Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
01/01/1970 | 01/01/1970 | 4 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
90 minuto(s) |
Dirigido Ondi Timoner. Com: Josh Harris.
Joshua Harris é apresentado, no início do documentário Nossa Vida Exposta, como sendo “um dos maiores visionários da Internet” – e, no entanto, embora trabalhe nesta mídia há 16 anos, confesso que o nome do sujeito surgiu como uma completa novidade para mim. Desconhecimento de minha parte? Talvez. Porém, o simples fato do filme reconhecer que a maior parte de seus espectadores jamais ouvira falar de Harris é algo que comprova a própria essência de sua mensagem: a de que no mundo cada vez mais superficial em que vivemos a fama é fruto não de méritos, mas da simples exposição – e que, justamente por esta razão, desaparece completamente assim que seus personagens deixam de bombardear o público com suas imagens incessantemente.
Um dos principais nomes do boom das pontocom no final da década de 90, Harris foi um verdadeiro pioneiro na transmissão de vídeo online – e isso numa época em que a limitação da velocidade de acesso implicava em obrigar os usuários a passarem mais tempo lendo a mensagem de “buffering” do que assistindo ao clipe que tentavam baixar. Antecipando o conceito do YouTube em pelo menos 12 ou 13 anos, o empresário notabilizou-se não só por sua iniciativa através do site Pseudo.com, mas também por produzir festas que se tornaram célebres na Nova York da época e que, de acordo com um dos entrevistados, ofereciam a curiosa imagem de “supermodelos nuas sentadas nos colos de nerds que jogavam Doom”.
Vitimado por uma infância solitária e uma personalidade patologicamente introspectiva, Harris estava longe de ser um empreendedor capitalista comum – e não demorou muito até começar a surpreender possíveis parceiros comerciais ao surgir em reuniões importantes caracterizado como um alterego palhaço que batizou de “Luuvy”, o que eventualmente o levou a se afastar dos negócios. Em vez de derrubá-lo, no entanto, este obstáculo acabou por libertar de vez a alma de artista do sujeito, que, com um saldo de 80 milhões de dólares no banco, decidiu usar boa parte desse dinheiro para produzir um “experimento” que, por sua própria natureza, antecipava em mais de uma década o fenômeno que hoje testemunhamos da superexposição de nossas vidas através de blogs, vlogs, twitters, BBBs, facebooks e afins. Tratava-se de uma instalação batizada apenas de “Silêncio” e que envolvia mais de cem “hóspedes” habitando um bunker construído pela equipe de Harris e repleto de câmeras em todos os cantos – uma experiência que o protagonista deste documentário continuou ao decidir morar com a namorada em um apartamento igualmente monitorado ao vivo e transmitido 24 horas por dia pela internet.
Dirigido pela bela Ondi Timoner, responsável também pelo ótimo Dig!, Nossa Vida Exposta conta com uma montagem enérgica e dinâmica que, beneficiada também pelos inventivos grafismos, acompanha impressionantes 15 anos da trajetória de Harris, já que a cineasta se tornou próxima do sujeito ainda na época do Pseudo.com. Com isso, o filme ganha a oportunidade de estudá-lo de perto, revelando a imagem de um homem brilhante e realmente visionário que, no entanto, foi implacavelmente sabotado por sua própria personalidade narcisista e com toques claros de sociopatia. Batizado (não sem méritos) de “Warhol da web”, Joshua Harris é um personagem intrigante e que de fato merecia ter sua importância resgatada – algo que este longa faz de maneira envolvente, honesta e divertida.
Observação: esta crítica foi originalmente publicada como parte da cobertura do Festival do Rio 2010.
26 de Setembro de 2010
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