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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
02/12/2011 01/01/1970 4 / 5 / 5
Distribuidora
Sony Pictures
Duração do filme
97 minuto(s)

Operação Presente
Arthur Christmas

Dirigido por Sarah Smith. Com as vozes de James McAvoy, Hugh Laurie, Bill Nighy, Jim Broadbent, Imelda Staunton, Ashley Jensen, Laura Linney, Eva Longoria, Michael Palin, Robbie Coltrane, Joan Cusack, Jane Horrocks, Andy Serkis.

Operação Presente tem um final feliz – e se você considera isso um spoiler, é porque nunca viu um filme de Natal voltado para o público infant... não, permitam-me reescrever isso: é porque você nunca viu um filme. Porém, o final feliz deste longa não se contenta em sê-lo, encarregando-se também de salientar que todos os seus personagens o são. O mais importante, no entanto, é que a narrativa foi tão eficiente em levar o público a se apaixonar por aqueles indivíduos que saímos do cinema felizes por saber que aquelas criaturas fictícias e absurdas passaram o resto de suas inexistentes vidas sentindo uma alegria irreal. Se isso não comprova o sucesso criativo do filme, não sei o que mais poderia fazê-lo.

Escrito pela diretora estreante Sarah Smith ao lado de Peter Baynham, o roteiro gira em torno da família Noel, que vem se encarregando da distribuição mundial de presentes há séculos numa tradição passada de pai para filho – e quando a projeção tem início, o vigésimo Papai Noel, Malcolm (Broadbent), encontra-se prestes a completar sua septuagésima missão enquanto encaminha-se para a aposentadoria, o que elevará ao posto principal seu filho mais velho, Steve (Laurie). Responsável por modernizar toda a operação, investindo em alta tecnologia e aposentando até mesmo o velho trenó usado pelo avô (Nighy), Steve encara o Natal com uma visão empresarial e, assim, quando uma única garotinha tem seu presente esquecido, ele aponta feliz que aquilo se encontra dentro da “margem de erro” – algo que seu irmão caçula, Arthur (McAvoy), considera inaceitável, partindo numa missão enlouquecida ao lado do avô para evitar que a menina acorde com a árvore de Natal vazia.

Imaginativo em sua concepção de uma família Noel high-techOperação Presente oferece explicações divertidas para os questionamentos de uma menininha que se espanta com a capacidade do bom velhinho de percorrer todo o planeta na véspera de Natal e com o fato de não conseguir encontrar sua residência no Pólo Norte ao usar o Google Earth. Enquanto isso, a entrega dos presentes assume um caráter quase militar, chegando a trazer Papai Noel com uma roupa que exibe detalhes sugerindo condecorações de general e uma cena particularmente inspirada na qual o centro de operações lida com um certo incidente como se ele houvesse pisado em uma mina.

Empregando legendas que buscam sugerir a urgência da situação, mas também ressaltar o caráter de longa de ação (saindo-se bem melhor neste aspecto do que Os Especialistas, lançado na mesma semana), Operação Presente ainda conta com um senso de humor impecável, desde as tiradas do Vovô Noel, que enxerga o mundo com olhos do início do século 20, até gags visuais sutis, mas igualmente certeiras, como o beijo entre um casal elfo que reproduz a icônica foto tirada por Alfred Eisenstaedt ao final da Segunda Guerra. De forma similar, o design de produção impressiona pela escala grandiosa do centro de operações montado por Steve, com suas intermináveis esteiras e postos ocupados por operadores elfos, mas também exibe preciosismo nos detalhes (e observem como a oficina do Vovô Noel traz, por exemplo, uma lata de “lubrificante de chaminés” ou como seu velho trenó, com suas alavancas e botões antigos, exibe um ar clássico, mas obviamente ultrapassado).

Co-produzido pela Aardman Animations, que, como em Por Água Abaixo, temporariamente investe na computação em vez do stop motion de A Fuga das Galinhas e Wallace & Gromit – A Batalha dos VegetaisOperação Presentetraz personagens que exibem o visual característico das criações de Nick Park, com seus olhos redondos e esbugalhados e bochechas salientes – e aqui também os detalhes impressionam, desde as manchas na careca do Vovô Noel até os pelos nas orelhas de um velho elfo, passando pela barbicha de Steve, que tem o formato de uma árvore de Natal, e pelo piercing usado pela elfa Bryony.

Contudo, todo este brilhantismo técnico seria em vão caso os personagens não exibissem personalidade própria e tivessem alma – algo que se reflete até mesmo nos elfos, que, surgindo aos milhares, encaram Papai Noel com devoção absoluta, demonstrando carinho pelo conceito de Natal e pelas crianças (e é divertidamente tocante ver um pequeno elfo burlando o sistema de Steve para presentear uma criança identificada como “levada” por seu scanner). E se Steve, com seu uniforme deNoel assinado por Versace e completado por uma gravata, surge como um executivo impessoal, isto não o impede de emocionar-se diante do encantamento de uma criança, ao passo que Papai Noel, como tantos outros pais do mundo real, deixa a cargo da esposa os presentes que serão dados à própria família.

E ver a interação destes quatro Papais Noéis e, especialmente, a empolgação desastrada do jovem Arthur, resulta num filme encantador, engraçado e memorável.

03 de Dezembro de 2011

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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