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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
17/04/2009 01/01/1970 2 / 5 / 5
Distribuidora
Duração do filme
106 minuto(s)

A Fronteira da Alvorada
La Frontière de L`aube

Dirigido por Philippe Garrel. Com: Louis Garrel, Clémentine Poidatz, Laura Smet.

 

“No dia em que o último sobrevivente do Holocausto morrer, a Terceira Guerra Mundial terá início”, filosofa François, o insatisfeito fotógrafo vivido por Louis Garrel, filho do cineasta Philippe Garrel neste A Fronteira da Alvorada. A implicação da frase reflete os próprios dilemas amorosos do protagonista: com freqüência alarmante, o ser humano tende a esquecer os erros do passado quando não há algo que o faça manter viva a memória do que já se foi – e, assim, é natural que tenhamos a tendência de falar dos “velhos tempos” com nostalgia, comparando-os injustamente com o presente, cujos problemas naturalmente se encontram bastante vivos em nossos cotidianos.

 

Tomemos François como exemplo: depois de um relacionamento difícil com a insegura e exigente (uma combinação sempre perigosa) Carole (Smet), o sujeito se envolve com a doce Ève (Poidatz) apenas para ser perturbado, simbólica e literalmente, pelo fantasma de seu antigo namoro – e, ignorando todo o sofrimento que este lhe causou, é com surpresa que ele se vê encarando Ève como uma sombra pálida da complicada Carole. Aliás, esta comparação é apresentada pelo diretor até mesmo em sua lógica visual: enquanto Smet é fotografada como uma autêntica estrela dos anos 30 e 40, com o belo jogo de luz e sombras ressaltando seu rosto angular, a bela Poidatz é vista de maneira prosaica, sem glamour algum, como se fosse uma mulher “comum” em comparação com a arrebatadora Smet.

 

Outro curioso jogo simbólico feito por Garrel reside nos anacronismos de sua narrativa: François ainda usa câmeras antigas e revela seus filmes sozinho, ignorando a tecnologia digital e o photoshop, e Carole troca cartas e bilhetes com os homens de sua vida, ignorando o e-mail. E se o tratamento de choque efetuado em um personagem já seria absurdo neste contexto, o gigantesco voltímetro concebido pela direção de arte expõe ainda mais sua deslocada existência. Da mesma forma, Garrel emprega recursos característicos do cinema mudo em sua montagem, como as elipses indicadas pelo fechamento da íris e intertítulos que indicam a passagem do tempo. Com isso, o cineasta – conhecido por suas obras que investigam as conseqüências emocionais de relacionamentos fracassados – escancara sua visão sobre a eterna incapacidade do ser humano de lidar com o amor e com o outro: por mais que a tecnologia avance e o mundo se desenvolva, permanecemos presos aos mesmos joguinhos românticos e à imutável fragilidade à qual estes nos submetem.

 

Dito isso, não posso dizer que apreciei realmente A Fronteira da Alvorada. Em primeiro lugar, Garrel se mostra auto-indulgente como de hábito ao desenvolver suas idéias num ritmo incomodamente irregular que nem mesmo a bela fotografia consegue compensar. Além disso, ao prender o espectador a um protagonista que, em suma, é um babaca egoísta e imaturo, o filme abusa da nossa boa-vontade – e ao ver o plano final, senti uma imensa satisfação quando, na realidade, provavelmente deveria estar experimentando certa frustração.  

20 de Outubro de 2008

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Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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