Na série com as divas mais sumidas do cinema, nós já fomos à Itália à procura de Monica Vitti, à Suécia com Bibi Andersson e, agora, vamos fazer um necessário passeio pela França.
Brigitte Bardot, a maior estrela do cinema francês, mostrou ao mundo um novo parâmetro de beleza e sensualidade. Após ser uma exemplar aluna de balé clássico, modelo das principais revistas de moda (incluindo a ELLE) e pouco antes de escandalizar o mundo só de biquini no censurado Marina (1952), a jovem estreou no cinema em Le Trou Normand (1952):
Depois de algumas aparições modestas em filmes como Mais Forte que a Morte (1953) com Kirk Douglas e do papel principal em A Noite de Núpcias (1954), de Mario Bonnard , em 1955, ainda com cabelos ruivos, a garota também rodou:
- A Noiva do Comandante, de Ralph Thomas
- As Grandes Manobras, de René Clair
- A Luz do Desejo, de Georges Lacombe
No ano seguinte, BB fez uma visita aos estúdios de Picasso, e pelo “biquinho” demonstra ter ficado bastante chateada com a recusa do pintor a tê-la como musa de sua arte:
Mas o ano de 1956 ainda reservaria a ela muitos papéis. Além de Helena de Tróia, a deusa atuou ao lado de Gloria Swanson e Vittorio de Sica em Meu Filho Nero:
Casada com Robert Vadim desde 1952, ainda em 1956 ela fez Mademoiselle Pigalle e Desfolhando a Margarida, ambos escritos pelo marido:
O comportamento da selvagem Juliete na estreia de Vadim na direção com E Deus Criou a Mulher (1956) parece ter sido um prenúncio do fim do casamento deles, em 1957. Além da instantânea canonização de Bardot, o longa definitivamente colocou a pacata Saint-Tropez, adotada pela atriz como lar, no mapa do turismo com glamour.
Apesar da separação, Vadim continuou a dirigi-la, em Vingança de Mulher (1958):
Após rodar Amar é Minha Profissão (1958) e A Mulher e o Fantoche (1959), nas filmagens de Babette Vai à Guerra (1959) Brigitte conheceu Jacques Charrier. O casal permaneceu unido até 1962 e nesse período nasceu Nicolas, seu filho único.
BB ocupou o lugar da modelo francesa Sylvia Lopez, que morreu aos 27 anos de leucemia, enquanto rodava Quer Dançar Comigo (1959):
Há uma ponta sua na ”autocinebiografia” O Testamento de Orfeu (1960), do artista Jean Cocteau, um de seus ilustres entusiastas que certa vez declarou: “Sua beleza e talento são inegáveis, mas ela possui um algo a mais que atrai os idólatras numa época privada de deuses".
Em seguida, A Verdade (1960) foi ganhador do Globo de Ouro como Melhor Filme Estrangeiro:
No romance histórico Amores Célebres (1961), ela atuou ao lado do grande astro Alain Delon:
Torneio de Amor (1961) e Vida Privada (1962) representaram, de certa forma, a assediada carga de celebridade que pairava sobre o mito Bardot:
Outra vez sob a direção de Vadim, a personagem de Brigitte – que, na vida real, já havia tentado se matar duas vezes – resgata outro suicida em O Repouso do Guerreiro (1962):
A metalinguagem direciona a obra-prima O Desprezo (1963), de Godard. Três anos mais tarde, Bardot aparece com seus cigarros no premiado Masculino/Feminino (1966) também do diretor:
Depois de coproduzir e atuar em As Malícias do Amor (1964) com Anthony Perkins, BB fez uma visita muito especial ao namorado marroquino de férias no Rio de Janeiro. E assim como Saint-Tropez, a idílica Búzios nunca mais foi a mesma. Além da estátua de bronze instalada no local em sua homenagem, sobre o episódio foi filmado o curta Maria Ninguém (2008) com a apresentadora Fernanda Lima e não-atores locais.
E a musa seguiu a carreira, do circo à revolução em Viva Maria! (1965), ao lado de Jeanne Moreau:
E com um bravo James Stewart em Minha Querida Brigitte (1965). O título da comédia americana foi alterado por intuitos comerciais, pois a atriz não aceitou ter sua participação especial creditada.
Brigitte foi esposa por dois anos (desde 1966) do apaixonado milionário alemão Gunter Sachs. Em 1967, no entanto, se envolveu com Serge Gainsbourg e essa relação rendeu um disco com os maiores sucessos cantados por ela, como "Harley Davidson", "Comic Strip", "Contact" e o famoso dueto "Bonnie And Clyde" (1968).
Outras atuações memoráveis de Brigitte Bardot foram em:
- Eu Sou o Amor (1967), de Serge Bourguignon
- Histórias Extraordinárias (1968), no segmento dirigido por Louis Malle, novamente com Alain Delon
- Em 1968, ela aceita a proposta do presidente Charles de Gaulle e se torna a primeira mulher modelo do busto da Marianne. No mesmo ano, filma Shalako (1968), de Edward Dmytryk, com Sean Connery
- Um ano depois vive a bela Clara em As Mulheres (1969), de Jean Aurel
Nos anos 70, Brigitte Bardot fez suas últimas aparições nas telas. Primeiro, relaxada em O Urso e a Boneca (1970), de Michel Deville:
E com disfarces totalmente antagônicos em As Noviças (1970), de Guy Casaril:
Traficando bebidas em Boulevard do Rum (1971), de Robert Enrico:
E procurada na comédia western As Petroleiras (1971), de Christian-Jaque:
Em Se Don Juan Fosse Mulher (1973) foi dirigida pela última vez pelo ex-marido Roger Vadim. Além disso, seu par romântico no filme foi Jane Birkin, sua sucessora como mais famosa das mulheres de Serge Gainsbourg. “Sem remorsos nem lamentos”, como BB disse muito tempo depois.
Nesta época, Brigitte passou a se sentir desconfortável por envelhecer diante das telas e se cansou dos indiscretos holofotes. Após rodar L'histoire très bonne et très joyeuse (1973), de Colinot Trousse-Chemise, ela se afastou categoricamente das luzes do cinema.
A musa sempre foi fotografada com seus mascotes, mas ao se aposentar da carreira de atriz passou a se dedicar de corpo e alma à causa animal.
Em 1986, ela inaugurou a Fondation Brigitte-Bardot e desde então faz apelos comoventes em várias campanhas em prol dos animais. A fundação patrocinou a série de TV francesa S.O.S. Animaux, que foi ao ar de 1989 a 1992, apresentada por ela (veja aqui).
Em 1992, Brigitte casou-se com o político da extrema-direita francesa Bernard d'Ormale e com ele permanece até os dias de hoje.
Aos 80 anos, a eterna BB continua polêmica. Suas declarações honestas sobre o profundo desprezo e decepção que sente pela humanidade chocaram a mídia e a opinião pública. Outrora uma metonímia da liberdade francesa, agora ela se mostra conservadora e radical. Certa vez declarou não acreditar em laços de sangue, mas há quem diga que o nascimento do primeiro bisneto tenha causado uma aproximação de seu filho, com quem nunca manteve contato.
Apesar de um tanto quanto misantrópica, ela soube aproveitar sua imagem e influência para denunciar maus tratos e matanças cruéis e para incentivar a nobre prática da adoção. Seu genuíno amor pelos animais e sua incalculável presença cinematográfica não deixam dúvidas de que Brigitte Bardot, além de diva, é uma forte e adorável mulher.