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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
21/09/2012 01/01/1970 4 / 5 4 / 5
Distribuidora
Universal
Duração do filme
106 minuto(s)

Ted (I)
Ted

Dirigido por Seth MacFarlane. Com: Mark Wahlberg, Mila Kunis, Joel McHale, Giovanni Ribisi, Patrick Warburton, Jessica Barth, Aedin Mincks e as vozes de Patrick Stewart e Seth MacFarlane.

John Bennett é um perdedor. Solitário desde a infância, quando nem mesmo a vítima de bullying favorita da vizinhança aceitava apanhar dele, o sujeito se viu obrigado a desejar que seu ursinho de pelúcia ganhasse vida a fim de se tornar seu amigo – e mesmo agora, 27 anos depois, quando já vive com a bela e paciente namorada, ele insiste em passar a maior parte de seus dias consumindo drogas e assistindo a reprises de Flash Gordon na tevê ao lado do urso Ted. Aliás, é particularmente sintomático que em certo momento Bennett (Wahlberg)  fantasie seu primeiro encontro com Lori (Kunis) como sendo uma recriação da cena na qual o herói de Apertem os Cintos, o Piloto Sumiu... conhecia a amada – uma cena que, por sua vez, parodiava Os Embalos de Sábado à Noite e que, assim, torna o rapaz ainda mais patético ao expor que até mesmo suas referências culturais são de segunda mão.

Infantilizado não só pela presença do ursinho, mas por sua própria passividade diante de tudo, Bennett é vivido por um Mark Wahlberg incrivelmente disposto a rir de si mesmo e a abandonar qualquer vestígio dos tipos durões que está acostumado a interpretar. Esta abordagem irreverente, diga-se de passagem, é importante em um filme que, apesar das grosserias constantes proferidas pelo personagem-título, é curiosamente inocente em seu tom fabulesco – e mesmo que o narrador (Patrick Stewart) se entregue a devaneios ocasionais, há certa doçura que atravessa a narrativa mesmo em seus momentos mais escatológicos ou obscenos, comprovando o ótimo equilíbrio alcançado pelo roteiro escrito pelo diretor Seth MacFarlane (que também empresta voz a Ted) ao lado de Alec Sulkin e Wellesley Wild, seus parceiros na série animada Uma Família da Pesada.

É interessante, por exemplo, observar como Ted não investe em conflitos artificiais para construir sua história relativamente simples: sim, Lori julga (acertadamente) que o ursinho está atrasando a maturação de seu namorado e do relacionamento, mas não é cruel ou intolerante, jamais sendo retratada como antagonista pelo filme – e, da mesma maneira, Bennett e Ted parecem genuinamente se importar um com o outro, mesmo quando discutem ou partem para a briga (numa das melhores cenas do longa e que rivaliza com a pancadaria entre Borat e seu produtor no trabalho estrelado por Sacha Baron Cohen em 2006).

Repleto de referências pop que, na maior parte do tempo, soam orgânicas em vez de simples gags gratuitas atiradas para arrancar risadas fáceis (a minha favorita é construída apenas com alguns acordes do tema de Indiana Jones), Ted exibe um humor que, assim como no recente O Ditador, consegue soar politicamente incorreto sem ser exatamente ofensivo justamente por deixar claro que o alvo principal das piadas são aqueles que as proferem, não as minorias que atacam. Além disso, MacFarlane obviamente consegue suavizar momentos potencialmente mais problemáticos apenas por trazê-los protagonizados por um ursinho de pelúcia, já que se torna difícil encarar algo como realmente ofensivo quando está saindo da boca de um adorável brinquedo. (E comparem, por exemplo, o que Ted diz sobre as prostitutas ao seu lado com a postura de macho-alfa do playboy interpretado por Joel McHale e perceberão que somos infinitamente mais implacáveis com este último do que com o primeiro.)

Beneficiado ainda por um trabalho de animação impecável criado a partir do motion capture e que confere maior naturalismo a Ted através de seus trejeitos e comportamento em cena, o filme certamente naufragaria caso o urso não soasse convincente – mas não só ele jamais deixa de parecer estar realmente dividindo aqueles ambientes com os atores de carne e osso como sua personalidade se revela surpreendentemente complexa: embora tenha ciúmes de Bennett, Ted quer ver o amigo feliz; ainda que aja de forma egoísta e inconsequente na maior parte do tempo, ele é capaz de reconhecer os próprios erros e de buscar corrigi-los. E seu senso de humor mordaz é, claro, uma atração à parte.

Com isso, talvez a maior virtude do longa seja conseguir transformar Ted em mais do que um recurso narrativo, mas em um personagem real e carismático. E que, apesar da vulgaridade que parece dominar sua visão de mundo, é suficientemente doce para conquistar a torcida e o carinho do espectador.

Observação: o filme conta com a participação especial de um ator que, sem praticamente dizer uma palavra, é responsável por duas das maiores risadas do filme ao dividir a cena com Patrick Warburton.

22 de Setembro de 2012

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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