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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
01/04/2011 01/01/1970 3 / 5 / 5
Distribuidora
Duração do filme
90 minuto(s)

Direção

François Ozon

Elenco

Alexandra Lamy , Sergi López , Mélusine Mayance , Arthur Peyret

Roteiro

François Ozon

Produção

Chris Bolzli

Fotografia

Jeanne Lapoirie

Música

Philippe Rombi

Montagem

Muriel Breton

Design de Produção

Katia Wyszkop

Figurino

Pascaline Chavanne

Ricky
Ricky

Dirigido por François Ozon. Com: Alexandra Lamy, Sergi López, Mélusine Mayance, Arthur Peyret.

Ricky é um pequeno drama familiar que, focado nas inseguranças e temores de uma garotinha que vive com a mãe solteira, acaba encontrando uma inesperada estratégia narrativa para mover seus personagens rumo a uma nova dinâmica em seus relacionamentos – e revelar esta estratégia seria não apenas uma crueldade com o filme, mas também para com o espectador.

Estabelecendo com elegância e economia o cotidiano da pequena Lisa (Mayance) e de sua mãe Katie (Lamy) já nos primeiros minutos de projeção, quando vemos as duas se preparando silenciosamente (e em total sintonia) para um novo dia, o cineasta francês François Ozon aproveita estes momentos também para ilustrar a fragilidade emocional da adulta, que, justamente por seus despreparo diante do mundo, inspira a filha a adotar uma postura melancolicamente precoce – e quando Lisa observa cuidadosamente a mãe partir antes de entrar em sua escola, temos a clara impressão de que é a garotinha quem se preocupa em proteger a mãe, não o contrário. Da mesma forma, quando Katie atrasa horas ao buscar a filha, a menina mantém uma calma resignada, deixando óbvio para o espectador que aquilo provavelmente já ocorreu dezenas de vezes.

É então que o espanhol Paco (López) entra na vida das duas francesas, despertando a sensualidade da mãe e a desconfiança da filha. Cronicamente carente, Katie evidentemente se sente feliz ao ver-se desejada – mas é justamente esta carência, associada à sua terrível imaturidade, que a leva a apresentar Paco precipitada e desajeitadamente para a filha, despertando nesta um compreensível medo de abandono e rejeição (algo que Ozon ilustra belissimamente em um plano aberto que traz Lisa, pequena e sozinha em uma janela de ônibus, observando o novo casal enquanto este se afasta sorridente em uma moto, ignorando-a completamente).

Mas é quando Katie dá à luz ao irmão de Lisa, batizado por esta de Ricky (Peyret), que Ozon começa a puxar uma série de ases de sua manga – e sem revelar muito, posso dizer que as coisas começar a ficar estranhas quando grandes hematomas surgem nas costas do bebê, levando sua mãe a acusar Paco de espancá-lo. Ou teria sido Lisa, justamente com o propósito de provocar o afastamento do padrasto ao mesmo tempo em que descarrega seu ciúme no irmão?

A resposta oferecida pelo roteiro do próprio Ozon a estes questionamentos é o ponto forte de Ricky, mas também seu calcanhar-de-aquiles: se por um lado a surpresa confere um tom divertidamente surrealista a uma narrativa até então naturalista ao extremo, por outro ela é atípica demais para que consigamos simplesmente ignorá-la depois que desempenha sua função – e o que deveria funcionar apenas como um recurso dramático acaba se tornando o centro do filme.

Ainda assim, Ozon se esforça ao máximo para manter o foco no lugar certo, constantemente voltando sua câmera para as reações de Lisa mesmo quando os espectadores certamente esperariam ver mais de Ricky – e, afinal, é à garota que o filme pertence, não ao seu irmão. E, assim, quando os dois últimos planos do longa finalmente amarram a narrativa com a doçura necessária, compreendemos que o personagem-título, com seu caráter de deus ex machina, jamais deveria ter desviado tanto nossa atenção.

Mas ignorá-lo seria tarefa impossível.

Observação: esta crítica foi originalmente publicada como parte da cobertura do Mostra Internacional de São Paulo de 2009.

25 de Outubro de 2009

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Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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