Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
21/01/2011 | 01/01/1970 | 2 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
114 minuto(s) |
Dirigido por Apichatpong Weerasethakul. Com: Thanapat Saisaymar, Jenjira Pongpas, Sakda Kaewbuadee, Natthakarn Aphaiwonk.
Normalmente, quando alguém utiliza a expressão “filme de festival” para descrever alguma produção, a intenção é sugerir uma de duas possibilidades: a de que o projeto tem uma linguagem vanguardista, diferente daquela comumente empregada em longas comerciais (sendo, portanto, melhor recebido por um público habituado a experimentações), ou a de que ele foi concebido com a clara intenção de agradar ao circuito de arte, empregando técnicas narrativas típicas de produções vistas como cult. Considerando o sucesso deste Tio Boonmee em Cannes, não é absurdo afirmar que se trata de um clássico “filme de festival” – no entanto, a pergunta é: de que tipo?
Escrito e dirigido pelo tailandês Apichatpong Weerasethakul (ou simplesmente “Joe”, como se apelidou para facilitar a vida dos críticos), o filme gira em torno do Tio Boonmee do título, que, vítima de uma doença renal terminal, vive em uma casa no meio do nada acompanhado temporariamente pela cunhada, pelo sobrinho e por um enfermeiro. Certa noite, enquanto todos jantam, o espírito da esposa de Boonmee surge à mesa e, logo em seguida, o filho do casal, que havia desaparecido há nove anos, retorna – mas na forma de um “macaco fantasma” de olhos vermelhos e brilhantes.
Estabelecendo uma atmosfera calma e de absoluta serenidade através dos planos longos e estáticos e do próprio tom de voz empregado pelos atores, Tio Boonmee é construído principalmente através de quadros abertos que ressaltam a interação entre os personagens e o ambiente ao seu redor (os closes são praticamente inexistentes na narrativa). Empregando apenas um ou dois planos por cena, “Joe” ressalta o silêncio e a tranqüilidade daquele universo ao continuar suas tomadas mesmo quando os atores deixam a cena – e a mise-en-scène concebida pelo cineasta estimula o tom contemplativo ao insistir na movimentação lenta dos atores pelo campo.
Com um design de som que se revela um dos aspectos mais notáveis da produção, o filme também evoca a placidez da natureza através do ruído emitido pelos insetos, do canto dos pássaros e do sopro constante do vento. Além disso, o tom quase onírico do projeto é salientado especialmente nas seqüências que abordam possíveis vidas passadas do personagem-título, que também atuam no sentido de estabelecer um dos possíveis temas do filme: a liberdade que experimentamos quando abrimos mão da ostentação e das preocupações materiais (algo sugerido pela insistência de Boonmee em distribuir seus bens e pela fábula/sonho/encarnação envolvendo uma princesa que se livra de suas jóias e roupas ao tentar se reconstruir).
Ainda assim, por mais que aprecie o rigor técnico/estilístico do longa, devo reconhecer que suas intenções me parecem estudadas, frias demais. Ao construir uma narrativa que, sejamos honestos, permite inúmeras projeções simbólicas ao apresentar-se quase como um quadro em branco no qual cada espectador pode atirar interpretações das mais variadas, Tio Boonmee soa vazio em seu centro, como se buscasse se beneficiar justamente de sua falta de conteúdo. Com isso, este projeto de “Joe” se encaixaria na segunda – e nada nobre – definição de “filme de festival” que discuti no parágrafo inicial, parecendo ter sido construído sob medida para agradar um público-alvo específico que garantiria seu sucesso no circuito desejado – e neste sentido, não seria menos cínico em sua natureza, portanto, que um Transformers 2 ou um Matadores de Vampiras Lésbicas. Mas com pedigree e Palma de Ouro, claro.
Observação: esta crítica foi originalmente publicada como parte da cobertura do Festival do Rio 2010.
03 de Outubro de 2010
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