Além de influente cantor e guitarrista, Bruce Springsteen compôs – entre outras pérolas – a letra de "Because the Night", famosa na voz da madrinha do punk Patti Smith. Mas por pouco, The Boss ("O Chefe"), como é conhecido, não vive um momento embaraçoso em sua admirável e digníssima carreira. Em 1984, Bruce convidou o amigo Jeff Stein – parceiro do The Who e responsável pelo documentário The Kids Are Alright (1979) – para dirigir o clipe de “Dancing in the Dark”:
Esta cópia embaçada – com Springsteen de suspensório e o saxofonista Clarence Clemons de terno vermelho – ilustra o fiasco que poderia ter sido se Bruce, após rodar o único take, não tivesse simplesmente fugido dos estúdios, constrangido pela ambientação totalmente literal do título da faixa ("Dançando no Escuro"), e talvez por alguns momentos de sua dança. As ideias de Stein se encaixaram (bem) melhor em “Rebel Yell”, de Billy Idol, gravado no mesmo ano:
Durante as gravações do infame e obscuro vídeo de Springsteen, também estava no set Daniel Pearl, o renomado diretor de fotografia que simplesmente começou sua carreira com O Massacre da Serra Elétrica (1974). Ele colaborou em videoclipes lendários como "Billie Jean", do Michael Jackson, "Every Breath You Take", do The Police, e "November Rain", do Guns N' Roses. Pearl pôde, no entanto, livrar-se do trauma compartilhado com Springsteen ao demonstrar toda a técnica de iluminação que o cantor merece em "Human Touch" (1992):
The Boss também ganhou um Oscar pela música (que parece cantar com raiva contida entre os dentes) sobre a triste história apresentada em Filadélfia (1993), marco na filmografia de Tom Hanks.
Outros clipes de Springsteen, "Born in the U.S.A.", "I'm on Fire" e "Glory Days" – que inclusive nas primeiras cenas faz referência ao filme Cada um Vive como Quer (1970) – foram dirigidos por John Sayles, roteirista de Piranha (1978), que em 2010 ganhou o remake Piranha 3D.
Mudamos de assunto, e depois de todo esse suspense, é sabido que o caso “Dancing in the Dark” teve um final feliz. Brian de Palma, então famoso por Carrie, a Estranha (1976) e Scarface (1983), foi praticamente convocado para a missão, e ainda em 1984, realizou um dos clipes mais assistidos da MTV na época:
Outra curiosidade cinéfila: além de corrigir o equívoco da versão lado B de Jeff Stein, o clipe fez com que a trajetória de Courteney Cox começasse muito bem. Após dois minutos e meio, podemos ver a atriz como uma jovem groupie sortuda. Dez anos antes de sonhar com o enorme sucesso de Friends e da franquia Pânico, a garota aparece novamente no final dançando ao lado de – agora não mais solitário – The Boss, que ganhou um Grammy pela canção.
Mas esta não foi a primeira experiência de De Palma com os palcos. Dez anos antes ele havia gravado a ópera rock O Fantasma do Paraíso (1974):
Paul Williams, que atua na pele do satânico Swan e compôs uma trilha fenomenal para esse clássico cult, é também autor de vários hits dos Muppets. E por falar neles, reparem na camiseta usada por Miss Piggy em uma homenagem a Springsteen: