Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
13/05/2011 | 01/01/1970 | 4 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
106 minuto(s) |
Dirigido por George Nolfi. Com: Matt Damon, Emily Blunt, Anthony Mackie, John Slattery, Michael Kelly, Donnie Keshawarz, Terence Stamp.
O que você precisa saber sobre Os Agentes do Destino é que o filme é, em seu cerne, uma história de amor. Sim, uma história de amor apresentada em uma embalagem de “ficção-científica-barra-teoria-da-conspiração”, mas ainda assim um romance. Escrito e dirigido por George Nolfi a partir de um conto do gênio Philip K. Dick, o longa aproveita apenas a premissa básica do material original, descartando todo o resto – uma decisão sábia, já que, no caso de The Adjustement Team (o texto de Dick), o conceito realmente era bem melhor do que sua execução. Desta forma, Nolfi cria uma narrativa intrigante, tensa e romântica que mantém o espectador interessado durante a maior parte da projeção – até que, a dois minutos dos créditos finais, o filme decide cometer suicídio, quase arruinando toda a experiência.
Com uma introdução ágil que nos apresenta ao protagonista através de uma montagem que ilustra sua fracassada candidatura ao senado, Os Agentes do Destino logo estabelece o político David Norris (Damon) como um sujeito bem intencionado constantemente sabotado pela própria impulsividade. Derrotado ao ter um vídeo embaraçoso divulgado na Internet na véspera da eleição, ele acaba conhecendo a dançarina Elise (Blunt) em um local inesperado – um banheiro masculino -, interessando-se imediatamente pela garota, que se mostra capaz de inspirá-lo a um ato de honestidade pública que basicamente salva sua carreira. Isto, porém, desperta a atenção de um grupo misterioso que, usando sempre sobretudos pesados e chapéus, parece determinado a manter David afastado da moça a todo custo.
Construindo a primeira metade da projeção a partir do mistério que envolve a natureza daqueles seres, o roteiro move a trama através de perguntas como: “Quem são aqueles homens?”; “Por que David e Elise não podem se envolver romanticamente?”; “Se o ‘destino’ não prevê aquele romance, por que o casal vive se encontrando graças ao acaso?”; e, não menos importante, “Quem ou o quê é o responsável por determinar o futuro dos dois?”. Normalmente, um filme capaz de inspirar tantas perguntas corre o risco de se tornar desinteressante justamente ao respondê-las (vide Os Esquecidos e Premonições, por exemplo), mas aqui Nolfi consegue oferecer explicações intrigantes ao mesmo tempo em que opta inteligentemente por não esclarecer completamente outras tantas indagações, permitindo que preenchamos as lacunas com nossas próprias teorias – e é fácil prever que muitos projetarão explicações religiosas na trama, já que o roteiro não desencoraja tais interpretações, mesmo que não as abrace abertamente.
Neste sentido, até mesmo o visual clichê dos tais seres age a favor da narrativa, referenciando desde os anjos de Asas do Desejo até os alienígenas de Cidade das Sombras, passando pelos Observadores de Fringe e os agentes do governo de tantas obras com tom conspiratório, abrangendo, assim, todo tipo de origem possível para as criaturas. Além disso, os tons cinza dos figurinos funcionam como camuflagem diante da fotografia igualmente acinzentada e dessaturada de John Toll, o que oferece até mesmo uma justificativa narrativa orgânica para que os “agentes” usem aquelas roupas.
Isto, porém, não impede que os antagonistas tenham personalidade própria – e um dos elementos mais fascinantes do filme é perceber a frustração de figuras como Richardson (Slattery), Thompson (Stamp) e Harry (Mackie) diante da determinação e das estratégias de David para enganá-los. Da mesma forma, é interessante notar que, mesmo surgindo tão poderosos, aqueles homens parecem não compreender totalmente o quadro geral que defendem com tamanha energia, surgindo quase como peças tão manipuláveis quanto os humanos cujos destinos lutam para influenciar. Mas o mais recompensador em Os Agentes do Destino é constatar que o protagonista, ao contrário de tantos outros de obras similares, faz as perguntas certas nos momentos certos, mostrando-se capaz também de compreender as implicações das respostas e de extrapolá-las em seu benefício.
Roteirista com uma carreira irregular que vai de Doze Homens e Outro Segredo a O Ultimato Bourne, passando pelo regular Sentinela e pelo tolo Linha do Tempo, George Nolfi aqui estréia na direção como uma boa promessa, criando, ao lado de Toll, planos inteligentes como aquele que inicialmente traz Terence Stamp ao fundo e completamente desfocado, como um espectro, apenas para revelá-lo através de um rack focus (mudança brusca no foco) que sugere sutilmente sua essência sobrenatural. Além disso, o cineasta sugere a solidão do protagonista e a importância de sua relação com Elise através de uma lógica visual simples, mas eficaz, trazendo Damon inicialmente no meio de quadros abertos que o deixam pequeno e solitário apenas para se aproximar bruscamente dos atores quando o casal se encontra, voltando a focar o sujeito sozinho em um corredor de hospital num momento-chave da projeção. E mais: hábil também ao evocar um clima de tensão constante, Nolfi ainda se sai admiravelmente bem ao criar uma seqüência de perseguição no terceiro ato que, emprestando elementos de (pasmem) Monstros S.A., rivaliza em originalidade com aquelas vistas em obras como Possuídos e Déjà Vu.
Enquanto isso, Matt Damon e Emily Blunt se revelam fundamentais para o sucesso do projeto ao estabelecerem uma química intensa e imediata, convencendo o espectador através da maneira confortável com que dividem a cena de que seus personagens realmente foram feitos um para o outro – e se não conseguíssemos aceitar isso, todo o filme desmoronaria, já que seria difícil compreender a determinação de David diante de tantos obstáculos e da óbvia constatação de que seus inimigos parecem de fato saber de algo que se encontra além de seu alcance.
O curioso é que se este “algo” tinha tudo para se revelar o ponto fraco da narrativa (como um simples romance poderia ser tão prejudicial dentro do quadro geral do universo?), Nolfi acaba apresentando-o com competência apenas para tropeçar posteriormente quando tudo já parecia encaminhado rumo a uma resolução satisfatória – como se, na última hora, tivesse sido substituído por um outro roteirista com suas próprias preocupações temáticas. E se por um lado poderíamos até aceitar que a premissa de Os Agentes do Destino naturalmente já previa uma espécie de presidente ex machina, por outro fica impossível abraçar uma narração em off que surge do nada depois de duas horas de projeção apenas para apresentar uma lição de moral artificial e absurda (em essência, seria o mesmo que De Volta para o Futuro trazer um discurso de Doc em seus segundos finais alertando o espectador para o fato de que viajar no tempo é uma atividade perigosa).
Felizmente, dois minutos não são o bastante para destruir o que viera antes. O que, claro, não me impede de desejar que algum agente similar àqueles vistos no filme tivesse interferido na concepção do projeto para devolvê-lo ao rumo ideal antes que fosse tarde demais.
13 de Maio de 2011
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