Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
01/04/2011 | 01/01/1970 | 3 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
90 minuto(s) |
Dirigido por François Ozon. Com: Alexandra Lamy, Sergi López, Mélusine Mayance, Arthur Peyret.
Ricky é um pequeno drama familiar que, focado nas inseguranças e temores de uma garotinha que vive com a mãe solteira, acaba encontrando uma inesperada estratégia narrativa para mover seus personagens rumo a uma nova dinâmica em seus relacionamentos – e revelar esta estratégia seria não apenas uma crueldade com o filme, mas também para com o espectador.
Estabelecendo com elegância e economia o cotidiano da pequena Lisa (Mayance) e de sua mãe Katie (Lamy) já nos primeiros minutos de projeção, quando vemos as duas se preparando silenciosamente (e em total sintonia) para um novo dia, o cineasta francês François Ozon aproveita estes momentos também para ilustrar a fragilidade emocional da adulta, que, justamente por seus despreparo diante do mundo, inspira a filha a adotar uma postura melancolicamente precoce – e quando Lisa observa cuidadosamente a mãe partir antes de entrar em sua escola, temos a clara impressão de que é a garotinha quem se preocupa em proteger a mãe, não o contrário. Da mesma forma, quando Katie atrasa horas ao buscar a filha, a menina mantém uma calma resignada, deixando óbvio para o espectador que aquilo provavelmente já ocorreu dezenas de vezes.
É então que o espanhol Paco (López) entra na vida das duas francesas, despertando a sensualidade da mãe e a desconfiança da filha. Cronicamente carente, Katie evidentemente se sente feliz ao ver-se desejada – mas é justamente esta carência, associada à sua terrível imaturidade, que a leva a apresentar Paco precipitada e desajeitadamente para a filha, despertando nesta um compreensível medo de abandono e rejeição (algo que Ozon ilustra belissimamente em um plano aberto que traz Lisa, pequena e sozinha em uma janela de ônibus, observando o novo casal enquanto este se afasta sorridente em uma moto, ignorando-a completamente).
Mas é quando Katie dá à luz ao irmão de Lisa, batizado por esta de Ricky (Peyret), que Ozon começa a puxar uma série de ases de sua manga – e sem revelar muito, posso dizer que as coisas começar a ficar estranhas quando grandes hematomas surgem nas costas do bebê, levando sua mãe a acusar Paco de espancá-lo. Ou teria sido Lisa, justamente com o propósito de provocar o afastamento do padrasto ao mesmo tempo em que descarrega seu ciúme no irmão?
A resposta oferecida pelo roteiro do próprio Ozon a estes questionamentos é o ponto forte de Ricky, mas também seu calcanhar-de-aquiles: se por um lado a surpresa confere um tom divertidamente surrealista a uma narrativa até então naturalista ao extremo, por outro ela é atípica demais para que consigamos simplesmente ignorá-la depois que desempenha sua função – e o que deveria funcionar apenas como um recurso dramático acaba se tornando o centro do filme.
Ainda assim, Ozon se esforça ao máximo para manter o foco no lugar certo, constantemente voltando sua câmera para as reações de Lisa mesmo quando os espectadores certamente esperariam ver mais de Ricky – e, afinal, é à garota que o filme pertence, não ao seu irmão. E, assim, quando os dois últimos planos do longa finalmente amarram a narrativa com a doçura necessária, compreendemos que o personagem-título, com seu caráter de deus ex machina, jamais deveria ter desviado tanto nossa atenção.
Mas ignorá-lo seria tarefa impossível.
Observação: esta crítica foi originalmente publicada como parte da cobertura do Mostra Internacional de São Paulo de 2009.
25 de Outubro de 2009
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