Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
18/03/2011 | 01/01/1970 | 4 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Dirigido por Lucas Belvaux. Com: Yvan Attal, Anne Consigny, André Marcon, Alex Descas, Michel Voïta, Maxime Lefrançois.
O multimilionário Stanislas Graff (Attal), presidente de uma megacorporação, leva uma vida atarefada: logo no início deste O Seqüestro de um Herói, acompanhamos um dia de sua vida e o vemos assinar documentos importantes, almoçar com um ministro de Estado (um instante que salienta a importância do empresário ao mostrá-lo chegando por último e saindo antes de todos), passar algum tempo com a amante, voltar para casa para um jantar com a esposa e as filhas e concluir o batente com uma partida de pôquer que lhe custa uma pequena fortuna. Demonstrando a segurança de um homem que sabe ter dinheiro suficiente para garantir a fidelidade do presidente do país, Stan subitamente se encontra numa posição de extrema vulnerabilidade ao ser seqüestrado por uma quadrilha eficiente, profissional e fria – e que, para provar que não está blefando em seus propósitos, já envia um dos dedos da vítima juntamente com a primeira carta endereçada à sua família.
O roteirista-diretor Lucas Belvaux, porém, não está interessado, aqui, em criar um thriller convencional. Em vez disso, ele busca seguir os passos do mestre Costa-Gavras em Z ao construir uma narrativa que chega a soar documental em alguns momentos em função de sua obsessão com os detalhes envolvidos num caso como este: das negociações com os seqüestradores às discussões entre a família da vítima e a polícia, o roteiro tenta investigar todas as implicações do crime, não esquecendo nem mesmo da preocupação dos acionistas da empresa do protagonista em garantir que o resgate não custará nada à corporação. Assim, enquanto a maioria dos longas do gênero se preocuparia com seqüências de ação que e calcadas na tensão, Belvaux se mostra mais curioso em acompanhar a conversa entre a esposa de Graff (vivida de forma sensivelmente contida por Consigny) e um policial escalado para protegê-la – o que se revela uma escolha muito mais intrigante do que os clichês habituais.
Enquanto isso, Yvan Attal, como o empresário seqüestrado, é bastante hábil ao retratar a alteração na postura do sujeito, que, de homem seguro e controlador, gradualmente se torna alquebrado e fragilizado, estabelecendo um arco admirável entre o início da projeção, quando surge apavorado mas contendo o choro, e momentos específicos no terceiro ato, quando se entrega ao pânico e às lágrimas. Da mesma maneira, a relação entre seqüestradores e vítima experimenta uma evolução visível que surge como conseqüência de todos reconhecerem que, afinal, estão no mesmo barco – o que não torna os criminosos menos ameaçadores, contudo.
Obviamente envolvendo um grande trabalho de pesquisa por parte de Belvaux, o filme ainda acerta ao ilustrar o interesse passageiro da mídia pelo caso e também as principais estratégias empregadas pela polícia e pelos bandidos, incluindo as repercussões psicológicas experimentadas por praticamente todos (e também as físicas, vale dizer, já que a equipe de maquiagem não se esquece sequer das marcas que as correntes usadas pelo protagonista certamente deixariam em sua pele com o passar do tempo).
Mas é mesmo no terceiro ato que O Seqüestro de um Herói revela realmente suas intenções ao investigar o que ocorre após o fim do rapto (se este termina bem ou mal, não me cabe revelar) – e o plano final do longa, triste e ambíguo, merece aplausos especiais por não buscar enfeitar algo que não se tornaria belo nem sob quilos de maquiagem: a solidão e o egoísmo humanos.
Observação: esta crítica foi originalmente publicada como parte da cobertura do Festival do Rio 2010.
27 de Setembro de 2010
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