Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
04/09/2014 | 01/01/1970 | 3 / 5 | 2 / 5 |
Distribuidora | |||
Paramount |
Dirigido por Brett Ratner. Roteiro de Ryan Condal e Evan Spiliotopoulos. Com: Dwayne Johnson, Ian McShane, Rufus Sewell, Peter Mulan, Aksel Hennie, Ingrid Bolsø Berdal, Reece Ritchie, Tobias Santelmann, Rebecca Ferguson, Joseph Fiennes e John Hurt.
O conceito por trás de Hércules é interessante: ancorar o herói da mitologia em um mundo real no qual monstros e outras criaturas fantásticas existem em versões plausíveis e no qual a natureza de semideus do personagem-título é tratada mais como um golpe de marketing do que como algo factual. É uma ideia que funciona moderadamente bem graças, principalmente, ao bom humor com o qual é apresentada, mas que acaba sendo prejudicada pela irregularidade do roteiro e por uma direção que transforma as sequências de ação em momentos de puro tédio.
Baseado nos quadrinhos de Steve Moore, o roteiro do estreante Ryan Condal e do experiente Evan Spiliotopoulos acaba refletindo mais do que o ideal o fato de este último ter construído sua carreira como roteirista de animações voltadas para um público bastante jovem (Pooh e o Efalante, Tinker Bell e o Tesouro Perdido, entre outros), já que converte os personagens em figuras unidimensionais incapazes de subtexto e que parecem sempre dispostas a explicar a “moral da história” para o espectador. Passando a acompanhar Hércules (Johnson) quando este já se tornou famoso por cumprir os famosos doze trabalhos, o filme apresenta o herói como um mercenário que, acompanhado por quatro guerreiros (McShane, Sewell, Berdal e Hennie) e um sobrinho (Ritchie) que se encarrega de divulgar/romantizar seus feitos, é contratado para defender o rei Cótis (Hurt) de centauros que querem destruir seu povo. Cético quanto à existência dos tais seres, Hércules aceita a tarefa em função do valor envolvido, já que a quantia permitirá que ele finalmente se aposente.
Sim, além de empregar o velho clichê do “este será meu último trabalho”, Hércules é um filme recheado de diálogos óbvios – e, em vários momentos, praticamente ouvi as falas em minha mente segundos antes de serem ditas pelos personagens (“Chegamos tarde”, “Temos você”, “Tenha fé em si mesmo.”). Sem oferecer uma única surpresa digna de nota em seus aspectos narrativos, o longa de Brett Ratner é uma daquelas experiências que parecem ter sido concebidas por um comitê: seus vilões são caricaturais, as “reviravoltas” são telegrafadas desde o princípio e os personagens parecem determinar suas ações a partir de um manual de convenções, não sendo difícil antecipar o que acontecerá quando um deles decide partir antes de uma batalha perigosa, afirmando não ter a intenção de morrer ao lado dos velhos parceiros. Da mesma maneira, o arco dramático percorrido pelo protagonista é o mais tradicional possível: se inicia a projeção como um sujeito traumatizado pelo passado e incapaz de se importar com as consequências de seus atos, ele gradualmente se torna envolvido com o drama do povo que deve ajudar e ganha a chance de confrontar antigos demônios pessoais.
A sorte, claro, é que Dwayne Johnson exibe aqui seu carisma habitual, não sendo difícil torcer por seu herói esquemático. Fisicamente imponente (seus braços parecem sempre estar prestes a explodir), o ator continua a desenvolver seu timing cômico, sendo também generoso ao dividir o tempo de tela com seus colegas de cena – o que permite que veteranos como Ian McShane protagonizem momentos divertidos que independem do astro. Por outro lado, os antagonistas jamais são desenvolvidos apropriadamente: John Hurt, um ator sempre competente, surge no piloto automático, o ótimo Peter Mullan parece perdido e Joseph Fiennes, mesmo trazendo maneirismos curiosos a Euristeus, é prejudicado por ter apenas alguns poucos minutos para provocar algum impacto.
Dirigido por um Brett Ratner que parece ter esquecido como conduzir sequências de ação e organizar a mise-en-scène de seus filmes, o maior problema de Hércules é falhar justamente naquele que deveria ser seu ponto forte: por mais que os planos gerais e aéreos que revelam as formações de batalha sejam interessantes, o filme se perde sempre que mergulha na luta entre os combatentes, quando os cortes rápidos, o design de som óbvio e a necessidade de evitar sangue em função da classificação indicativa acabam transformando os confrontos em minutos e minutos de chatice contínua. Como se não bastasse, Ratner demonstra um descaso ofensivo para com a geografia da cena: em certo instante, por exemplo, Hércules ordena que um companheiro busque os cavalos para, no instante seguinte, surgir ele mesmo comandando uma biga, o que representa um feito de teletransporte notável. Além disso, a própria estrutura do longa se revela problemática, invenstindo em flashbacks intrusivos que servem apenas para criar uma subtrama que acaba sendo resolvida de maneira trôpega, rápida e sem recompensa emocional em um clímax igualmente vazio.
Eficaz enquanto não se leva a sério, Hércules é uma brincadeira que se perde ao começar a fazê-lo.
05 de Setembro de 2014