramount Pictures lhe ofereceu Footloose (1984). Mas por sua habitual extravagância, foi finalmente demitido devido às inúmeras exigências e excessos que cometia no set, ficando o filme a cargo de Herbert Ross.

Ainda abatido e subestimado pelo rótulo de destruidor da Nova Hollywood, convidou Oliver Stone para dividir o roteiro de O Ano do Dragão (1985). Outra vez de forma oposta à glória absoluta de O Franco Atirador, O Ano do Dragão foi nomeado a cinco categorias do Framboesa de Ouro, entre elas Pior Filme, Pior Diretor, Pior Atriz e Pior Roteiro.

Mesmo assim, Cimino ergueu a cabeça e com coragem enfrentou uma nova empreitada: produziu e dirigiu O Siciliano (1987), um spin-off de O Poderoso Chefão, baseado no livro escrito por Mario Puzo, com Christopher Lambert como o protagonista Salvatore Giuliano.

 

Cimino se ofereceu como voluntário para a direção de Nascido em 4 de Julho (1989), mas os produtores não permitiram e o filme foi dirigido por seu parceiro Oliver Stone. Nos anos 90, Cimino realizou Horas de Desespero (1990), remake do original de 1955 com Humphrey Bogart, desta vez com Anthony Hopkins e Mickey Rourke, nomeado como Pior Ator pelo Razzie Awards, para "honrar" a tradição.

 

Mais tarde, o longa Na Trilha do Sol (1996), estrelando Woody Harrelson e Anne Bancroft, arrecadou menos que o suficiente para cobrir seus custos. Entretanto, o resultado agradou Cannes e Michael foi nomeado para receber a Palma de Ouro.

 

Cimino gostaria de ter rodado adaptações de The Fountainhead, de Ayn Rand, com Clint Eastwood como protagonista; The Yellow Jersey, que teria Dustin Hoffman no elenco; além de Crime e Castigo, do Dostoievsky, e muitos outros projetos não realizados. O mais recente entre eles foi A Condição Humana, de André Malraux, ideia que data de 2001. O filme teria três horas de duração sobre a história da Revolução Chinesa.

Após ficar recluso por mais de uma década, Cimino reapareceu com uma participação no roteiro do média Il pianto della statua (2007), dirigido por Elisabetta Sgarbi. Ele ainda dirigiu o segmento No Translation Needed, em Cada Um com Seu Cinema (2007), ao lado de nomes como Roman Polanski, David Cronenberg, Lars von Trier e David Lynch, além dos irmãos Coen.

 

Em 2012, um irreconhecível Michael Cimino foi homenageado no Festival de Veneza, na ocasião do lançamento da restauração digital de O Portal do Paraíso pela Criterion Collection, em DVD e Blu-ray. No mesmo ano, o diretor confessou ao jornal The New York Times que tem um projeto cinematográfico em mente. Será que Cimino conseguirá finalmente se redimir perante Hollywood?