Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
03/04/2009 | 01/01/1970 | 5 / 5 | 5 / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
90 minuto(s) |
Dirigido por Ari Folman. Com as vozes de Ari Folman, Ron Ben-Yishai, Ronny Dayag, Dror Harazi, Yehezkel Lazarov, Mickey Leon, Ori Sivan, Zahava Solomon.
Assim como o soberbo Persépolis, candidato francês ao Oscar de Filme Estrangeiro em 2008, o representante israelense para o próximo ano é uma animação para adultos que, assumindo um caráter autobiográfico, apresenta as dificuldades de seu diretor e roteirista, Ari Folman, em lidar com suas terríveis experiências durante o período em que serviu no exército israelense, estabelecendo-se, desta maneira, como um raro documentário em animação.
Com as reflexões despertadas pelo encontro com um antigo companheiro do exército, Folman sente-se frustrado e preocupado por não ter uma única lembrança de seu período como militar (com exceção de seus dias de licença) – e, assim, é com surpresa que subitamente uma forte imagem lhe vem à mente, podendo estar relacionada ao terrível massacre ocorrido em Sabra e Shatila, em 1982. (Em 15 e 16 de setembro daquele ano, uma milícia libanesa cristã-falangista, revoltada com a morte de seu líder Bashir Gemayel, executou centenas - possivelmente milhares - de refugiados palestinos com a clara conivência do exército de Israel.)
Usando o Cinema como exercício terapêutico, Folman constrói este Valsa com Bashir a partir de entrevistas feitas com ex-companheiros e testemunhas do massacre, constatando, ao longo do processo, o dinamismo de sua própria memória ao preencher lacunas com imagens que podem ter caráter simbólico ou representarem lembranças tristemente verdadeiras.
O resultado, embora talvez não tenha o efeito catártico esperado pelo cineasta (só ele pode dizer isto), é um presente para o espectador e um resgate histórico fundamental – especialmente por vir acompanhado de um mea culpa que, convenhamos, não é muito comum no que diz respeito a Israel.
Mas não é só política e psicologicamente que o filme tem peso; sua concepção visual é freqüentemente arrebatadora, empregando uma paleta melancólica que reflete a própria natureza das recordações dos personagens, podendo oscilar entre cores mais intensas de uma lembrança agradável ou o cinza-laranja de um angustiante pesadelo. Por outro lado, a animação e o design dos personagens privilegiam o realismo não só em suas expressões, mas também em seus gestos, como o tamborilar na lataria de um tanque ou o revelador fechar do colarinho num gesto de auto-preservação.
Ainda assim, nada prepara o público para os impactantes minutos finais da projeção, quando Folman, reconhecendo a natureza artificial da animação para certos propósitos, inclui terríveis imagens de arquivo que surgem ainda mais aterrorizantes graças ao contraste com a estilização que as precederam – e o último segundo de filme justifica, por si só, a necessidade inconsciente do cineasta em reprimir suas próprias lembranças.
Observação: Crítica originalmente publicada durante a cobertura da 32ª. Mostra de SP.
24 de Outubro de 2008
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