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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
22/07/2011 01/01/1970 3 / 5 / 5
Distribuidora
Duração do filme
91 minuto(s)

Vejo Você no Próximo Verão
Jack Goes Boating

Dirigido por PhilipSeymour Hoffman. Com: Philip Seymour Hoffman, Amy Ryan, John Ortiz, DaphneRubin-Vega, Thomas McCarthy, John Ortiz, Salvatore Inzerillo.

Na primeira vez em que vemos Jack,protagonista de Vejo Você no Próximo Verão,este se encontra deitado em sua cama olhando sem expressão alguma para o tetode seu pequeno e escuro quarto. Motorista de limusine da empresa de seu tio ejá mais próximo da meia-idade do que da adolescência, o sujeito é um indivíduo solitárioe deprimido que, dotado de uma personalidade apática, mal parece ter suapresença registrada por aqueles à sua volta – e quando uma cliente puxaconversa durante o trajeto, é apenas com o intuito de praticar seu trôpegoinglês com um subalterno que não poderá julgá-la pelos erros de pronúncia.

Escrito por Robert Glaudini a partirde sua própria peça teatral e marcando a estreia na direção de Philip SeymourHoffman (que também encarna Jack), o filme acompanha quatro personagensentristecidos em sua busca por alguma conexão significativa com outros seres humanos:melhor amigo do protagonista, o também motorista Clyde (Ortiz) vê seu casamentocom Lucy (Rubin-Vega) enfrentar uma grave crise desde que esta confessou umatraição, mas isto não impede o casal de bancar o cupido e apresentar aintrovertida Connie (Ryan) a Jack, algo que acaba servindo como gatilho parapequenos acontecimentos que irão alterar de alguma maneira as vidas de todos.Aliás, o primeiro encontro dos dois já ilustra com perfeição o universomelancólico criado pelo longa: amontoados em torno da pequena mesa de jantar dacozinha de Clyde e Lucy, eles conversam sobre tragédias passadas até que Conniese traca no banheiro para chorar – mas ainda assim uma ligação surge quando umnovo encontro é desajeitadamente marcado para que possam passear de barcodurante o verão.

Dali a seis meses.

Isto, porém, não soa absurdo paraJack, que enxerga no futuro passeio uma promissora possibilidade de estabelecerum contato mais próximo com a garota – e quando determinado incidente o leva ase comprometer a cozinhar para esta, sua existência finalmente passa a serpautada por objetivos palpáveis, já que, além de ter que aprender a nadar(afinal, um passeio de barco traz certos riscos), ele terá que aprender apreparar um prato rebuscado.

Escapando com eficiência de suaorigem teatral, já que espalha a narrativa por várias cenas e ambientesdiferentes, Vejo Você no Próximo Verãoé hábil também ao explorar pequenos e sutis momentos para construir a dinâmicaentre seus personagens, como no instante em que, finalmente a sós depois queseus convidados se despedem, Clyde e Lucy exibem um claro desconforto napresença um do outro, levando esta última a rapidamente deixar o marido na salaao se recolher ao quarto. Por outro lado, Hoffman carrega a mão ao enfocar umporta-retratos que traz o casal entristecido, saindo-se bem melhor na únicasequência que escancara a gênese da narrativa por representar um longo econtínuo confronto ambientado no apartamento que serve de palco ao terceiro ato– e que evoca uma tensão crescente até culminar numa explosão digna de Quem Tem Medo de Virginia Woolf?.

Revelando sua absoluta falta devaidade ao enfocar-se como um sujeito gordo e nada atraente (especialmente nascenas que se passam na piscina pública), Philip Seymour Hoffman compõe Jackcomo um homem cuja aparente doçura é provavelmente resultado de seus esforçoscontínuos para não chamar a atenção – e quando decide “vestir-se para o sucesso”,por exemplo, o máximo que ele consegue é usar uma velha camisa social que emnada combina com seu pavoroso gorro (uma peça de vestuário que ele abandonaráapenas ao sentir-se mais confortável consigo mesmo). Demonstrando seu incômododiante de qualquer situação de confronto através de um discreto tique (opigarro), Jack é o típico sujeito cuja eventual explosão parece inevitável,sendo adiada apenas pelo constante apoio dos amigos que nele reconhecem umaalma essencialmente bondosa. Assim, quando ele deixa a apatia habitual pordesejar agradar seu interesse romântico, a narrativa ganha vida e uma alegriaque, mesmo contida, estabelece a importância daquela mudança no cinzentocotidiano do protagonista.

Mas Hoffman não é apenas carente devaidade; é também um cineasta e ator generoso que logo abre seu filme para ospersonagens secundários, permitindo que seus companheiros de elenco sedestaquem – e se o projeto merece aplausos, estes se devem justamente àqualidade das atuações. Encarnando Connie como uma mulher sexualmentereprimida, Amy Ryan se revela uma atriz cada vez mais interessante ao ilustraros esforços da moça para corresponder aos tímidos avanços de Jack ao mesmotempo em que procura vencer seus bloqueios pessoais diante da intimidade, aopasso que Jack Ortiz, como Clyde, cria um tipo sempre sorridente cujaexpansividade logo se apresenta como um disfarce para sua angústia, já que ele constantementese entrega à autotortura ao imaginar a esposa com outros homens. Parafinalizar, Daphne Rubin-Vega interpreta Lucy como um contraponto ao marido,surgindo com a expressão permanentemente fechada e rancorosa diante deste,abrindo-se apenas ao interagir com os demais.

Explorando com eficiência o céusempre cinzento do inverno nova-iorquino, a fotografia de Mott Hupfel se adequaperfeitamente à melancolia da narrativa, que, dominada por personagensquebrados por contínuas decepções, torna-se gradualmente mais leve à medida queao menos um dos casais aqui vistos parece redescobrir o encantamento da vida.

E mesmo não sendo um grande filme, Vejo Você no Próximo Verão ésuficientemente sensível para reconhecer que, às vezes, até mesmo a vaga promessade um passeio de barco é o bastante para que enxerguemos a possibilidade defelicidade.

22de Julho de 2011

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Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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