Datas de Estreia: | Nota: | ||
---|---|---|---|
Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
08/04/2011 | 01/01/1970 | 5 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
111 minuto(s) |
Dirigido por Mathieu Amalric. Com: Mathieu Amalric, Miranda Colclasure, Suzanne Ramsey, Dirty Martini, Julie Atlas Muz, Angela de Lorenzo, Alexander Craven, Ulysse Klotz, Simon Roth, Joseph Roth.
Ator talentosíssimo que ganhou justo destaque internacional nos últimos anos, o francês Mathieu Amalric (Reis e Rainha, O Escafandro e a Borboleta, Um Conto de Natal) volta para trás das câmeras depois de nove anos afastado da função de diretor e comprova que a experiência adquirida neste período ajudou a transformá-lo não só num cineasta com personalidade, mas também seguro tecnicamente – a ponto de levá-lo a vencer o prêmio de Melhor Direção no último festival de Cannes (o que pode ter sido um certo exagero, já que competia com figuras como Abbas Kiarostami, mas não algo essencialmente injusto).
Cercando-se de um elenco composto em sua maior parte por atores não profissionais que aqui estréiam no Cinema supostamente interpretando versões estilizadas de si mesmos, Amalric constrói, em Turnê, uma história envolvente sobre a importância da família - seja esta de que tipo for. Escrito a oito mãos, o roteiro acompanha o empresário Joachim Zand (Amalric), que, ex-produtor televisivo de sucesso, abandonou a França em função de brigas e processos judiciais. Depois de passar algum tempo nos Estados Unidos, ele retorna ao próprio país acompanhado por uma trupe de dançarinas burlescas e, ao descobrir que o teatro que conseguira em Paris cancelou o compromisso, é obrigado a tentar resgatar algumas relações antigas a fim de alugar um novo espaço.
Mas talvez o resumo apresentado no parágrafo anterior não faça jus a Turnê, já que o filme, em vez de se concentrar em uma trama específica, preocupa-se muito mais em ilustrar o dia-a-dia daquelas pessoas e, principalmente, a dinâmica de seus relacionamentos. Rindo, flertando ou brigando, elas rapidamente levam o espectador a ignorar suas aparências caricatas e a perceber a complexidade de suas personalidades – algo que se deve não só à direção, mas também às belas atuações: Amalric, por exemplo, cria um mundo de significados através da insistência de Joachim em pedir que o som ambiente dos lugares nos quais se encontra seja desligado e ao se ver sempre obrigado a remover os plásticos dos automóveis e teatros que aluga, salientando sua falta de raízes. Enquanto isso, a pin-up Miranda Colclasure (ou melhor: Mimi Le Meaux) revela uma força dramática surpreendente ao retratar a angústia constante de uma mulher cujo sorriso mais aberto surge apenas sobre os palcos. Sugerindo os passados problemáticos de seus personagens sem sentir a necessidade de exposições artificiais, o filme é hábil também ao levar o público a se importar com aqueles indivíduos mesmo que não saibamos exatamente do que estão fugindo ou o que buscam alcançar.
Para completar, o diretor exibe um cuidado importante ao retratar as performances das dançarinas, que se estabelecem sempre interessantes e surpreendentes, conferindo uma autenticidade importante à narrativa – que também encontra tempo, diga-se de passagem, para pequenas e magníficas cenas como aquela em que Joachim flerta com a caixa de um posto de um gasolina, num momento extremamente humano e tocante.
Tão talento por trás das câmeras quanto diante destas, Amalric se estabelece cada vez mais como um dos nomes mais importantes do cinema francês – e Turnê é apenas a coroação de uma trajetória merecedora de infinitos aplausos.
Observação: esta crítica foi originalmente publicada como parte da cobertura do Festival do Rio 2010.
07 de Outubro de 2010
Siga Pablo Villaça no twitter clicando aqui!
Comente esta crítica em nosso fórum e troque idéias com outros leitores! Clique aqui!