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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
15/04/2011 01/01/1970 4 / 5 / 5
Distribuidora

Direção

Thomas Balmès

Elenco

Bayar , Hattie , Mari , Ponijao

Roteiro

Alain Chabat , Thomas Balmès

Produção

Thomas Balmès

Fotografia

Eric Turpin

Música

Bruno Coulais

Montagem

Craig McKay

Design de Produção

Jill Coulon

Bebês
Bébé(s) / Babies

Dirigido por Thomas Balmes. Com: Bayar, Hattie, Mari e Ponijao.

Baseado numa idéia de Alain Chabat, Bebês é um documentário que, como o próprio título já indica, dedica-se a enfocar quatro criaturinhas adoráveis de partes diferentes do mundo durante o primeiro ano de suas vidas. Com isso, acredito que o longa inaugure um novo gênero: o do “filme-awwwwww”.

Sem empregar qualquer tipo de narração ou mesmo letreiros ocasionais – e apenas pontualmente usando a música lúdica composta por Bruno Coulais -, Bebês acompanha o dia-a-dia de Hattie (nascida nos Estados Unidos), Ponijao (Namíbia), Bayar (Mongólia) e Mari (Japão). Nascidos em culturas e economias radicalmente diferentes entre si, os pequenos são observados pelas câmeras do diretor Thomas Balmes como se fossem simplesmente animaizinhos em seu habitat natural (o que não deixam de ser, claro), numa abordagem que remete bastante, por exemplo, ao belo e contemplativo Migração Alada.

Contando com o trabalho exemplar de quatro diretores de fotografia, Bebês freqüentemente busca usar a câmera para estabelecer uma identificação com o ponto de vista das quatro crianças – e, assim, é comum que vejamos apenas partes dos corpos de seus pais (seios, mãos, pernas, rostos) ou que encaremos o mundo a partir de ângulos baixíssimos (como no instante em que Mari é levada a uma loja de brinquedos). Com exceção destes momentos, porém, os adultos são figuras absolutamente periféricas; mesmo quando os bebês se encontram entre estes, a câmera se preocupa principalmente com suas reações diante do que ocorre à sua volta – como na cena em que Bayar olha para os pais, que se entregam a um ritual religioso, e exibe uma expressão hilária (e perfeita) de “que porra é essa que está acontecendo?”.

Merecendo créditos pela dedicação que a equipe obviamente teve que conferir ao projeto, o documentário traz inúmeros momentos que comprovam justamente as infinitas horas que Balmes e seus câmeras passaram capturando as ações dos bebês, desde o plano que traz Ponijao sentada e lutando contra o sono até detalhes como um sorriso feliz exibido por Mari ao dormir ou a reação de Bayar ao ouvir o irmão sendo advertido pelos pais depois de machucá-lo, quando se esquece de chorar para acompanhar o sermão, voltando às lágrimas apenas quando se lembra do que aconteceu (aliás, as torturas que o pequeno sofre nas mãos do mais velho representam uma piada recorrente no filme).

É claro que, num projeto como este, o simples contraste entre realidades tão distintas se encarrega de estabelecer idéias e mensagens; afinal, como não comparar o conforto no qual Hattie e Mari vivem com os cenários desolados, sujos e poeirentos que servem de berço a Ponijao e Bayar? Como ignorar que Hattie tem dezenas de roupas coloridas e um estoque infindável de fraldas descartáveis enquanto Ponijao tem as fezes limpas pela mãe com o auxílio de um sabugo de milho e é amamentada em meio ao barro e aos mosquitos? Neste sentido, aliás, a montagem de Reynald Bertrand e Craig McKay se revela fundamental ao estabelecer paralelos de maneira dinâmica e inteligente através de justaposições e raccords bem construídos, o que resulta em seqüências ágeis que ilustram as crianças aprendendo a engatinhar e a andar e também em ironias dolorosas como a cena que traz Mari brincando numa sessão de yoga para bebês enquanto Ponijao engatinha no leito barrento de um rio. Já em outros instantes, o documentário é inteligente por permitir que as situações se desenrolem sem interferências da pós-produção, como na cena – que poderia ter sido roteirizada, tamanho seu timing cômico - em que Hattie interrompe a brincadeira com o gato para fazer cocô e o bichano sai de quadro como se espantado pelo cheiro.

Independentemente da realidade dos quatro bebês, porém, o filme consegue deixar algo claríssimo de maneira simples: ricos ou pobres, contando com recursos da sociedade moderna ou não, nada é mais importante para as crianças do que o carinho de seus pais. Não é uma mensagem das mais surpreendentes, reveladoras, mas oferecer novos insights sobre o primeiro ano de vida do ser humano não parece ser o propósito do documentário, que parece se contentar em nos lembrar de como o mundo é mágico quando o estamos vendo pela primeira vez.

E sejamos sinceros: trazendo quatro bebês adoráveis (e como pai de duas crianças, pergunto: existe outro tipo?) durante 80 minutos, o filme não precisava de muito mais do que isso para conquistar – e somente aqueles que já morreram por dentro serão capazes de sair da sala, após a projeção, de mau humor.

Observação: esta crítica foi originalmente publicada como parte da cobertura do Festival do Rio 2010.

29 de Setembro de 2010

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Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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