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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
15/11/2012 01/01/1970 3 / 5 2 / 5
Distribuidora
Paris Filmes
Duração do filme
117 minuto(s)

A Saga Crepúsculo: Amanhecer - Parte 2
The Twilight Saga: Breaking Dawn - Part 2

Dirigido por Bill Condon. Com: Kristen Stewart, Edward Pattinson, Taylor Lautner, Peter Facinelli, Ashley Greene, Elizabeth Reaser, Billy Burke, Nikki Reed, Kellan Lutz, Jackson Rathbone, Mackenzie Foy, Maggie Grace, Lee Pace, Mia Maestro, Christian Camargo, Rami Malek, Dakota Fanning e Michael Sheen.

Amanhecer – Parte 2 é, sem dúvida alguma, o melhor filme da série Crepúsculo. Isto, claro, não significa muito: levar 50 pontos na testa é melhor do que levar 70, mas ao final ainda haverá um talho imenso e doloroso em sua cabeça. Dito isso, ao menos este capítulo final é beneficiado por ter alguma trama - ao contrário de seus antecessores, que se limitavam a enfocar o casal principal enquanto Bella implorava para que Edward permanecesse ao seu lado, mesmo que para isso tivesse que sacrificar tudo que a definia como indivíduo.

Mais uma vez roteirizado por Melissa Rosenberg a partir do livro de Stephenie Meyer, o roteiro lida com a transformação da protagonista (Stewart) em vampiro: imortal e poderosa, Bella tem que aprender a controlar seus novos dons enquanto acompanha o crescimento anormal de sua filha Renesmee, que acaba chamando a atenção dos implacáveis Volturi, que, liderados por Aro (Sheen), decidem matar os Cullen por infringirem uma antiga lei vampírica. Enquanto reúnem um pequeno exército para enfrentar seus inimigos, Edward e Bella trocam declarações de amor, fazem sexo e tentam lidar com o fato de que sua pequena filha agora é dona de um lobisomem pedófilo domesticado, Jacob (Lautner).

Aparentemente confundindo os conceitos de “vampiro” e “mutantes de Stan Lee”, Meyer e seu Amanhecer retratam as criaturas que compõem o exército do bem como super-heróis com poderes variados: há o sujeito capaz de manipular os elementos (e que, numa escalação de elenco brilhante, é vivido por Rami Malek, que dublou episódios da animação Avatar; outro capaz de cegar os inimigos; uma garota que dá choques (Estática-Girl poderia ser seu super-nome; e uma última que consegue projetar um escudo capaz de evitar a influência de outros mutant... vampiros (a própria Bella). Há também, claro, o índio brasileiro cujo principal poder parece ser a resistência ao frio, já que surge quase nu em uma cena ambientada num campo coberto por neve (“Mamilos Eretos Kid” deve ser sua alcunha mutante).

Por outro lado, é preciso reconhecer que Amanhecer – Parte 2 conta com sua parcela de acertos – e se os alunos do professor Xavi... os seguidores dos Cullen soam absurdos dentro da mitologia da espécie à qual supostamente pertencem, ainda assim são suficientemente interessantes para tornar a narrativa envolvente. Além disso, esta continuação é beneficiada por algo que faltava aos demais capítulos: senso de humor (e é surpreendente que parte deste surja na figura de Edward, antes tão aborrecido). Em contrapartida, a falta de sutileza característica da franquia é ilustrada já nos primeiros minutos, quando Bella, recém-transformada, conversa animadamente com o amado até que este aponta a necessidade de que ela aprenda a controlar sua sede – quando, então, ela imediatamente leva a mão à garganta e exibe uma expressão torturada de criatura perdida no deserto por semanas. Da mesma maneira, a cena que traz o casal se entregando ao sexo é rodada com a cafonice típica de uma produção softcore exibida no Multishow, abusando da contraluz, da fumacinha e de planos-detalhe que percorrem coxas, costas e mãos dos participantes. Para concluir, os efeitos visuais empregados para criar a versão bebê de Renesmee são pavorosamente ruins, resultando numa figura que não só ilustra o conceito de “vale da estranheza” da robótica como parece redefini-lo.

Deixando para trás a apatia enlouquecedora e suicida que havia demonstrado até então, a Bella de Kristen Stewart parece ter se beneficiado com a morte, já que sua versão vampiresca é infinitamente mais interessante que aquela capaz de respirar. Virando as costas até mesmo ao seu amado Edward em certos momentos, a garota parece ter descoberto a própria independência, ainda que, aqui e ali, continue a demonstrar uma obsessão pelo rapaz que faz a “overly attached girlfriend” do YouTube parecer blasé e um exemplo de bom senso. E se Robert Pattinson tem a chance de exibir seu timing cômico em algumas cenas, é mesmo Michael Sheen quem obviamente se diverte imensamente com sua composição caricata e absurda, transformando o vilão Aro no grande chamariz do longa. Enquanto isso, Taylor Lautner pouco pode fazer para evitar que enxerguemos seu Jacob como um candidato à prisão por pedofilia – e por mais que as crepusculetes insistam em dizer que não se trata disso, sugiro que imaginem se a desculpa colaria caso os padres acusados de molestar crianças justificassem suas ações dizendo se tratar de um inocente “imprinting”. (Ei! Acaba de me ocorrer que, caso não tenha sucesso na carreira de lobisomem, Jacob poderia se dar muito bem na Igreja Católica.) Seja como for, ao menos Jacob desta vez demora um pouco mais até tirar a camisa (15 minutos), o que indica certo amadurecimento do personagem.

Expondo a ignorância de Stephenie Myer (e de toda a equipe do filme) com relação às culturas existentes além das fronteiras dos Estados Unidos, Amanhecer – Parte 2 não se intimida em sugerir que irlandeses são bêbados contumazes (“Não sei se eles conterão a sede”) e em trazer duas índias do Amazonas (ou “índias do Amazonas”) inacreditáveis – e não é à toa que uma delas se chama “Senna”, já que este é provavelmente o único nome brasileiro que Meyer escutou na vida (neste sentido, é surpreendente que a outra garota não se chame “Pelé”). Como se não bastasse, quando o longa finalmente exibe alguma coragem narrativa em uma excelente sequência de batalha, o efeito dramático é anulado pela covardia dos realizadores, que se inspiram (spoiler!) nas aberturas da série Premonição em um clímax tolo que, para piorar, ainda encerra a “saga” de maneira inconclusiva, deixando praticamente todas as pontas soltas e ameaças ainda pendentes.

Aparentemente acreditando que criou uma história repleta de momentos memoráveis que precisam ser celebrados em seus créditos finais (não criou e não precisam), a franquia Crepúsculo precisou atravessar quatro filmes para finalmente chegar a um que não fosse pavoroso. Ainda assim, ninguém devoraria uma imensa torta de estrume apenas para chegar a um pequeno recheio de leite condensado – e, assim, é triste que Stephenie Meyer e seus cúmplices tenham nos obrigado a encher o estômago com porcaria antes de nos presentear com um bombom miniatura.

Ao menos, a tortura chegou ao fim.

15 de Novembro de 2012

Críticas anteriores: Crepúsculo, Lua Nova, Eclipse, Amanhecer – Parte 1.

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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