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Nick Cave and the Bad Seeds Cineclipado

A carreira de Nick Cave, tão ligada ao cinema, foi finalmente homenageada em 20.000 Dias na Terra (2014), documentário que mostra a rotina do músico e sua performance catártica nos palcos e que foi dirigido pela dupla Iain Forsyth e Jane Pollard, responsáveis pelos clipes do álbum Dig, Lazarus, Dig!!! (2008). Além de compositor e cantor, Cave atuou no primeiro filme do diretor John Hillcoat, Ghosts... of the Civil Dead (1988), e mais tarde, fez pontas em Johnny Suede (1991) e em O Assassinato de Jesse James (2007), ambos protagonizados por Brad Pitt. Além disso, escreveu os roteiros de A Proposta (2005) e Os Infratores (2012).  

Dez anos antes do grande retorno ao dirigir um dos vídeos mais recentes de Cave (já mostrados aqui), Hillcoat havia realizado o apelativo "Bring It On" e "Babe, I'm on Fire", com os membros do grupo caracterizados como os arquétipos descritos na letra. Essas fantasias, entre hilárias e ridículas, dão sentido aos simples acordes repetidos durante 15 minutos:

John Hillcoat começou a trabalhar com os The Bad Seeds seguindo os passos sangrentos de um dos psicopatas mais famosos da história - Jack, o Estripador - com o vermelho explodindo nas telas saturadas de "Jack the Ripper" (1992), e esteve à frente da imagem da banda no efusivo e aterrorizante "Loverman" (1994):

"Do you love me?" (1994), ainda do diretor, foi gravado durante o tempo em que Cave morou no Brasil, com personagens da noite paulista. Do álbum No More Shall We Part (2001), Hillcoat anima a festa em "Fifteen Feet of Pure White Snow" e multiplica imagens em "As I Sat Sadly By Her Side".

Em "Love Letter" – do diretor Tony Mahoney – ao contrário, transparece um enorme vazio, retratado em ruas desertas e pela imagem de Cave em um televisor. A melancolia também predomina em "Into my Arms" (1997) de Jonathan Glazer (já mencionado aqui) e em "(Are you) the one that i've been waiting for?" (1997), de Angela Conway – dona de clipes dos Smashing Pumpkins – que já havia trabalhado com Cave no divertido "The Weeping Song" (1990).

Anton Corbijn – que já trabalhou com U2, Depeche Mode e Metallica – tem se dedicado ao cinema desde Control (2007), cinebiografia de Ian Curtis, do Joy Division, Um Homem Misterioso (2010), com George Clooney, e o recente O Homem Mais Procurado (2014), último longa protagonizado por Philip Seymour Hoffman. Corbijn dirigiu "Straight to You" (1992), que apresenta uma variação considerável nos tradicionais vídeos de palco da banda tocando diante de projeções: quando as cortinas se fecham, são alternadas figuras típicas de circos, cabarés, freak shows...

Mas o clipe que mais se aproxima da linguagem cinematográfica - com um enredo perturbador, emoldurado pela bela fotografia monocromática - é certamente "Red Right Hand" (1994). Jesse Dylan, o diretor, infelizmente não explorou sua capacidade do mesmo modo nas comédias que realizou, como American Pie: O Casamento (2003) e Papai Bate um Bolão (2005). "Red Right Hand" foi trilha de Debi & Lóide (1994), Arquivo X (1998), Hellboy (2004) e da franquia Pânico.

Rocky Schenk, que já fez clipes de Van Halen e Alice in Chains, dirigiu "Henry Lee" (1996), versão em vídeo da parceria com a musa indie PJ Harvey, então amante perfeita para Cave. A inconsolável ruptura do romance com a cantora rendeu as letras de "Black Hair" e "Green Eyes", ambas em The Boatman's Call (1997). Antes disso, Schenk produziu a obra-prima mórbida "Where the Wild Roses Grow" (1995), parceria inusitada de Cave com a cantora pop Kylie Minogue, vítima de um crime passional na trama:

Os vídeos dos anos 80, como "In the Ghetto" (1984), ficaram a cargo de diretores pouco conhecidos, como Evan English e Paul Goldman, que já haviam dirigido os clipes do grupo anterior de Cave, The Birthday Party. O integrante do The Bad Seeds, Mick Harvey, chegou a dirigir o “roadclipe” "Wanted Man" (1985).

Christoph Dreher assumiu a partir de "Tupelo" (1985) e continuou com a banda no intimista "The Singer" (1986). Mas "The Mercy Seat", de Dreher, é o mais representativo para a época devido ao sucesso do disco Tender Prey (1988). As confissões de “presidiário” em preto e branco resumem a atmosfera gótica dos primeiros anos, quando Cave se drogava, mas também ia à Igreja. O paradoxo é uma constante e os elementos sagrados e profanos do sincretismo explorado pela criação de Cave - um verdadeiro deus para seus devotos seguidores - são ainda hoje evocados em suas canções.

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