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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
17/08/2012 01/01/1970 3 / 5 / 5
Distribuidora
Sony
Duração do filme
118 minuto(s)

O Vingador do Futuro
Total Recall

Dirigido por Len Wiseman. Com: Colin Farrell, Jessica Biel, Kate Beckinsale, Bryan Cranston, Bokeem Woodbine, Bill Nighy, John Cho, Will Yun Lee, Kaitlyn Leeb.

O título O Vingador do Futuro não fazia sentido no filme original e continua a não fazer na versão de 2012. Por outro lado, é no mínimo curioso que o longa de Paul Verhoeven conseguisse trazer certa verossimilhança a uma trama envolvendo viagens a Marte, mutantes com poderes psíquicos e aparatos alienígenas enquanto o fraco Len Wiseman tropeça mesmo sem ter que lidar com estes elementos fantásticos. Ainda assim, esta produção mostra-se capaz de divertir moderadamente - caso o espectador consiga se divorciar das lembranças da eficiente obra estrelada por Arnold Schwarzenegger.

Estrelando sua segunda refilmagem consecutiva depois de A Hora do Espanto, Colin Farrell encarna aqui o herói Douglas Quaid, que mantém um emprego deprimente e mal remunerado e vive na miserável Colônia ao lado da belíssima esposa Lori (Beckinsale). Sonhando com uma vida melhor, ele visita a empresa Rekall para implantar memórias mais emocionantes, mas isto aparentemente dispara lembranças reais de sua vida como espião – o que o leva a ser perseguido por perigosos agentes e a reencontrar a rebelde Melina (Biel), que pode levá-lo ao líder revolucionário Matthias (Nighy), inimigo do regime do impiedoso Cohaagen (Cranston).

Baseado mais no roteiro do filme de 1990 do que no conto de Philip K. Dick (incluindo aí os nomes dos personagens secundários e do vilão), o roteiro de Kurt Wimmer e Mark Bomback já inicia carregando na exposição ao apelar para letreiros que introduzem o universo da trama, que agora se passa numa Terra cuja população se divide entre a rica Federação Britânica e a já mencionada Colônia – e é visível, a luta dos realizadores para homenagear o longa de Verhoeven ao mesmo tempo em que tentam criar uma nova história. Assim, embora desta vez não haja a subtrama envolvendo a falta de oxigenação que leva ao surgimento dos mutantes, eles dão um jeito de incluir a prostituta marciana mutante de três seios, o que não faz o menor sentido no novo contexto. Da mesma maneira, quando o herói usa um disfarce em certo instante, Wiseman enfoca uma figurante parecida com a estranha senhora na qual Schwarzenegger se “transformava” naquele trabalho – e se o Matthias de Bill Nighy fala como um profeta, isto soa artificial, já que é apenas um sujeito comum citando as falas do mutante psíquico da versão anterior.

Para piorar, os novos elementos introduzidos pelos roteiristas são tolos e nada originais: os soldados sintéticos surgem como uma mistura dos stormtroopers de Star Wars e das máquinas de Eu, Robô (mas com o Q.I. de Forrest Gump; a promoção da esposa do herói à sua principal perseguidora é absolutamente implausível (por que uma agente tão graduada seria colocada numa missão longa que consistiria apenas em observar um homem com amnésia – e sem saber quem está vigiando de fato?; e as razões do vilão Cohaagen conseguem ser mais absurdas do que as de seu antecessor (e percebam que este queria manter o monopólio sobre o oxigênio!). Como se não bastasse, Wiseman até tenta manter certa ambiguidade com relação à realidade do que está ocorrendo, mas sem sucesso – e jamais duvidamos das experiências do protagonista. Além disso, a suavização do desfecho, que evita a reviravolta mais interessante do original, é fruto óbvio da covardia do estúdio, que parece temer criar heróis que desafiem de qualquer maneira o público.

Em contrapartida, O Vingador do Futuro impressiona favoravelmente em seu design de produção – e se os ambientes marcianos soavam apenas como cenários em 1990, aqui a Colônia é retratada como uma imponente favela futurista concebida como um amontoado de barracos de concreto que desafiam a gravidade, ao passo que os canais que cruzam a cidade repleta de adereços orientais a transformam num curioso cruzamento entre Veneza e Chinatown. Tudo isso, claro, se choca com a aparência limpa e organizada da Federação, com suas estradas elevadas e prédios grandiosos. Além disso, Wiseman merece créditos por não usar estes espaços como mera ilustração, empregando-os de forma orgânica em perseguições que vão desde as ruelas apertadas da Colônia até os saltos nos elevadores da Federação, passando pela corrida através das rodovias aéreas que culminam numa solução interessante por parte do herói. (O que compensa um pouco outras decisões menos felizes do cineasta, como a de enfocar a primeira luta do protagonista através de uma câmera voadora que viaja pela sala enquanto ele enfrenta vários inimigos numa tomada ininterrupta, criando mais um tom de artificialidade do que de visceralidade.)

Exagerando também nos flares que buscam conferir um tom futurista à narrativa (veja o monstro que criou, J.J. Abrams!), Wiseman tropeça feio ainda ao incluir trilha sonora na sequência inicial – um erro lógico que ficará claro para qualquer um que assistir ao filme. Da mesma maneira, o desejo de evitar uma classificação indicativa pesada acaba resultando numa história que, apesar de violenta, jamais lida com as consequências das ações dos personagens, o que vem se tornando um erro cada vez mais comum em Hollywood (e comparem os golpes e tiros assépticos desta produção com o mar de sangue criado por Verhoeven no original).

Mais uma vez apresentando-se como um protagonista carismático e intenso, Colin Farrell é hábil ao emprestar credibilidade à trama mesmo nos instantes mais absurdos (como na cena em que seu personagem decide tocar piano num momento nada apropriado), comprovando, ainda, ser convincente como herói de ação. Por outro lado, Kate Beckinsale (esposa do diretor) vive Lori no modo bitch Jason, já que está sempre com expressão de má e parece ser indestrutível. E se Jessica Biel continua bela (e só), Bryan Cranston insiste em investir todos os créditos adquiridos por seu trabalho fantástico em Breaking Bad em personagens insignificantes de produções medianas para baixo (vide John Carter, Contágio e Larry Crowne).

Prejudicado também por um desfecho estúpido, o novo O Vingador do Futuro é um passatempo eficiente, mas tão facilmente esquecível quanto o passado de seu protagonista.

19 de Agosto de 2012

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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