Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
17/06/2011 | 01/01/1970 | 3 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
90 minuto(s) |
Dirigido por Cláudio Kahns.
A trajetória do grupo Mamonas Assassinas é cinematográfica por natureza: alçados à fama quase que da noite para o dia depois de passarem alguns anos no anonimato absoluto com sua banda anterior, seus cinco integrantes se tornaram uma verdadeira febre em todo país enquanto suas músicas eram cantadas por crianças, adolescentes e adultos – apenas para, no auge da carreira, morrerem num acidente de avião enquanto voltavam de um show.
Dirigido por Cláudio Kahns, este documentário sobre a banda faz um bom trabalho ao estabelecer as origens dos Mamonas: contando com preciosas imagens de arquivo, o cineasta resgata os shows do grupo quando este ainda se chamava Utopia e se levava a sério, entrevista os principais envolvidos na mudança de foco (e nome) da banda e estabelece, sem alardes ou melodrama, as origens humildes de seus integrantes – o que fica claro através dos depoimentos de parentes dos rapazes. Da mesma forma, Kahns é bem sucedido ao retratar os músicos como jovens alegres que, mesmo encarando o sucesso repentino com olhos deslumbrados, não passaram a ignorar as raízes (mesmo porque nem tiveram tempo para permitir que o sucesso lhes subisse à cabeça) – e particularmente tocante é testemunhar um dos irmãos Reoli ligando para a mãe de Los Angeles para contar que sentia falta de feijão na comida.
Triste desde o princípio por sabermos como aquela história irá terminar, Manonas Assassinas – O Doc tinha, portanto, tudo para se estabelecer como um longa interessante, divertido e comovente – e se não consegue atingir estes objetivos, a responsabilidade deve ser atribuída completamente às decisões pavorosamente equivocadas de seus realizadores, que, por algum motivo misterioso, decidiram que deveriam tentar ser tão irreverentes quanto os próprios Mamonas, praticamente destruindo o filme em seus esforços neste sentido. Como explicar, por exemplo, a ideia de inserir animações de mamonas saltitantes sempre que o nome de um entrevistado surge na tela, completando a besteira com efeitos sonoros engraçadinhos que servem apenas para tirar o foco do que está sendo dito? E por que ninguém avisou o diretor de que o conceito de criar versões porcamente animadas (inspiradas em South Park, possivelmente) dos músicos e colocá-las atravessando a tela de tempos em tempos é algo não apenas patético e sem a menor graça como – novamente - serviria apenas para distrair o espectador? Mas creio que qualquer esperança de que o filme pudesse levar sua própria narrativa a sério foi realmente abandonada quando, durante uma entrevista com os pais de Dinho em uma fazenda, o cineasta e seu montador perceberam a presença de um peru ao fundo e, acreditem ou não, acharam que seria apropriado colocar um balão sobre a cabeça da ave com a frase “Yo soy del Peru!” – o que não tem graça alguma, tira o foco do depoimento e – o mais grave – é uma profunda falta de respeito para com o casal que está ali falando sobre o filho morto aos 24 anos de idade.
Porém, os problemas do longa vão além: ao repetir vários números musicais desnecessariamente, Mamonas Assassinas – O Doc perde o ritmo a partir da segunda metade da projeção, sendo prejudicado também pelo foco excessivo em Dinho, que, embora realmente fosse o mais carismático e divertido membro da banda, representava apenas 20% do grupo – e seus companheiros certamente mereciam um pouco mais de atenção do que a que recebem do filme, que se limita a citar rapidamente seus principais traços de personalidade durante uma entrevista. Para piorar, Kahns dedica menos de dez minutos à tragédia que vitimou a banda, ignorando completamente suas circunstâncias e também a deplorável exploração feita pela mídia na época. Além disso, o documentário não se preocupa com o que veio a seguir: qual o “legado” artístico e financeiro dos Mamonas? Eles continuam a gerar receita postumamente? E quem ganha com isso?
O mais lamentável é que o diretor tinha um entrevistado perfeito para cobrir todas estas questões: o músico e empresário Rick Bonadio, que, extremamente articulado e aberto, é, sem dúvida alguma, aquele que oferece as melhores informações ao longo da projeção – e, em parte, é graças a ele que o filme sobrevive (as imagens de arquivo e a própria história da banda respondem pela outra parte).
Infelizmente, a mesma produtora responsável por este documentário tem os direitos sobre a história dos Mamonas Assassinas e já está preparando um longa de ficção sobre os músicos. Mas o que podemos esperar deste novo projeto se seus realizadores não conseguiram demonstrar um mínimo de bom senso ou bom gosto nem mesmo ao lidarem diretamente com as pessoas envolvidas com a banda?
(Esta crítica foi originalmente publicada como parte da cobertura da Mostra de SP em 2009.)
03 de Novembro de 2009
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