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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
29/01/2010 01/01/1970 4 / 5 5 / 5
Distribuidora

Zumbilândia
Zombieland

Dirigido por Ruben Fleischer. Com: Woody Harrelson, Jesse Eisenberg, Emma Stone, Abigail Breslin, Amber Head, Mike White e Bill Murray.

Zumbilândia é um filme idiota - não há como fugir desta constatação. É também surpreendentemente divertido, o que, para seus propósitos, é mais do que o suficiente. Sim, talvez pudesse contar com diálogos mais trabalhados ou com uma abordagem mais irreverente, mas se sua fórmula simples acaba funcionando, talvez estas reclamações sejam injustificadas. O fato é que defender o longa como algo mais do que um passatempo esquecível é tarefa difícil, mas – que se dane! – é o que tentarei fazer nos parágrafos seguintes.

Escrito por Rhet Reese e Paul Wernick, o roteiro assume de cara a falta de uma trama bem definida ao se apresentar como um road movie – um subgênero que oferece a estrutura ideal para histórias frágeis por natureza, já que a mudança constante de cenário permite que a narrativa episódica e desconexa soe mais natural e até aceitável. Assim, somos apresentados a quatro personagens que, num mundo tomado por zumbis, tentam alcançar a costa por motivos tolos como o próprio filme, sendo obrigados a enfrentar os comedores de cérebro (aliás, de qualquer tecido humano) enquanto aprendem a confiar uns nos outros. Com isso, a dupla de roteiristas tenta convencer o espectador de que, apesar de tolo e inconseqüente, o filme tem um “tema” e um arco dramático – duas inverdades que, mais uma vez, acabamos ignorando justamente por estarmos nos divertindo tanto com o que ocorre na tela.

Carregando na narração em off (outro recurso típico de um roteiro preguiçoso), Zumbilândia tem, como protagonista, o inseguro Columbus, que logo se encarrega de explicar as várias regras que segue a fim de se manter vivo: manter um bom preparo físico, não bancar o herói, sempre conferir se há algum zumbi no banco de trás do carro e assim por diante. Surgindo como letreiros que interagem com os personagens em cena, estas regras acabam se estabelecendo como a primeira surpresa agradável do filme, que também consegue a proeza de fazer referências a diversos outros longas, de Amargo Pesadelo a Babe, o Porquinho Atrapalhado, sem que isso soe forçado ou artificial, mas apenas engraçado.

Enquanto isso, o diretor estreante Ruben Fleischer demonstra segurança na construção de suas gags e também na utilização da violência gráfica com fins cômicos – algo que fica claro já nos excepcionais créditos iniciais, que, empregando uma câmera lentíssima, são admiráveis tanto do ponto de vista estético quanto temático. Aliás, Fleischer merece elogios pela boa utilização da câmera lenta ao longo da narrativa, já que, mesmo empregando o recurso várias vezes, encontra sempre uma maneira de usá-lo de forma surpreendente. Da mesma maneira, os efeitos de maquiagem conseguem se equilibrar entre o escatológico e o absurdo, ao passo que o design de produção é eficaz ao estabelecer aquele mundo pós-apocalíptico de maneira econômica, mas convincente.

Beneficiado pela presença sempre divertida de Woody Harrelson, que mais uma vez abraça o tipo insano, durão e não muito brilhante que vem se tornando sua especialidade, Zumbilândia também traz Jesse Eisenberg num papel perfeito para sua persona de quase adolescente tímido e desajeitado (e é impressão minha ou ele poderia ser uma espécie de irmão de alma de Michael Cera?). Já Emma Stone surge como um bom contraponto a Eisenberg em função da natureza cínica de sua personagem, ao passo que Abigail Breslin mal parece ser a mesma atriz que, há apenas três anos, encarnou a garotinha ingênua de Pequena Miss Sunshine. No entanto, o grande destaque da produção fica mesmo por conta de uma ponta magnífica de Bill Murray, que, em poucos minutos, desconstrói alguns dos maiores sucessos de sua carreira, de Os Caça-Fantasmas a Garfield, passando por Clube dos Pilantras e Os Fantasmas Contra-Atacam.

Embora não tão inteligente quanto Todo Mundo Quase Morto ou tão engraçado quanto Débi & Lóide, Zumbilândia acaba se estabelecendo como uma mistura improvável destes dois ótimos filmes – e mesmo que não esteja em minha lista de melhores no fim do ano, certamente duas ou três seqüências específicas de sua narrativa surgirão em minha relação de “melhores momentos de 2010”. O que, convenhamos, já coloca esta produção bem acima da maior parte dos lançamentos que chegarão às telas nos próximos 11 meses.

Observação: há uma cena adicional após os créditos finais.

30 de Janeiro de 2010

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Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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