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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
03/07/2014 01/01/1970 4 / 5 / 5
Distribuidora
Lume Filmes

Direção

Marcel Rasquin

Elenco

Eliú Armas , Fernando Moreno , Marcela Girón , Beto Benites , Gonzalo Cubero , Alí Rondon

Roteiro

Marcel Rasquin , Rohan Jones

Produção

Marcel Rasquin , Rohan Jones

Fotografia

Enrique Aular

Música

Rigel Michelena

Montagem

Carolina Aular

Design de Produção

Maya Oloe

Direção de Arte

Maya Oloe

Hermano - Uma Fábula Sobre Futebol
Hermano

Dirigido por Marcel Rasquin. Com: Eliú Armas, Fernando Moreno, Marcela Girón, Beto Benites, Gonzalo Cubero, Alí Rondon.

Em certo momento de Hermano, pré-candidato da Venezuela ao Oscar 2011, os irmãos vividos por Eliú Armas e Fernando Moreno surgem sentados num terraço enquanto a câmera revela, abaixo deles e estendendo-se em todas as direções, a gigantesca favela na qual vivem – um plano de tirar o fôlego não só pela escala da miséria que revela, mas por apresentar de forma literal o universo de tristeza que ambos querem deixar para trás usando o talento que possuem no futebol como rota de fuga.

Amigos e companheiros de time, Júlio (Armas) e Gato (Moreno) dividem um pequeno barracão com a mãe, por quem têm admiração irrestrita e que apóia os garotos de forma entusiasmada em todas as partidas disputadas pelo campeonato inter-bairros da cidade. Quando um olheiro do Caracas convida os rapazes para um teste, tudo parece se encaminhar na direção desejada pela família – até que uma tragédia envia os irmãos em direções opostas e Gato passa a se esforçar para que Júlio não se perca de vez no universo da violência.

Extraindo sua força da dinâmica entre os dois ótimos atores principais, Hermano retrata com habilidade a relação entre os irmãos, que, sempre competindo entre si de maneira amigável (mas nem por isso menos intensa), surgem como jovens multidimensionais que, mesmo se amando, não deixam de discutir ou trocar uns sopapos de vez em quando – o que não diminui o carinho que sentem um pelo outro. Preocupado ao observar que Júlio está se deixando seduzir pelos bandidos locais, Gato chega a mentir e a esconder informações cruciais do outro, torturando-se por ser o único a conhecer a identidade do indivíduo que destruiu suas vidas por temer que, ao compartilhá-la com o irmão, este mergulharia de vez no crime – um segredo que destrói o garoto internamente.

Escrito pelo diretor Marcel Rasquin ao lado de Rohan Jones, o roteiro ainda se preocupa em estabelecer a importância da comunidade no cotidiano não só daquela família, mas de todos os jovens que tentam viver honestamente apesar das tentações constantes que os cercam, sendo tocante (e contagiante) observar, por exemplo, como os treinos do time local são acompanhados com atenção pelos torcedores que, convidados pelo técnico, chegam a correr ao lado dos jogadores num misto de brincadeira e apoio moral. E se as partidas são retratadas de maneira pouco eficaz pelo diretor e pelos montadores Juan Carlos Melian e Carolina Aular, que tornam as jogadas incompreensíveis em função dos cortes rápidos e da própria movimentação excessiva da câmera (e dos planos fechados), ao menos o filme se sai bem melhor em seu design de produção, que sugere as condições de vida dos garotos através da cozinha e dos quartos extremamente apertados, mas sem deixar de criar um clima familiar agradável através dos enfeites, retratos e da própria cor das paredes do barraco (da mesma forma, detalhes como a falta de um espelho retrovisor no carro do técnico ilustram de maneira econômica o universo dos personagens).

Evitando os estereótipos até mesmo ao compor o chefe do tráfico local e também o sujeito cuja ação dispara o conflito entre os irmãos, Hermano ainda conta com um clímax angustiante e intenso que usa a partida final (normalmente um clichê dos filmes de esporte) como palco da resolução dos embates internos dos personagens, resultando num desfecho catártico, surpreendente ao seu próprio modo e que enriquece ainda mais este belíssimo longa venezuelano.

28 de Outubro de 2010

Observação: esta crítica foi originalmente publicada como parte da cobertura da Mostra Internacional de Cinema de SP 2010.

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Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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