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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
11/05/2012 01/01/1970 1 / 5 2 / 5
Distribuidora
Universal
Duração do filme
131 minuto(s)

Battleship - Batalha dos Mares
Battleship

Dirigido por Peter Berg. Com: Taylor Kitsch, Alexander Skarsgård, Rihanna, Brooklyn Decker, Tadanobu Asano, Hamish Linklater, Peter MacNicol, John Tui, Jesse Plemons, Gregory D. Gadson e Liam Neeson.

Não direi que é impossível fazer um bom filme a partir de um jogo de tabuleiro (e Os Sete Suspeitos, inspirado por “Detetive”, permanece divertido), mas certamente há premissas mais ambiciosas do que uma brincadeira que envolve tentar adivinhar a posição dos navios do oponente em um papel quadriculado enquanto seguimos cada coordenada com um aviso de “água!” ou “acertou!”. O mais frustrante, porém, é perceber que os responsáveis por este Battleship – Batalha dos Mares não parecem sequer interessados em criar uma história minimamente coerente, apostando no barulho e nos efeitos visuais como maneira de manter o espectador acordado durante os intermináveis 131 minutos de duração – e posso facilmente imaginar resultados melhores inspirados até mesmo por atividades como gamão, jogo da velha ou purrinha.

Escrito por Jon e Erich Hoeber (Red – Aposentados e Perigosos), o longa já começa com uma sequência inspirada (juro!) por um vídeo popularizado pelo YouTube que trazia um desastrado ladrão tentando invadir uma loja de conveniências – e a partir daí somos apresentados ao herói, Alex Hopper (Kitsch, de John Carter), cujo irmão mais velho, fluente em clichezês, decide alistá-lo na Marinha a fim de conferir-lhe algum juízo. Algum tempo depois, já promovido a tenente e responsável por uma equipe de bravos combatentes, Alex se vê em meio a um conflito com uma raça alienígena quando naves colossais caem no oceano e criam um campo de força que isola o navio do sujeito enquanto tentam estabelecer algum contato com seu planeta natal. Como os radares terráqueos não conseguem enxergar os extraterrestres (que por algum motivo tampouco conseguem visualizar os oponentes), os irmãos Hoeber podem alegar que seu roteiro traz elementos do jogo “batalha naval”, complementando-os em uma sequência que envolve oficiais da Marinha cantando posições em uma espécie de tabuleiro virtual enquanto tentam atingir os inimigos.

Exibindo a inteligência típica de um filme no qual jogadores de futebol pedem “tempo” durante uma partida, como se a FIFA tivesse adotado práticas do basquete, Battleship ainda faz coro com o Sinais de M. Night Shyamalan ao criar alienígenas com desejo suicida: se lá eram alérgicos à água, aqui surgem com aversão à luz do sol – e mal posso esperar pela parte final da trilogia, que certamente trará E.T.s que pegam fogo ao entrarem em contato com o oxigênio. Como se não bastasse, nem mesmo o visual das criaturas apresenta-se inventivo: uniformizados, parecem Power Rangers descoloridos; expostos, exibem uma barbicha inspirada em um porco-espinho.

Mas exigir criatividade de uma produção como esta é revelar um otimismo irresponsável, já que desde o início fica claro que o roteiro irá encarar cada personagem como um clichê ambulante – a começar por Alex, descrito por todos como um sujeito inteligente e com “imenso potencial” que, no entanto, deixa seu temperamento destruí-lo. (E é claro que o filme irá criar a situação perfeita para que ele possa se redimir, mesmo que para isso precise convenientemente matar todos os oficiais com patente superior à do rapaz, levando-o a assumir o comando de uma pequena frota.) Assim, chega a assustar que os personagens secundários sejam ainda mais absurdos que o protagonista, a começar pela marinheira vivida pela cantora Rihanna, que, interpretando com o cabelo, protagoniza a cena mais ridícula do projeto ao explicar que seu pai a avisara de que os alienígenas “viriam um dia”. E se Jesse Plemons (que vive o atrapalhado/covarde Ordy) surge como uma espécie de versão deficiente mental de Matt Damon, o militar veterano Gregory D. Gadson, vítima de amputação bilateral dos membros inferiores, ao menos merece créditos pelo esforço, embora seja absolutamente inexpressivo como ator (para ver um veterano de guerra brilhando nas telas, a referência ainda é a performance tocante de Harold Russell em Os Melhores Anos de Nossas Vidas).

Sem nem ao menos estabelecer com alguma clareza a natureza dos alienígenas (que em certo momento, por exemplo, parecem fazer contato telepático com o herói apenas para que isto seja imediatamente ignorado), o roteiro peca também pelos diálogos atrozes, que vão do puramente expositivo (“Ele odeia aquele cara”) ao simplesmente estúpido (“Você está dizendo que mandamos um sinal para o espaço e recebemos uma resposta alienígena?”), culminando na utilização mais previsível que já testemunhei da frase de efeito “Mas não hoje”. Para piorar, todas as tentativas de humor feitas pelo filme falham miseravelmente, ao passo que momentos supostamente dramáticos imediatamente provocam risadas involuntárias (e a câmera lenta que traz os marinheiros de terceira idade se aproximando talvez seja a maior delas). E o que dizer dos esforços feitos pelo cineasta Peter Berg para se estabelecer como o novo “rei dos flares”, ultrapassando J.J. Abrams ao incluir reflexos luminosos até em planos ambientados sob a água?

Surgindo como uma cópia mal acabada de Transformers (interrompa a leitura e pense por um segundo no que acabei de escrever), Battleship não apenas é aborrecido e tolo como ainda conceitualmente feio, glorificando o que há de pior na natureza humana: a guerra, o impulso de destruição e, claro, a iniciativa de transformar jogos de tabuleiro em superproduções hollywoodianas.

Observação: há uma cena adicional após os créditos finais caso você não tenha se sentido suficientemente punido pelas mais de duas horas já passadas no cinema.

10 de Maio de 2012

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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