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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
02/03/2012 01/01/1970 3 / 5 3 / 5
Distribuidora
Fox
Duração do filme
84 minuto(s)

Poder Sem Limites
Chronicle

Dirigido por Josh Trank. Com: Dane DeHaan, Alex Russell, Michael B. Jordan, Michael Kelly, Ashley Hinshaw, Bo Petersen, Anna Wood.

Não deixa de ser curioso que a decisão de contar sua história exclusivamente através de câmeras subjetivas, como em vários outros pseudocumentários, seja ao mesmo tempo a maior força e a maior fraqueza de Poder Sem Limites: por um lado, a estrutura adotada permite que a mais do que batida história ganhe certo frescor e originalidade; por outro, limita a narrativa quando esta encontra seu caminho por obrigá-la a sempre justificar a presença implausível de alguém filmando os acontecimentos. Ainda assim, ao combinar um filme de “super-heróis” com uma trama envolvendo um adolescente raivoso, o longa se torna interessante ao tornar-se uma mistura relativamente eficaz de A Bruxa de Blair, X-Men e Elefante.

Escrito por Max Landis (filho de John), o roteiro acompanha três adolescentes que certa noite encontram uma cratera/túnel e entram em contato com uma espécie de cristal luminoso, adquirindo poderes telecinéticos que, quando desenvolvidos, conferem a eles características de autênticos super-heróis. E pronto. Sim, “espécie de cristal luminoso” é a única explicação que o filme oferece para o que ocorre, mas ao menos esta justificativa é infinitamente mais aceitável do que aquela usada para explicar por que Andrew (DeHaan, sósia do jovem Leonardo DiCaprio) registra com sua câmera tudo que ocorre: “Agora estou filmando as coisas”. Mantendo o equipamento ligado mesmo quando sabe que isto irá lhe trazer problemas (como ao enfocar alguns encrenqueiros da vizinhança), o rapaz é também o protagonista da produção, o que é relativamente raro em obras do gênero, que costumam relegar o câmera à condição de “coadjuvante que será um dos últimos a morrer apenas porque seu fim também será o do filme”. Para contornar o fato de que normalmente não vemos o rosto de quem está por trás do equipamente, Poder Sem Limites logo introduz uma outra personagem que filma tudo ao seu redor porque (juro) “tem um blog”. (Suponho que o endereço seja “blogmaischatodainternet.com.br”.)

Aliás, não demora muito até que a necessidade de justificar a presença da câmera deixe de ser uma exigência narrativa e se transforme em distração desnecessária – e, assim, é impossível levar o filme a sério quando vemos a mãe do protagonista, em estado terminal e mal conseguindo respirar, segurando o equipamento para que vejamos o rapaz ou quando certa personagem continua a registrar tudo mesmo ao ser arrancada de um carro em queda livre. Já no ato final, o diretor estreante Josh Trank desiste de tentar manter qualquer coerência e exibe imagens registradas até mesmo por transeuntes em seus celulares – e, com isso, desejo boa sorte a quem tentar responder como todos os registros foram coletados na versão final do filme, já que até mesmo cenas captadas por câmeras destruídas e desaparecidas encontram-se ali.

Sem jamais encontrar uma maneira de justificar de fato a estrutura adotada, Poder Sem Limites parece ter sido construído assim apenas para conferir certo tom de novidade à história e também como desculpa para a fotografia descuidada e os diálogos rasteiros, já que, de outra maneira, seria inaceitável ouvir um personagem dizendo algo como “Hoje foi o melhor dia da minha vida. Tipo... até hoje, não gostei de nenhum dia como gostei deste”.

Dito isso, o filme tem boa parcela de acertos. Em primeiro lugar, é admirável que, sabendo estar lidando com adolescentes imaturos (e, neste caso, até mesmo tolos), o roteiro continue a retratá-los como babacas irritantes mesmo depois que se tornam poderosos, permitindo que amadureçam apenas gradualmente à medida que vivem certas experiências. Da mesma maneira, a transformação experimentada por Andrew é conduzida com sutileza e inteligência, começando com um ato impensado e impulsivo até chegar a uma postura mais fria e complexa.

Beneficiado ainda por um clímax que, distrações de estrutura à parte, mostra-se repleto de urgência e força, Poder Sem Limites finalmente parece encontrar uma pequena, mas autêntica desculpa para usar as câmeras subjetivas ao tirar o protagonista de trás do equipamento e passar a enfocá-lo apenas a partir do ponto de vista dos demais personagens, ilustrando o próprio distanciamento do espectador de uma figura que já não merece mais a nossa companhia e que tampouco a deseja.

Não é algo que resolva todos os inúmeros problemas provocados pela narrativa em pseudocumentário, mas é um consolo em um filme que merecia ter sido desenvolvido com mais cuidado.

02 de Março de 2012

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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